Mulheres à frente da Saúde: profissionais assumem protagonismo na gestão
Fotos: Arquivo pessoal ISGH/Registros anteriores à pandemia
Neste cenário de pandemia, a atuação das mulheres na Saúde ganhou destaque com o protagonismo feminino na área e a participação efetiva delas nas experiências do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres correspondem a 65% dos mais de seis milhões de profissionais ocupados nos setores público e privado, tanto nas atividades diretas de assistência em hospitais, quanto na Atenção Básica.
No Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), organização social sem fins lucrativos que gerencia algumas unidades da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), dos mais de dez mil funcionários, 69,16% são mulheres e muitas delas estão à frente da gestão.
Dos cinco diretores gerais do Instituto, três são mulheres, entre elas Nátia Quezado Costa. A diretora de Serviços Compartilhados é formada em Economia e trabalhava em uma instituição financeira até ser convidada para assumir um cargo de gestão na Saúde, quando se apaixonou pela área. “Eu era concursada do banco, mas pedi demissão para ser celetista. Não foi uma decisão fácil, mas hoje vejo que foi a melhor decisão, pois nunca me senti tão realizada antes. Saúde é lidar com vidas e histórias, já em banco, a gente lida basicamente com números”, explica Costa. “Na Saúde, a gente deve tomar decisões que sejam as melhores para o paciente que está sendo assistido”, acrescenta.
Na Rede Sesa, conforme levantamento de março de 2021, dos 336 gestores oficialmente nomeados, 218 são mulheres (65%), entre secretária executiva, diretoras, superintendentes, coordenadoras, chefes de setor, supervisoras e orientadoras de células.
Nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) geridas pelo ISGH, quase 90% dos coordenadores de Enfermagem são do sexo feminino. Já entre os coordenadores de Medicina, o percentual de mulheres é de quase 50%. Além disso, a diretoria-geral das UPAs também é gerida por uma mulher.
“As mulheres mostram capacidade de resiliência, liderança e firmeza. Além disso, costumam ser mais objetivas, detalhistas, ouvintes, pacientes e prezam pelo cuidado. Por isso, se adaptam bem na área de Saúde, pois essas características são importantes para esses profissionais”, pontua Camila Machado, diretora-geral das UPAs.
Mulheres ocupam diferentes funções na Saúde
Em nível nacional, o Brasil segue o padrão mundial. Estimativas do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), com base em dados do IBGE, indicam, em áreas como Fonoaudiologia, Nutrição e Serviço Social, que as mulheres alcançam quase a totalidade, ultrapassando 90% de participação.
Em outras, como Enfermagem e Psicologia, as mulheres estão com percentuais acima de 80%. Estima-se, ainda, que 69,2% das pessoas trabalhando na administração direta da área da Saúde, na gestão federal do SUS, são mulheres.
Rafaela Neres é nutricionista e tem ampla experiência na área. “Em 2007, fui estagiária curricular da unidade do Hospital Geral Dr. Waldemar de Alcântara. Depois de um ano, comecei a coordenar a Nutrição do HGWA. Em 2010, veio o cargo de gerente de Nutrição, ainda no mesmo hospital. Em seguida, de 2013 a 2020, fui gerente da Assistência Nutricional do ISGH, abrangendo todas as unidades geridas pelo instituto”, lembra.
Atualmente, Rafaela é Diretora de Gestão e Atendimento do Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (Helv), também da Rede Sesa. “Nunca imaginei que teria o maior desafio da vida em meio à pandemia. Tornei-me diretora de Gestão e Atendimento do Helv, referência para Covid-19 do Estado. O desejo de servir só aumentou, diante da condução, implantação e gestão de várias categorias”, relata.
Segundo uma pesquisa realizada em 2020 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e veiculada no Atlas do Estado Brasileiro, as mulheres são maioria também na categoria dos agentes comunitários de saúde (77,8%) , enfermeiros (85,2%), técnicos de Enfermagem (85,3%) e auxiliar de Enfermagem (85,9%). A exceção está na categoria dos médicos, em que 47,7% são mulheres e 52,5%, homens.
Na gestão do primeiro hospital público da rede estadual construído no interior do Ceará, o Hospital Regional do Cariri (HRC), a diretora-geral Demostênia Rodrigues administra a unidade hospitalar que assiste uma população de 1,5 milhão de habitantes, distribuídos pelos 44 municípios da macrorregião do Cariri.
Segundo a gestora, são muitas as dores e as delícias de motivar e incentivar pessoas na busca do bem comum. “Escolhi a área da saúde por vocação, pela vontade que alimentei desde criança de utilizar da minha sensibilidade e afeto para diminuir a dor das pessoas. Trabalhar na área da Saúde representa, para mim, uma oportunidade única de como o meu trabalho pode ajudar as pessoas em seus momentos de maior fragilidade causados pela dor das doenças. A maior recompensa é perceber que o exemplo transforma atitudes e inspira outras pessoas”, diz.