Sobre a necessidade de uma política contundente para o turismo brasileiro
Julio Gavinho*
Reciclando algumas linhas daqui e dali, achei uns pensamentos de uns anos atrás bem atuais. O Brasil recebeu em 2014, 656.000 turistas americanos. Eles vieram ocupando cerca de 40 poltronas por dia nos vôos entre a América e o Brasil, espremidos entre 208 brasileiros em cada 767-300, 777 ou A330. São cinco brasileiros para cada americano em rotas majoritariamente “Floridas” (91 vôos por semana), mas que também incluem os hubs de Atlanta (21 semanais), Dallas (15 vôos por semana) e Houston (14 weekly flights). Este número, cerca de 1.800 americanos movimentando os aeroportos brasileiros por dia, representa 0,5% dos norte americanos que viajaram para fora do seu país segundo a revista Época. Considere que os americanos são os number two na emissão internacional de turistas atrás apenas da Alemanha e aí, se prepare para formar opinião.
Mais ou menos na mesma época (2016) a Índia recebeu pouco mais de 1.200.000 turistas americanos, com seus tênis coloridos, indefectíveis bonés e garrafas de água mineral. A água que, aliás, virou aliada e companheira de todos nós na Índia rivalizando com os curries e os masalas.
Vamos olhar mais de perto e observar que a Índia também exige e cobra por VISA de turista dos Americanos. O processo hindu leva uns dias e custa. A Índia fica longe da América, fala um inglês típico e a alimentação oferece desafios sérios aos paladares menos acostumados ao “diferente”.
Porque fazem todo este sacrifício então, os 1% de viajantes internacionais norte-americanos? Porque a Índia oferece uma experiência que não pode ser vivida em nenhum outro lugar, só na Índia. E isto têm um preço, que pago para os hindus, representou 23.000.000 de turistas em 2014, contando quase 7% do PIB do país e empregando 37.000.000 de pessoas, quase todas das castas mais baixas.
Porque então falar da Índia? Porque muitos acreditam que as dificuldades do Brasil no cenário turístico mundial se devem ao fato de estarmos longe, não falarmos inglês, o VISA ser exigido e cobrado de vários turistas estrangeiros e a nossa indigesta feijoada não ser amigável aos gringos em geral.
Vamos falar de outra coisa então. Segundo o ex-governador da Florida, Rick Scot falando para hoteleiros, operadores de receptivo, restaurantes e transportadores turísticos, em números de 2014, 97.000.000 milhões de turistas visitaram Orlando, sendo 1.500.000 de brasileiros. Vamos somar ao contrário os Britânicos, Japoneses, Canadenses, os Mexicanos e os Inca-Venusianos e chegaremos ao percentual de cerca de 85% de turistas americanos na Flórida.
Porque tantos americanos assim? Primeiro e óbvio motivo é o ineditismo. Some aí praias caribenhas, comida do sul, paraíso de compras com descontos e a Disney. Onde é que isso existe em escala mundial, daquela forma? Para completar, não precisam de passaporte, porque falam a sua língua e porque não há barreira gastronômica.
Isto talvez explique os irrisórios investimentos em publicidade da Florida em qualquer lugar que não seja a América. O cinema, séries de TV e os turistas que freqüentam toda a região anualmente fazem a propaganda que eles precisam. Pense agora que o cinema fez a nossa cabeça quanto ao nosso desejo de visitar a Índia, Paris, a Florida e Nova York. Agora pense no Brasil e constate que com o lugar mais belo do mundo nas mãos, apenas conseguimos vender nossas deficiências e dificuldades mais sérias. Não há nenhum belo VT comercial na CNN que consiga vencer o Zé Pequeno ou nosso Nacional Kid de preto, o Capitão Nascimento.
A política de turismo que precisa ser implantada inclui, é claro, um film comission atuante, publicidade e feiras internacionais, isenção de tarifas para charters, etc. Carecemos de uma ação coordenada que dê segurança e tranqüilidade para quem quer curtir um samba, dançar um forró, ou qualquer um dos atrativos de nosso país. Este não é um caso de varejo (se uma cidade ou outra é mais ou menos segura), mas sim de atacado. Precisamos que nossa imagem seja reconstruída com urgência sob pena de dependermos da balança Brasil/Argentina ou dos nossos próprios bolsos – que, aliás, já estão pagando nossa conta turística faz tempo.
Uma vez, em uma conversa com um amigo de Chicago, ele me disse: “americanos gostam de lugares com sol o tempo todo, com comida exótica e miscigenada, música hipnótica e sexy, alguma história, paisagens fulgurantes tropicais e diversidade étnica.” E eu, claro, respondi: “My friend, o Brasil é o seu lugar!” e ele me respondeu: “Não! Eu estava falando da Jamaica!” Precisamos de uma política contundente que ajude a mudar isso.
*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis, criador da marca ZiiHotel, sócio e Diretor da MTD Hospitality
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