“Seis em cada dez alunos do 8º ano do Fundamental não compreendem o básico das equações”, destaca especialista sobre a pesquisa internacional TIMSS

  • Fernanda Seidel, gerente de Pesquisa e Prospecção do Itaú Social, formada pela FEA-USP e com parte de sua graduação realizada na Sciences Po de Paris, com ênfase em Ciência Política, analisa resultado do estudo de desempenho em matemática
  • Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências (TIMSS) aponta Brasil em última posição no ranking global
  • Confira histórias de professores que desenvolvem projetos pedagógicos criativos de matemática

No dia 04 de dezembro, quarta-feira, foi divulgado o resultado do TIMSS – Trends in International Mathematics and Science Study (Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências), uma pesquisa internacional que avalia o desempenho em matemática dos estudantes do 4º e 8º anos do Ensino Fundamental. Essa é a primeira vez que o Brasil participa do relatório, que tem a presença de cerca de 70 países.

“É preocupante que seis em cada dez alunos brasileiros do 8º ano do Ensino Fundamental não compreendam o básico das equações. Outro ponto de atenção é identificar que o desafio da aprendizagem da matemática começa logo nos primeiros anos da educação básica. Mesmo refletindo um resultado esperado, é alarmante ver o quão distante o Brasil está da média global”, diz Fernanda Seidel, gerente de Pesquisa e Prospecção do Itaú Social.

O estudo mostrou que os alunos brasileiros do 8º ano estão na última posição do ranking global, empatados com os marroquinos. Nesse grupo, 62% deles estão abaixo do mínimo desejado, o que significa que não conseguem realizar contas de adição ou subtração quando há números de mais de três dígitos.

“É urgente investir em diferentes formas de garantir a aprendizagem da matemática com equidade. Qualificar o trabalho docente, o acompanhamento pedagógico, ampliar a educação integral em tempo integral e investir em abordagens pedagógicas inovadoras, como as STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática). São estratégias que podem garantir bons resultados e apontar um caminho para avançarmos na educação de qualidade, sempre considerando a necessidade de enfrentamento das desigualdades de gênero e raça/etnia na aprendizagem dos alunos”, avalia Fernanda.

Fernanda Seidel Oliveira – Gerente de Avaliação e Prospecção

Graduada em Economia pela FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo) e mestre pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), com pesquisa focada nas relações entre gênero e mercado de trabalho. Realizou parte de sua graduação na Sciences Po (Paris), com ênfase em Ciência Política, e foi vencedora da Competição de Política Econômica – FEA-USP/BID. Como trainee de Gestão Pública, atuou no Sistema de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas do Espírito Santo, uma iniciativa pioneira entre os governos estaduais.

Importância da Matemática

Dados da pesquisa “Contribuição dos Trabalhos Intensivos em Matemática para a Economia Brasileira”, realizada pelo Itaú Social e Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), mostram que profissões ligadas à matemática oferecem salários 119% superiores à média. Contudo, apenas 31% dessas vagas são ocupadas por mulheres e 36% por pessoas negras.

Sugestão de personagens sobre o tema

Ensino de matemática por meio de jogos melhora desempenho dos estudantes

Edjane Pereira da Costa Mello

Professora de matemática de Itapevi (SP)

Ensinar matemática de maneira divertida e lúdica foi a opção adotada pela professora Edjane, da Escola Maestro Heitor Villa Lobos. Logo nos primeiros meses utilizando jogos de conta, como a mancala (brincadeira de tabuleiro com captura de peças do adversário), ela notou um maior interesse dos alunos com a disciplina. Um deles, Richard Afonso, tinha dificuldade em participar das aulas, e tornou-se o mais dedicado aos estudos após a iniciativa, conquistando prêmios em concursos escolares, como o segundo lugar no campeonato Jogomat (Jogos Matemáticos), realizado pela USP (Universidade de São Paulo) em 2021.

Professora investe em projeto que relaciona o ensino da matemática às manifestações negras

Cristiane Coppe de Oliveira

Professora de matemática de Uberlândia (MG)

Como forma de aproximar a matemática do cotidiano dos estudantes, a professora Cristiane Coppe desenvolveu um curso para outros docentes sobre como abordar a disciplina, valorizando a cultura local e as relações raciais. O conteúdo teve apoio do Itaú Social e do Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades) e é inspirado no método Modelagem Matemática, que destaca a cultura negra, contribuindo para estimular os alunos no desenvolvimento do pensamento crítico, da autonomia e da participação ativa das atividades em sala de aula.

Abordagem mostra que errar é uma oportunidade de aprender matemática

Ione Clarice – MG

Professora de matemática do 5º ano e supervisora do 9º ano da rede municipal de Vespasiano (MG)

A professora Ione Clarice é uma das docentes que participa do “Mentalidades Matemáticas”, desenvolvido no município de Vespasiano (MG). A abordagem incentiva que alunos superem o medo de errar por meio de um ambiente seguro e com dinâmicas que vão além das fórmulas, envolvendo jogos e conversas, tornando a experiência em sala de aula mais divertida.

Mãe destaca importância do ensino da matemática inovadora e inclusiva

Roberta Gledsa

Mãe do estudante João, de Vespasiano (MG)

O acolhimento de estudantes com deficiência é um desafio histórico que as unidades de ensino lidam no cotidiano. “Eu já pensei várias vezes em tirar meu filho da escola”, diz Roberta Gledsa, mãe de João, estudante de dez anos diagnosticado com AMC (artrogripose múltipla congênita). Sua permanência foi garantida por meio de iniciativas pedagógicas que o acolheram, como a abordagem “Mentalidades Matemáticas”, que promove o ensino de forma criativa e valoriza as diferentes maneiras de pensar a disciplina. “Antes, o João tinha medo de matemática. Porém, nas primeiras aulas ele compreendeu que havia infinitas possibilidades para aprender a disciplina. Isso trouxe a ele outra visão e despertou o interesse pela matéria”, ressalta Roberta.

Professora utiliza elementos da comunidade quilombola para ensinar matemática

Claudiceia Celeste da Silva

Professora de matemática de Nossa Senhora do Livramento (MT)

A matemática também pode ser usada como ferramenta de valorização da cultura negra e dos povos originários. Na comunidade quilombola Mata Cavalo, localizada em Nossa Senhora do Livramento (MT), a professora Claudicéia Celeste da Silva decidiu utilizar os costumes do território para ensinar a disciplina aos estudantes. Essa experiência considerou tudo que poderia ser transformado em números, desde a quantidade de moradores, a culinária local, as gravuras étnicas e as casas de barro.

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