Os 298 anos de Fortaleza: A Loura desposada do Sol
A história de Fortaleza remonta ao período colonial
• O início foi a vila São José de Ribamar do Aquiraz • Os primeiros logradouros • O prefeito Boticário Ferreira • Dragão do Mar e o embarque de escravos •Fortaleza elevada a capital • O nome “Fortaleza” originado do Forte Schoonenborch • A chegada de Jesuitas • O porto e o comércio dos escravos • O advento da telefonia na cidade • Fortaleza nas canções de menestréis
Por: Zelito Magalhães
Em 1637, tentaram os holandeses colonizar o Ceará e chegaram a dominar a região praieira, tomando aos portugueses, o Forte de São Sebastião, construído por Martim Soares Moreno, em 1612, na Barra do Ceará, então denominada de Vila-Velha. Mas em 1644 foram totalmente sacrificados pelos índios Tabajara, Kanindé, Kariri, Pitaguary e Tapeba. Em 1649, apareceram os flamengos com a intenção de explorar minérios e fixar-se. Foi chefe da expedição marítima o comandante Matias Beck, que não mais quis localizar o centro das províncias exploradoras naquela barra, já difícil às entradas de navios, preferindo localizar-se na foz do pequeno rio, distante dez quilômetros daquele primeiro, e que veio a ser conhecido por Marajaik e depois Pajeú. A partir de 10 de abril de 1649, foi ali criada a fortificação que recebeu o nome de Forte Schoonenborch, que permaneceu até 1654, quando, a 20 de maio, teve de entregá-lo aos lusitanos, vitoriosos nas lutas de Pernambuco. No local os portugueses ergueram uma capela sob a égide de mística de Nossa Senhora da Assunção – também sede dos Capitães-mores Governadores. O município de Fortaleza data da Ordem régia de 11 de março de 1725 e foi inaugurado a 13 de abril de 1726 pelo Capitão-mor Manuel Francês. O povoado tomou o nome de Vila da Fortaleza de N. Senhora da Assunção, que foi elevada à categoria de cidade da Fortaleza da Nova Bragança, pela Ordem imperial de 17 de março de 1823. O nome “Fortaleza” originou-se da construção daquele forte, cujo objetivo era proteger a área de invasões estrangeiras e ataques de piratas.
A Vila S. José de Ribamar do Aquiraz
Na ordem cronológica, Aquiraz foi criado pela Ordem régia de 13 de fevereiro de 1699 e instalado em 1700, na sua primeira sede – o núcleo de Fortaleza. Em 1701, transfere-se a sede para a Barra do Ceará, lugar então denominado Vila-Velha, mas volta para Fortaleza em 1708. Ainda naquele ano, a sede é mudada para a Barra do Ceará, porém volta para Fortaleza em 1708. A Ordem régia de 30 de janeiro de 1711, executada em 1713, mandou transferir a sede da Vila de Fortaleza para Aquiraz, onde então permaneceu até 1725. Então, passou Fortaleza a ser cabeça de Comarca. No mesmo local das ruínas do Forte da Assunção, foram lançados os alicerces da hoje velha Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. A pedra fundamental foi colocada no dia 12 de outubro de 1812. Em 1847, a Fortaleza passou por remodelações; em 1857, foi classificada de segunda classe e, em 1910, desarmada, restando agora como simples monumento.
Elevação à categoria de cidade
Em 1823, quando de sua elevação à categoria de cidade, Fortaleza era ainda um aglomerado humano sem maior importância, menor que outras Vilas da Província, como Icó, Crato e Sobral. Anos após a atuação de Silva Paulet, teve a cidade novamente a ventura de ver dirigir-lhe os destinos um homem de envergadura moral superior – o Boticário Antônio Rodrigues Ferreira, “o político que mais legitima, benéfica, extensa, desinteressada e exemplar influência exerceu na política conservadora do Ceará”.
O Boticário Ferreira
Antonio Rodrigues Ferreira de Macedo, nasceu em 1804, na Vila Real da Praia Grande, atual Niterói, RJ. Mudou-se para Fortaleza em 1825, a pedido do Cônsul português no Ceará, Manuel Caetano de Gouveia. Como farmacêutico, estabeleceu-se na antiga Praça Feira Nova (depois Praça do Ferreira). Foi eleito vereador da Câmara de Fortaleza, exerceu o cargo em dois mandatos – de 1843 a 1849 e de 1850 a 1859. Durante os dezesseis anos de sua administração, preocupou-se sempre em aplicar o seu prestígio político e a ação de seu cargo no aformoseamento da capital. Faleceu em Fortaleza no dia 29 de abril de 1859, aos 55 anos de idade. Em homenagem â memória desse grande benemérito, a Câmara denominou de Praça do Ferreira à antiga Praça Feira Nova. A Câmara Municipal de Fortaleza concede periodicamente a personalidades a outorga da Medalha Boticário Ferreira.
