Seis filmes brasileiros para promover a aprendizagem em sala de aula e valorizar a produção nacional
Dia do Cinema Nacional é oportunidade para ampliar debate sobre uso desse recurso de linguagem como ferramenta de aprendizagem
Em 19 de junho é comemorado o Dia do Cinema Nacional. A data foi escolhida em referência ao dia em que o ítalo-brasileiro Afonso Segreto – o primeiro cinegrafista e diretor do Brasil – registrou as primeiras imagens em movimento no território brasileiro, em 1898. Uma lei de autoria do então senador Cristóvão Buarque, de 2014, tornou obrigatória a exibição de filmes e audiovisuais de produção nacional nas escolas de ensino básico de todo o país por, no mínimo, duas horas mensais. Mas a inclusão de filmes nos currículos escolares não é uma novidade na educação brasileira. Ao longo dos anos, educadores, diretores e produtores de cinema debateram sobre as possibilidades de usar os filmes como um recurso pedagógico. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê a valorização das manifestações artísticas e culturais entre as 10 competências gerais da Educação Básica, destacando o cinema nas competências específicas de arte para o Ensino Fundamental 2.
De acordo com o coordenador editorial do Sistema Positivo de Ensino, Norton Nicolazzi Junior, usar filmes em sala de aula é utilizar uma linguagem com elementos específicos que precisam ser considerados com cuidado e atenção. “Trabalhar o cinema como instrumento de aprendizagem é ajudar a escola a reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos são sintetizados em uma mesma obra de arte”, afirma Nicolazzi.
Segundo o educador, introduzir a exibição de filmes nacionais no cotidiano das escolas e explorar essas produções como ferramentas para a aprendizagem podem viabilizar a identificação de professores e alunos com um cinema pouco conhecido e, muitas vezes, estigmatizado. “Nossa cultura predominante favorece o cinema hollywoodiano, o que não beneficia o cinema nacional. Promover esse encontro com as produções brasileiras abre espaço para que professores e alunos pensem juntos sobre as questões e temáticas que são abordadas e problematizadas nesses filmes”, acrescenta.
O educador fez uma lista de produções nacionais que podem ser utilizadas como ferramentas de aprendizado, tanto em sala de aula, como na programação de fim de semana, para gerar debates em família (antes de assistir, verifique a classificação indicativa).
Quanto vale ou é por quilo?
Direção de Sérgio Bianchi, 2005.
O filme traz uma análise da situação social contemporânea, fazendo relação com o passado brasileiro escravagista. “A obra possui referências muito interessantes para serem exploradas em sala de aula, uma vez que tem como base um conto de Machado de Assis”, afirma Nicolazzi Júnior. Pode ser discutido em aulas de Literatura, Geografia, História, Sociologia e Filosofia.
Narradores de Javé
Direção de Eliane Caffé, 2003.
Uma coprodução francesa, o filme se desenrola de forma cômica em uma cidade que será alagada – Javé. Os moradores se envolvem em um debate para decidir como a história da cidade será contada. “A obra pode ser explorada para trabalhar temas como patrimônio histórico e cultural ou destacar a importância e o valor das fontes históricas”, sugere o educador.
Getúlio
Direção de João Jardim, 2014.
A obra faz uma análise histórica do período final do governo Getúlio Vargas, trazendo como pano de fundo o contexto histórico da época. O foco principal é a figura histórica de Getúlio no seu segundo governo.
Nós que aqui estamos, por vós esperamos
Direção de Marcelo Masagão, 1999.
Premiado nacional e internacionalmente, é considerado um filme-memória do século XX, realizado com 95% de imagens de arquivo. É a história de pequenos e grandes personagens do século passado, com vários episódios fundamentais da história do século XX, apresentados em um roteiro que lembra Era dos Extremos, de Hobsbawm. A obra mescla artistas e esportistas, líderes políticos e militares, profissionais das mais variadas atividades e pessoas comuns em um retrato crítico do breve século XX.
O ano em que meus pais saíram de férias
Direção de Cao Hamburguer, 2006.
O filme pode gerar identificação em sala de aula devido à proximidade de idade de seu protagonista – 12 anos – com os alunos. É ambientado no bairro paulistano do Bom Retiro, tradicional reduto de imigrantes de várias etnias. A crescente urbanização e a concentração de fábricas e lojas de serviços conferiram ao Bom Retiro o rótulo de bairro operário. Até a metade do século XX, o local era muito promissor, fato que continuou atraindo levas de imigrantes, como judeus e coreanos. “Esse resumo das características do Bom Retiro ajuda a compreender parte do filme, um retrato de um momento histórico recente que dá aos alunos a oportunidade de ressignificar a História, de tirá-la daquele lugar distante, empoeirado e pouco vinculado à sua vida diária”, afirma Nicolazzi Júnior.
Guerra de Canudos
Direção de Sérgio Rezende, 2001.
Filme que aborda a história da construção e da destruição do Arraial de Canudos. O beato Antônio Conselheiro consegue arregimentar uma legião de fiéis que estabelecem no sertão da Bahia uma povoação que desperta, inicialmente, a atenção e, posteriormente, a ira da jovem República brasileira. “O filme pode ser utilizado, em algumas partes, para reforçar os esforços republicanos em consolidar o regime. Os seguidores de Conselheiro adotaram uma postura de desobediência em relação aos decretos e posturas impostos pelo governo republicano, o que, na visão dos governantes, fez de Canudos um obstáculo à consolidação republicana. Historiadores, no entanto, de maneira geral, têm dificuldades em encontrar subsídios que atestem ser Canudos uma verdadeira ameaça à República”, ressalta o educador. Segundo ele, algumas passagens do filme também podem ser úteis para mostrar a violência – que foi uma característica tanto dos seguidores de Antonio Conselheiro, como das tropas republicanas.