Participação cidadã é fundamental para a Sociedade 5.0

Especialista debate como as cidades constroem uma relação direta com a população a partir dos poderes municipal, estadual e federal

A democracia digital e a participação cidadã são fundamentais na construção da chamada Sociedade 5.0. É o que defende o arquiteto, urbanista e consultor Caio Vassão, pesquisador e coordenador do grupo Cenários Urbanos Futuros da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).

“O debate sobre como as cidades constroem uma relação direta com a população leva em consideração os poderes municipal, estadual e federal. E também parte da desburocratização e da transparência como diretrizes essenciais para se construir governos abertos e ágeis na resolução de problemas e atendimento à população, em especial às pessoas com mais necessidades sociais”, afirma Vassão, que é professor do módulo “Sociedade 5.0” no curso Smart City Expert.

Profissionais da Sociedade 5.0

Segundo o especialista, existe uma barreira de geração e de carreiras que limita o acesso dos profissionais a colaborarem com a Sociedade 5.0 “Defendemos no urbanismo colaborativo que o que se imagina numa Sociedade 5.0 passa pelo aspecto democrático. Uma sociedade liderada pelo povo. E é importante que a sociedade implemente uma cultura colaborativa. Alguns profissionais se sobressaem nesse cenário, apesar de todos os profissionais poderem aderir. Pessoas com origem no teatro, na música, nas artes, se destacam muito pelo diálogo e trabalho em equipe. Mas arquitetos, engenheiros, profissionais urbanos, enfim, qualquer um pode liderar esses processos, se estiver disposto a entender essas técnicas, exercitá-las e aprender no processo”, explica Vassão, que coordena projetos de inovação e transformação organizacional, com abordagem do metadesign para processos de transformação cultural e urbana.

Outro ponto importante é aprender as coisas enquanto elas acontecem. “Não separar mais o projeto da execução, a teoria da prática, esse gap precisa ser diminuído. Faz parte do conceito de prototipação, colocar a mão na massa, sempre em experimentação, o que os programadores chamam de beta. Os sandbox permitem esse processo experimental, tem que ser com o público, com a sociedade, de forma participativa. Não adianta fazer em laboratório”, defende.

Processo participativo

As principais ferramentas para iniciar o processo participativo, segundo Vassão, são humanas, começando pelo diálogo. “Tanto aquele diálogo informal prosaico, da fofoca entre duas ou mais pessoas, até as assembleias que formalizam a participação dos presentes em falas, votações e debates. Mas entre a fofoca e a assembleia, existem dezenas de ferramentas humanas para se dialogar.”

No contexto digital, as formas de comunicação mudam. Para o especialista, a questão a ser debatida é se o público estaria preparado para participar mais ativamente da democracia cidadã, ou se seria mais facilmente manipulável. “Conseguimos acessar milhares de pessoas instantaneamente com nosso celular. Quando isso começou, há 15 anos, todo mundo pensou que seria a grande ágora digital, a internet possibilitando a participação cidadã o tempo todo, que seria um sonho se tornando realidade. Mas ninguém imaginava que as redes sociais influenciariam as eleições. E o sonho continua: por exemplo, podemos ter uma votação por celular em enquetes nacionais, plebiscitos, com digital cadastrada. O debate seria sobre como informar a população sobre esse processo de forma eficiente, mas sem controlar a pauta”, pontua.

Por fim, Vassão observa que, ao se falar sobre participação cidadã e democracia digital, é preciso esclarecer que democracia não é sinônimo de eleição. “Democracia é o governo feito pelo povo, pela sociedade, que pode ter outras ferramentas de participação que não sejam eleições. E nisso entra o diálogo, o engajamento cidadão. Muitas vezes o encaminhamento e a construção são mais importantes que a escolha em si.”

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