Pesquisadores registram nova população de muriquis-do-sul na Mata Atlântica
Também conhecido como mono-carvoeiro, primata convive com permanente risco de extinção
Uma nova população de muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides), conhecido também como mono-carvoeiro, foi registrada em julho na região do Vale do Ribeira, no Paraná, que concentra parte dos remanescentes de Mata Atlântica. A descoberta foi feita pelos pesquisadores do Lactec – Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento.
“Essa é uma notícia extremamente importante para a conservação da espécie e para a primatologia brasileira, uma vez que está criticamente ameaçada de extinção”, comemora o biólogo Robson Odeli Espíndola Hack, coordenador do projeto.
O muriqui-do-sul é o maior primata das Américas. Vive exclusivamente na Mata Atlântica (espécie endêmica) e é um grande dispersor de sementes, o que contribui para a preservação da floresta. Sua população atual é estimada em apenas 1.300 indivíduos, conforme informações da Lista de Espécies Ameaçadas do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Natureza). Devido às pressões causadas pela ação do homem, como perda de habitat e caça, há décadas a espécie convive com o risco de desaparecer da natureza.
“No Paraná, são conhecidos atualmente menos de 50 indivíduos em vida livre e desde junho de 2016 não se tinha conhecimento, pela ciência, de uma nova localidade com ocorrência documentada da espécie”, conta Hack. “Entretanto, a preservação dessa população depende de condições adequadas ao seu habitat”, aponta.
A descoberta é resultado do Projeto de Conservação dos Monos no Paraná, que o Lactec desenvolve desde 2015, inicialmente com apoio da Fundação Grupo Boticário, e, mais recentemente, com a parceria da Copel Geração e Transmissão. A concessionária instituiu um Programa de Monitoramento Demográfico e Genético do Muriqui-do-Sul e os estudos são realizados pelos pesquisadores da área de Meio Ambiente do Lactec. “As ações em parceria têm viabilizado a coleta de valiosas informações ecológicas sobre demografia e genética da espécie e seus habitats, além do trabalho de investigação de novas populações e desenvolvimento de atividades de educação ambiental”, explica o biólogo.
“Resultados como este mostram com clareza como valem a pena esforços integrados para a conservação da natureza. A população do muriqui necessita de um ambiente apropriado para acolher indivíduos desse porte, capaz de oferecer alimento e abrigo adequados. Por isso, se queremos que esta e outras populações da fauna da Mata Atlântica sejam preservadas, é imprescindível que sejam mantidas e ampliadas as ações de restauração dos seus habitats”, afirma o coordenador de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Robson Capretz.
“Esse excelente resultado reforça a relevância técnica e ambiental dos estudos financiados pela Copel durante o licenciamento dos empreendimentos de geração e transmissão de energia”, afirma a gerente do Departamento de Monitoramento, Manejo e Controle Ambiental da Copel Geração e Transmissão, Fernanda de Oliveira Starepravo Ferrari. A pesquisa sobre muriqui-do-sul integra as ações de licenciamento da Linha de Transmissão 230 kV Bateia-Jaguariaíva junto ao Instituto Água e Terra (IAT).
Próximos passos
O biólogo Robson Hack explica que além do monitoramento demográfico dessa nova população, as atividades de educação ambiental junto aos moradores da região deverão ser intensificadas. “Para que as áreas de floresta nativa sejam mantidas e as pressões antrópicas sobre a espécie sejam minimizadas, é importante que os moradores locais reconheçam o valor destes animais raros para a natureza e para a região em que vivem. Assim, haverá um maior engajamento com o projeto nas ações futuras, que poderão ser desenvolvidas em conjunto com a população”, acrescenta o biólogo.
Ele destaca que a ajuda dos moradores da região tem sido fundamental para o projeto, pois fornecem informações sobre o avistamento dos animais e seu comportamento.
Hack é especialista em mamíferos silvestres e, além de coordenar o projeto, é colaborador do Plano Ação Nacional para a Conservação dos Primatas da Mata Atlântica e da Preguiça-de-coleira coordenado pelo ICMBio.
Oportunidades econômicas com a conservação
A conservação da espécie é um exemplo de como a preservação da natureza é importante aliada para o desenvolvimento econômico. A atividade de comercialização de madeira de reflorestamentos de pinus e eucalipto, que é predominante na região, associada a ações de conservação da espécie, pode beneficiar os processos de certificação florestal das empresas locais, agregando valor à madeira e abrindo novas oportunidades de negócio no mercado nacional e internacional.
“Essa descoberta pode abrir oportunidades de negócios sustentáveis para os produtores rurais da região, pois, por meio do desenvolvimento de projetos de agricultura familiar e da criação de um selo de boas práticas de manejo da terra e de conservação da espécie, seus produtos ganham reconhecimento e valor agregado”, apontou Hack.
Outra oportunidade para geração de renda para a população local é o desenvolvimento ordenado de atividades de ecoturismo para observação dessa espécie rara e das belezas naturais existentes na região. “Além disso, e não menos importante, há os projetos de pagamentos por serviços ambientais, que por meio da restauração de habitats essenciais para espécie, poderão gerar uma fonte alternativa de renda para os moradores locais. Esses são apenas alguns dos vários exemplos de como a conservação de uma raridade biológica pode favorecer a realização de negócios e auxiliar o desenvolvimento sustentável da região”, salienta Hack.
Crédito das fotos: Robson Hack/Lactec