Má qualidade do ensino resulta em alunos de baixa qualidade e consequentemente em profissionais sem valor para o mercado, critica especialista
Enquanto a sociedade não tiver o amadurecimento e a visão de que não existem atalhos em relação à formação superior e sua importantíssima contribuição para o mercado de trabalho e a competitividade das empresas brasileiras e do país, podemos estar fadados a patinar no quesito da boa formação e qualificação dos nossos quadros.
Atualmente, existe uma relação direta entre a “qualidade” do aluno universitário ingressante no ensino superior e seu “valor” no mercado de trabalho. Essas afirmações são da especialista em educação com mais de 25 anos de experiência e atuação na Universidade Nova Lisboa, em Portugal, Sandra Raphael, ao comentar os impactos da má qualidade do ensino brasileiro no futuro de nossos estudantes.
Conforme ela, não é preciso reafirmar que a educação é, naturalmente, uma base fundamental. Mas, segundo ela, o corpo docente e sua preparação também são a base de formação para indivíduos capacitados.
“Não são raras as vezes que nos deparamos com formadores de pessoas: professores (de ensino fundamental a universitários), educadores, mentores e afins com péssima formação, com um vocabulário pobre e repleto de erros gramaticais. Esses indivíduos estão dentro das escolas passando seus conhecimentos e, supostamente, formando pessoas. Nem preciso mencionar que o resultado é a falta de qualidade dos quadros ativos no tecido empresarial do Brasil, recém-formados que não sabem redigir uma carta sem erros gramaticais, que não conseguem desenvolver uma linha de raciocínio e muito menos fazer a interpretação de um texto. Essa é a esmagadora realidade dos quadros ativos no Brasil. Infelizmente”, lamentou.
Ainda conforme ela, se por um lado o sistema de ensino é arcaico, atrasado, protecionista e mal preparado, do outro lado dessa ponte encontramos pessoas nada comprometidas com o real aprendizado, com dedicação e afinco ao aprendizado que exige foco, métodos de ensino, leitura, convívio saudável, modelo mental de compromisso com sua qualificação e excelência.
Por isso, ainda segundo Sandra, não se trata apenas da qualidade do ensino, mas sim, e também, da qualidade dos alunos que, infelizmente, é medíocre. São pessoas que querem o diploma sem fazer o mínimo esforço para o que mais importa: aprender.
“Na minha experiência de consultora internacional constato que os quadros superiores das grandes empresas brasileiras estão em patamares de excelência à par com quadros de qualquer parte do mundo. A questão é que é uma minoria de indivíduos que estão em condições de competir, e inclusive superar, quadros de alta performance quando comparamos com outras realidades como Europa e Estados Unidos”, destacou.
“O brasileiro tem a força do trabalho, tem alegria, é acolhedor, tem dignidade, é dedicado e busca uma melhora da sua condição de vida. Os responsáveis pela educação precisam fazer sua parte em fornecer um ensino de qualidade que passa por ter professores bem formados e dedicados, introjetar uma cultura de excelência que não se coaduna com posturas de imediatismo, falta de comprometimento, facilidades, falta de foco e disciplina para estudar e aprender. A evolução passa por assumir nossas fragilidades e trabalhar para corrigi-las e superá-las”, emendou.
Para a especialista, o tripé da excelência e de oportunidades de relevância para nossos alunos e futuros profissionais é de uma academia moderna, forte e bem preparada, alunos dedicados e focados em realmente aprender e um tecido empresarial que saiba reconhecer e valorizar seus talentos.