Movimento Brasil Competitivo lança manifesto em defesa da educação profissional técnica

  • Com cinco pilares, plano de ação inclui o fomento à maior participação do setor privado na oferta de educação técnica e a adequação da oferta de cursos às demandas empresariais;
  • Falta de capacitação de profissionais gera custo de mais de R$ 123 bilhões ao ano para o setor produtivo, de acordo com pesquisa do Ministério da Economia em parceria com o MBC;

O Movimento Brasil Competitivo (MBC) lança, nesta terça-feira (2), o Manifesto da Educação Profissional Técnica (EPT), um documento que traz à tona a atual situação da educação técnica no país e defende uma agenda pública e privada de promoção da educação para fortalecimento da mão de obra qualificada e aumento da competitividade. Construído com apoio da consultoria Macroplan e de representantes de empresas e instituições associadas e parceiras do MBC, o manifesto defende a expansão das matrículas no ensino profissional técnico de nível médio, com meta de fazer o ensino médio técnico alcançar 40% do total de matrículas no ensino médio regular, em 2030. Além da adequação da oferta de cursos às demandas empresariais, para diminuir o déficit de mão de obra qualificada e assim colaborar para redução do Custo Brasil.

Dividido em cinco pilares de atuação, o Manifesto propõe soluções práticas e iniciativas que o MBC pretende aplicar nos próximos anos para melhorias no ensino técnico. Além de fomentar a maior participação do setor privado na oferta de educação técnica, o manifesto busca o entendimento de quais cursos e conhecimentos são essenciais para cada região. Também defende a avaliação e criação de iniciativas junto ao setor produtivo para ampliação da oferta de vagas de nível médio e técnico.

“No MBC, temos como essência impulsionar a competitividade do Brasil por meio de alianças entre o setor produtivo e o poder público. Quando lançamos nosso pilar de educação, mapeamos as iniciativas já existentes nessa área. Percebemos que os ensinos fundamental e médio já tinham grandes atores do terceiro setor atuando com iniciativas incríveis, mas ninguém colocava luz na educação técnica. A educação é super importante para fazer o Brasil andar, e temos hoje um gasto enorme com capacitação de profissionais. São vagas que exigem níveis de graduação elevados para pouca mão de obra qualificada. Queremos diminuir essa lacuna para aumentar a competitividade do país”,  comenta Rogério Caiuby, conselheiro executivo do MBC, organização sem fins lucrativos que defende a diminuição do Custo Brasil e a criação de um movimento de valorização da educação técnico-profissional no país.

O manifesto tem o objetivo de trazer à tona a discussão do tema e gerar mudanças efetivas no segmento, aliando setor produtivo ao poder público para criação de políticas e iniciativas em prol da educação. O documento cita o estudo elaborado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), que aponta que jovens que fizeram o ensino técnico têm rendimento no mercado de trabalho superior aos jovens que frequentaram o ensino médio regular.

“Uma única organização não consegue fazer nada sozinha. Enquanto a sociedade não se juntar para alinhar o que queremos, não vamos conseguir mudar.  É um erro falar que há um déficit em todo o país. É necessário encontrar as melhores práticas e compartilhar com as outras regiões. Pretendemos fazer parcerias com RHs do setor privado para mudar a mentalidade das empresas na hora da contratação, Contamos com o apoio de todo o setor produtivo, não só as empresas que apoiam o MBC, mas também outras instituições que se preocupam e estão dispostas a fazer algo para mudar o ensino técnico no Brasil”, completa Caiuby.

Para o conselheiro executivo do MBC, esse interesse das empresas pela pauta da educação está completamente alinhado ao tema do momento no mundo corporativo: ESG – sigla, em inglês, que diz respeito às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização. “O senso de responsabilidade social é extremamente importante para a reputação das empresas, além de todas elas saberem o quanto a educação pode interferir diretamente no negócio delas ao ser o caminho para conseguir mão de obra qualificada. Se não bastassem esses dois pontos, o manifesto da educação ainda está alinhado à meta 4 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que propõe o aumento do número de jovens e adultos com habilidades relevantes, inclusive competências técnicas e profissionais, para emprego, trabalho decente e empreendedorismo”, afirma Rogério Caiuby.

Desenvolvido em parceria com a consultoria Macroplan, o documento é fruto de discussões no Núcleo Técnico de Educação do Movimento Brasil Competitivo. “Temos muitos desafios na oferta de ensino técnico profissionalizante no Brasil. Apesar de muitos atores públicos e privados atuarem no setor, a quantidade de cursos ofertados é baixa e a qualidade nem sempre é suficiente para preparar o jovem para o mercado de trabalho. O manifesto do MBC é um ponto de partida para mudar isso. Coloca essa manifestação de interesse das entidades e empresas em mudar esse cenário com ações práticas e concretas que sejam capazes de impactar na qualidade e quantidade de cursos técnicos ofertados no Brasil”, explica Gustavo Morelli, diretor executivo da Macroplan.

Cenário da educação técnica no Brasil

Apesar das evidências de que o retorno para a sociedade compensa os custos dos investimentos em cursos técnicos, o Brasil tem a segunda pior performance na promoção do acesso à educação profissional técnica na comparação com 33 países avaliados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2019. De acordo com os dados do Censo Escolar, em 2020, 12,5% das matrículas no ensino médio brasileiro eram na modalidade profissional técnica.

De acordo com um recente estudo realizado pelo Ministério da Economia em parceria com o MBC, o pilar de capital humano é uma das maiores lacunas do Brasil na comparação com a média dos países da OCDE. Em 2019, essa diferença gerava um custo adicional de cerca de R$ 280 bilhões ao ano para empresas, governo e instituições brasileiras que requerem força de trabalho. Desse total, 44% (ou R$ 123 bilhões a.a.) estão diretamente ligadas à falta de capacitação dos profissionais.

Segundo o Manifesto, “esse é o chamado “apagão de mão-de-obra qualificada que tem afetado tanto áreas tradicionais da indústria, quanto áreas ligadas à “economia do conhecimento”. Segundo estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), no setor industrial faltarão ao menos 300 mil profissionais nos próximos dois anos”.

“Essa lacuna afeta principalmente os jovens, que quando conseguem, acabam buscando qualificação e empregos no exterior, o que diminui a quantidade de mão de obra qualificada no Brasil e consequentemente a competitividade do país. O Brasil não possui políticas de educação profissionalizante efetivas. Empresários que querem ampliar seu quadro de funcionários e potencial de produção têm tido dificuldades para encontrar mão-de-obra qualificada, gerando essa disparidade entre vagas ofertadas e profissionais adequados para exercer as atividades”, finaliza Caiuby.

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