Projeto vai desenvolver agricultura familiar em municípios do Baixo São Francisco
A cooperação entre a Embrapa Semiárido e Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) fez chegar um conjunto de inovações tecnológicas a milhares de pequenos agricultores. Nas propriedades de muito deles, atividades que apenas lhes garantiam a subsistência, adquiriram nova dinâmica produtiva e passaram a gerar volumes de renda que repercutem na qualidade da vida das suas famílias e comunidades rurais.
Um impacto que as duas instituições, mais o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pretendem promover em 12 municípios dos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe, localizados no entorno das Barragens do Complexo de Paulo Afonso e das Usinas Hidrelétricas de Itaparica e Xingó. Com este objetivo e integrados às prefeituras, órgãos dos governos estaduais e entidades da sociedade civil vão executar até abril de 2022 o projeto “Ações de desenvolvimento para produtores agropecuários e estudantes dos Lagos do São Francisco”.
Diversidade – De acordo com Rebert Coelho Correia, pesquisador da Embrapa Semiárido, com estratégias de responsabilidade social aliada a metodologias de construção de conhecimentos e de transferência de tecnologias, o projeto, que possui 10 planos de ação, tem posto em operação uma rede de instituições públicas e organizações da sociedade civil para alcançar metas como a formação e capacitação de, no mínimo, 4 mil agricultores, técnicos e estudantes de escolas rurais.
A área de atuação se estenderá por Pariconha, Olho D’Água do Casado, Delmiro Gouveia e Piranhas, em Alagoas; Paulo Afonso, Rodelas e Glória, na Bahia; Petrolândia e Jatobá, em Pernambuco; e Canindé do São Francisco, Poço Redondo e Nossa Senhora da Glória, em Sergipe.
“A quantidade de planos reflete a diversidade agrícola, econômica e ambiental da região”, explica. Os pesquisadores, professores e técnicos que compõem as equipes dos planos de ação já enfrentam o desafio de elevar as produtividades da olericultura (cebola, tomate e melancia), bovinocultura (leite e carne), caprinovinocultura, avicultura, apicultura, fruticultura de sequeiro (umbu e maracujá, principalmente), e dos cultivos alimentares (milho, feijão e mandioca).
A atuação é estendida à fruticultura irrigada (manga, goiaba, coco, banana e citros), à recuperação de mata ciliar do rio São Francisco e ao beneficiamento de produtos da agricultura familiar (leite e frutas).
Assertividade – A execução do projeto tem avançado com visitas dos profissionais dessas equipes a comunidades, propriedades e escolas rurais para avaliação, junto com agricultores e gestores, oportunidades econômicas e apoio técnico ao estabelecimento de sistemas agrícolas produtivos e sustentáveis.
Segundo o pesquisador da Embrapa que, também, coordena a execução do projeto, este é um “método que dá maior assertividade a atuação das equipes e ajuda a compor objetivos comuns com os agricultores e as instituições que atuam para fomentar o desenvolvimento rural”. Ele já foi experimentado em outros dois projetos executados junto com a Chesf – “Ações de desenvolvimento para produtores agropecuários e pescadores do território do entorno da Barragem de Sobradinho-BA”, Casa Nova, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé e Sobradinho; e o “Eólicas de Casa Nova” – “com resultados muito satisfatórios”, assegura.
Por um lado, explica, já existe um conjunto de conhecimentos técnicos e tecnológicos que permite responder de forma rápida às demandas dos agricultores. Um exemplo, relata, foi a providência que adotaram diante da elevada carência de forrageiras que diagnosticaram na região. De forma rápida, destinaram cerca de 60 mil raquetes de palma (Orelha de Elefante) e mais de 10.000 mudas de gliricídia.
“Com as mudas e a doação de outras 70.000 sementes dessa planta, que fizemos ao longo do ano passado, as plantas já puderam ser cortadas e armazenadas na forma de silagem. Os agricultores têm um importante alimento para dieta dos seus rebanhos no período seco”, afirma Rebert.
Em outra iniciativa, foram distribuídas cerca de 10 toneladas de sementes de feijão (Marfin), milho (Gorotuba) e sorgo (Ponta Negra). Trata-se de cultivares frutos de pesquisa da Embrapa e adaptada ao ambiente quente e seco do semiárido nordestino.
Alternativas – Por outro lado, o foco em formação e capacitação irá implementar processos que aproximam a participação da inovação. Isto, “em boa medida”, vai acontecer em torno de pequenas áreas de demonstração ou de experimentação técnica, os chamados Campos de Aprendizagem Tecnológica (CATs). Na localização desses campos estão envolvidos os órgãos de assistência técnica e de desenvolvimento, “sob um critério fundamental: “devem ficar sob a responsabilidade de agricultores ou de entidades com perfil agregador e multiplicador”, confirma o pesquisador.
O projeto Lagos do São Francisco irá fomentar a apropriação de alternativas tecnológicas, valorizar os recursos naturais e o empreendedorismo. por meio de um arranjo institucional local e interestadual que envolve Prefeituras Municipais e organizações da sociedade civil no território do Médio São Francisco.
O arranjo ainda terá a participação do Instituto de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas (Emater-AL), da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicutura (BA), da Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca (SE), da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), de Cooperativas, Associações e Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Agricultores Familiares dos 12 municípios.
Do mesmo modo será a presença de gestores, professores e técnicos do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB) e da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) na equipe dos Planos de Ação.
Embrapa Semiárido