A economia da região
Durante os séculos XVIII e XIX, a economia da região baseou-se principalmente na agricultura. A cidade também se destacou como um importante porto para o comércio de escravos africanos que contribuiu significativamente para sua economia.No século XIX, com o declínio da economia açucareira e abolição da escravatura, Fortaleza passou por uma transformação econômica. A produção do algodão e a exportação de produtos agrícolas ganharam destaque, enquanto novos setores começaram a se desenvolver.
O crescimento populacional
No século XX, Fortaleza experimentou um rápido crescimento populacional e urbano e se tornou um importante centro comercial, cultural e turístico do nordeste brasileiro. Hoje, Fortaleza é uma cidade cosmopolita, conhecida pelas suas belas praias, rica cultura gastronômica, além de um povo acolhedor.
A chegada de Jesuitas
Em 1607 chegaram ao Ceará os padres Jesuitas Francisco Pinto e Luiz Figueira, fazendo o mesmo itinerário de Pero Coelho de Sousa. Os padres eram acompanhados por 60 índios que rezavam o terço, cantavam a ladainha e recitavam o ofício de Nossa Senhora. Em pouco tempo, fizeram amizade com índios e caciques de outras tribos
No dia 11 de janeiro de 1608, pela manhã, no alto da serra da Ibiapaba, o grupo foi brutalmente atacado a toros de pau pelos índios Tapuias. Esse ataque resultou na morte de muitos, inclusive do padre Francisco Pinto. O vigário foi enterrado no pé da serra. Sua memória é lembrada com a denominação de ruas em dois bairros de Fortaleza: Gentilândia e Vila Velha no dia 10 de janeiro deste 2024, foi celebrada missa na Catedral de Sant’Ana em Tianguá, alusiva aos 415 anos do martírio do Pe. Francisco Pinto,SJ.
O Cais do Porto
A estruturação do Cais do Porto de Fortaleza se deu com a chegada do navegador espanhol Vicente Pinzón, em janeiro de 1500, no que pode ter sido o desembarque do primeiro europeu no Brasil (três meses antes de Cabral) e portanto o grande marco inicial O mulato jangadeiro Francisco José do Nascimento, nascido em Canoa Quebrada (Aracati) no dia 15 de abril de 1839, torna-se catraieiro (condutor de botes); trabalha na construção do Porto de Fortaleza, depois prático da Capitania dos Portos. Recebeu o cognome de Dragão do Mar. Na libertação dos escravos no Ceará, liderou em 1881 o movimento de recusa ao transporte de negros escravizados que seriam levados para outras províncias.
Os antigos logradouros
Registros da história de Fortaleza dão conta de que a primeira viela de Fortaleza é a Rua do Rosário, que foi aberta ao lado da Igreja Nossa Senhora do Rosário. Inicialmente, foi ali erguida, em 1730, uma capelinha de taipa e palha por um preto africano. Ali os negros rezavam terços e novenas. Seu nome figurava em um termo de vereação lavrado em 30 de setembro de 1794.Aos fundos, a Praça General Tibúrcio, ou popularmente chamada Praça dos Leões, foi instalada no dia dois de fevereiro de 1887, na presidência de Inácio Correa de Vasconcelos. Em homenagem ao cearense que havia participado da guerra do Paraguai, foi erigida naquela data uma estátua em sua homenagem.
Passeio Público
Ao longo dos anos, o logradouro recebeu vários nomes: Campo da Pólvora, Largo de Fortaleza, Largo do Paiol, Largo do Hospital da Caridade, Praça da Misericórdia (por ficar ao lado da Santa Casa de Misericórdia). A partir de 1879, Praça dos Mártires, por ter sido palco da execução pública de revolucionários da Confederação do Equador, dentre esses, Padre Mororó, Carapinima, Azevedo Bolão, Padre Ibiapina e Pessoa Anta. Assim, a oficial Praça dos Mártires, mais conhecida por Passeio Público é a mais antiga de Fortaleza.
