Sobre a alta eficiência energética das máquinas brasileiras

Por Gino Paulucci Jr.*

 

Em um cenário global onde a eficiência energética se torna cada vez mais um diferencial competitivo, a indústria brasileira de máquinas se destaca por sua capacidade de inovação e adaptação. No contexto atual, marcado pela urgência de práticas sustentáveis e redução do impacto ambiental, a eficiência energética não apenas otimiza processos, mas também contribui significativamente para a redução de custos operacionais e para a melhoria da competitividade do setor no mercado internacional.

 

A eficiência energética, definida como a capacidade de realizar mais com menor consumo de energia, é fundamental para o nosso setor, onde o consumo energético representa uma parcela significativa dos custos de produção.

 

No Brasil, o consumo de energia nas indústrias corresponde a quase 40% do valor do bem produzido, com uma grande parte proveniente de fontes hidroelétricas. Embora renováveis e mais “limpas” que média mundial, essas fontes não estão totalmente isentas de impactos ambientais.

 

Por isso, é fundamental refletirmos sobre os avanços já alcançados e os desafios que persistem. As empresas brasileiras estão cada vez mais engajadas na implementação de tecnologias que garantem maior eficiência energética. Exemplos como a substituição de motores elétricos ineficientes por modelos de alta eficiência demonstram um potencial de economia significativo, podendo reduzir o consumo de energia em até 470% do valor de aquisição do equipamento ao longo de sua vida útil.

 

Contudo, apesar dos avanços, a indústria brasileira ainda enfrenta desafios substanciais para uma transição energética efetiva. A complexidade e o custo do sistema tributário brasileiro, por exemplo, são barreiras significativas para o investimento em tecnologias mais eficientes. Nesse sentido, uma reforma tributária que desonere os investimentos produtivos e incentive a inovação se torna cada vez mais importante para impulsionar ainda mais a eficiência energética no setor.

 

O apoio, por meio de políticas públicas que incluam incentivos fiscais para a adoção de tecnologias de baixo consumo energético e a implementação de padrões mínimos de eficiência, pode acelerar esse processo. É imprescindível também a continuidade e a expansão de programas como o Programa PotencializEE, importante iniciativa coordenada pelo MME (Ministério de Minas e Energia), MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, e GIZ (Agência Alemã de Cooperação Internacional), em prol da eficiência energética do setor industrial.

 

Esse programa tem como objetivo não apenas a descarbonização, mas também o fomento a um crescimento sustentável, com projeções de economizar R$ 10 bilhões e reduzir a emissão de cerca de 4,5 milhões de toneladas de CO2 até 2050.

 

Para alcançar esses objetivos ambiciosos, o programa sugere aprimoramentos no Programa de Eficiência Energética (PEE) da ANEEL, focando no desenvolvimento de projetos em pequenas e médias indústrias. Isso inclui a promoção de tecnologias de cogeração e a recuperação de calor desperdiçado, essenciais para otimizar o uso da energia térmica, que representa 80% do consumo energético industrial.

 

Por esse motivo, a integração de pequenas e médias empresas nos esforços de eficiência energética é fundamental, dado que tais empresas compõem a maioria do segmento industrial brasileiro e, muitas vezes, carecem de recursos para investir em melhorias energéticas.

 

Com isso, se faz necessário que tanto o governo quanto a indústria colaborem para superar esses obstáculos. Por meio de incentivos fiscais, programas de financiamento facilitados e suporte técnico, essas empresas, que representam uma parte importante, mas vulnerável, do nosso setor, podem levar a uma redução substancial do consumo energético, com reflexos positivos tanto econômicos quanto ambientais.

 

Essas ações são essenciais para criar um ambiente propício aos investimentos e para integrar o Brasil nas cadeias globais de valor como um fornecedor confiável e sustentável de energia e produtos industriais, alinhado com as exigências climáticas internacionais.

 

No cenário de desindustrialização verde, o país pode se beneficiar ainda do conceito de powershoring, que envolve a localização de plantas industriais em regiões com alta disponibilidade de energia limpa e custos reduzidos, melhorando a competitividade ainda contribuindo para o atingimento dos e compromissos ambientais.

 

A eficiência energética é, portanto, uma pauta que pode posicionar o país como um pilar para a competitividade industrial e a sustentabilidade econômica. No Brasil, com seu vasto potencial energético, suas fontes renováveis e sua capacidade industrial, as oportunidades para liderar em eficiência energética são imensas. Assumir essa liderança não apenas reforçará nossa posição no mercado internacional como também contribuirá para um futuro sustentável para as próximas gerações.

 

* Gino Paulucci Jr. – Engenheiro mecânico, empresário e presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ

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