Praça da Estação
O local onde hoje está situada a Praça da Estação ou Praça Castro Carreira, era conhecida no século XIX um campo onde as tropas coloniais e imperiais treinavam milícias e praticavam esportes e torneios hípicos de argolinhas. Em 1830, numa homenagem à imperatriz Amélia de Leuchtemberg, esposa de Dom Pedro I, o logradouro passou a ser chamado de Campo da Amélia, Em 1871, tem início a construção da Estrada de Ferro de Baturité e a chegada da primeira locomotiva da estrada de ferro é batizada de Fortaleza. Até hoje, o logradouro é conhecido como Praça da Estação.
Praça da Lagoinha
No século XIX, havia no local havia um espaço de areia, sem nome e sem urbanização. Em 1850 foi cavada uma cacimba forrada de aduelas de madeira se estendiam pelo Trilho de Ferro, hoje Tristão Gonçalves; foi mandado colocar um cata-vento e uma caixa dágua para abastecimento das locomotivas. Também recebeu em 1891 o nome de Comendador Teodorico, na gestão do prefeito Álvaro Weyne em 1928/1930. A partir de 1965, quando passou a ser chamada de Praça Capistrano de Abreu, em homenagem ao historiador cearense.
Confúcio Pamplona e a telefonia
Confúcio Pamplona, espírito irrequieto de comerciante em Fortaleza, em luta titânica, concebe, no ano de 189, a concessão do sistema de telefonia dos EUA.
Segundo o Barão de Studart, a inauguração da primeira linha telefônica foi assentada entre o estabelecimento comercial de Confúcio Pamplona à Rua Major Facundo, número 59 e a casa de Joaquim José de Farias, no Largo da Alfândega (Dragão do Mar). O funcionamento foi inaugurado pelo então governador do Estado, General José Clarindo de Queiroz. A Direção e a Estação Central eram localizadas na Praça do Ferreira número 35. A rede telefônica servia a 16 locais da cidade: 1 Praça Castro Carreira (Estação) 2 Cemitério Público 3 Jacarecanga 4 Lagoa Seca (curtumes) 5 Alagadiço (estrada de Soure-Caucaia) 6 Praça São Sebastião 7 Pelotas 8 Benfica 9 Estação de bondes (Joaquim Távora) 10 Tauape (Cláudio Oliveira) 11Aldeota (Santa Ester) 12 Prainha 13 Alfândega 14 Matadouro Público 15 Praça Benjamin Constant (Pici) e 16 Praia (Arsenal)
Fortaleza nas canções dos Menestréis
O Cancioneiro da Cidade de Fortaleza registra os menestréis que decantaram sua
terra em versos magistrais. Paula Ney (natural de Aracati) é o autor do soneto
Fortaleza
Ao longe, em brancas praias, embalada
Pelas ondas azuis dos verdes mares
A Fortaleza – a loura desposada
Do sol – dormita à sombra dos palmares.
Loura de sol e branca de luares
Como uma hóstia de luz cristalizada
Entre verbenas e jardins pousada
Na brancura de místicos altares.
Lá canta em cada ramo um passarinho…
Há pipilos de amor em cada ninho
Na solidão dos vastos matagais.
É minha terra – a terra de Iracema
O decantado e esplêndido poema
De alegria e beleza universais.
Soneto 2. – Para o chafariz da Vila de Fortaleza
A primeira composição que se conheceu na literatura cearense, de autoria do poeta José Pacheco Spinoza, nascido na Ilha da Madeira (Portugal) em data ignorada, vindo a falecer em dezembro de 1814. Foi comerciante em Fortaleza. Segundo o Barão de Studart, foi “dos poetas de maior nomeada que teve o Ceará no começo do século passado”.
Este que vês, curioso passageiro
Límpida Fonte, clara sussurrante
De cristalinas águas abundante
Que o Sítio faz ameno, e lisonjeiro.
Este manancial de água, o primeiro
Que fez surgir na Vila arte prestante
Para a sede saciar o caminhante
O sábio, o nobre, o rico, o jornaleiro.
Edificada foi incontinenti
No memorável, ótimo governo
De Sampaio, Varão reto, ciente.
Como ao povo mostrar amor Paterno
Para todo o seu bem foi diligente
Nesta fonte deixou seu nome eterno.
Fortaleza
Raimundo Varão
Lá, sob um claro céu de azul-turqueza
Onde o Sol seu tesouro em luz descerra
Lá fulge a lendária Fortaleza
Como um raro brilhante sobre a Terra.
Como um sacro penhor da Natureza
Como um beijo auroral que a vida encerra
Longínqua e bela – a lânguida princesa
Arfando o peito, geme e os olhos cerra.
Porque nos batem temporais medonhos
E tivemos no mundo a mesma sorte
Ó casta Fortaleza – dos meus sonhos,
Meu derradeiro e desvelado anseio
É ter a paz na comunhão da Morte
Dormindo a sete palmos do teu seio…
Fortaleza
Adauto Gondim
Quando os meus olhos deslumbrantes ponho
Sobre tuas ruas com ternura e anseio
Meu coração de poeta, antes bisonho
Palpita e se extasia em devaneio.
É que tuas filhas vistas como em sonho
Azul de Fadas, num divino enleio
São pedaços do sol num céu risonho
São estrelas que saísse a passeio…
Cidade feiticeira de soares
Moreno que te deu vida e beleza
Com esse adorno das coisas milenares.
Como eu te quero ó! Linda Fortaleza
Filha do sol, com ares de princesa
No embalo eterno dos teus verdes mares.
Fortaleza
Sidney Netto
Quando a manhã em chama toda acesa
Abre a corola ao sol como uma flor
Enorme – azul e oiro – Fortaleza
Desperta para a vida. Que esplendor!
E um cântico de glória à áurea princesa
Vibra dos altos céus, deslumbrador.
É uma oferta da luz para a Beleza
Um delírio de aroma para o amor.
Trabalha e canta o dia todo. À tarde,
Quando o sol, no horizonte, em brasas, arde
Espera a paz da Noite. E ao rosicler.
Vai ficando mais bela para o sono
Nessa atitude mansa de abandono
Num sedutor sorriso de mulher.
Ode a Fortaleza
Zelito Magalhães
Ao longe, muito além daqueles mares
Bravios, a formosa Fortaleza
Dormita sob os místicos luares
Ostentando o encanto de princesa.
No farfalhar de cantos singulares
Os coqueiros recordam a tristeza
De Moreno a retornar a seus ares
Levando saudoso tanta beleza…
É lá onde, em bando voam as jandaias
Encantando o entardecer nas praias
Inspiração de Alencar no Poema.
A brancura daquela fina areia
Que as vagas espumantes semeia
Lembra os momentos ternos de Iracema.
Hino de Fortaleza
Letra: Gustavo Barroso
Música: Antonio Gondim.
O Hino do Município de Fortaleza foi oficializado pela lei 1269, em 31 de maio de 1958. Foi executado pela primeira vez no encerramento da semana de comemoração do centenário do romance “O Guarani”, na noite de 16 de novembro de 1957, no Theatro José de Alencar.
A letra: Junto à sombra dos muros do forte / A pequena semente nasceu/ Emredor,
Para a glória do Norte/ A cidade sorrindo nasceu. No esplendor da manhã cristalina/ Tens as bênçãos dos céus que são teus/ E das ondas que o sol ilumina/ As jangadas te dizem adeus. Estribilho: Fortaleza! Fortaleza! / Irmã do Sol e do mar/ Fortaleza! Fortaleza. / Sempre havemos de te amar. O emplumado e virente coqueiro/ Da alva luz do luar colhe a flor/ A Iracema lembrando o guerreiro/ De sua alma de virgem senhor. Canta o mar nas areias ardentes/ Dos teus bravos eternas canções/ Jangadeiros, caboclos valentes/ Dos escravos partindo os grilhões.
Estribilho: Fortaleza! Fortaleza! Irmão do Sol e do mar… Ao calor do teu sol ofuscante/ Os meninos se tornam viris/ A velhice se mostra pujante/ As mulheres formosas, gentis. Nesta terra de luz e de vida/ De estiagem por vezes hostil/ Pela Mãe de Jesus protegida/ Fortaleza, és a flor do Brasil. Onde quer que teus filhos estejam/ Na pobreza ou riqueza sem par/ Com amor e saudade desejam/ Ao teu seio o mais breve voltar. Porque o verde do mar que retrata/ O teu clima de eterno verão/ E o luar nas areias de prata/ Não se apagam no teu coração. Estribilho: Fortaleza! Fortaleza! Irmã do Sol e do mar/ Fortaleza/ Sempre havemos de te amar.
