Longa brasileiro Cartório das Almas é consagrado no 56º Festival de Brasília e premiado com 3 Troféus Candangos
Filme dirigido por Leo Bello lança um olhar sobre a morte para refletir sobre o significado da vida.
A ficção científica brasiliense CARTÓRIO DAS ALMAS, com roteiro e direção de Leo Bello, caiu nas graças do público na Competitiva Nacional do 56º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, levando pra casa o troféu de melhor longa-metragem pelo Júri Popular. A produção foi premiada também com os Candangos de melhor edição de som (Olivia Hernandez) e de melhor direção de arte (Maíra Carvalho).
“Estamos muito felizes e honrados de ter recebido um prêmio tão importante como o do Júri Popular”, declarou o diretor Leo Bello. “Estou muito feliz porque o cinema de Brasília fez parte da minha formação, foi aqui que decidi estudar cinema. Estar no Cine Brasília, esse templo do cinema brasileiro, é muito gratificante pra mim. A estreia mundial aqui tem um símbolo diferente. Fazer uma produção da cidade com um elenco de Brasília e a gente passar esse filme aqui tem um simbolismo muito grande.” O filme se passa em um mundo onde o ser humano descobriu, por meio de banhos de rejuvenescimento, uma maneira de dilatar seu tempo de vida. No entanto, os que fazem a opção por não envelhecer têm como efeito colateral a perda das memórias e da capacidade de sentir. O longa lança uma provocação aos estudos futuristas dos pesquisadores “expansionistas de vida”, “imortalistas”, ou ainda “longevistas”, questionando de maneira poética se vale a pena viver a qualquer custo. Na narrativa, Laura, uma jovem de 126 anos, é a recém-contratada no Cartório das Almas, local onde recebe as pessoas que desistem de viver para conduzi-las à “transmutação”. Em sua nova função, ela apenas protocola, sem juízo de valor – até mesmo por imposição dos efeitos colaterais de não envelhecer – as motivações daqueles que abriram mão da possibilidade de rejuvenescimento. Laura “notariza” o fim dos ciclos de outrem. No entanto, por força de contrato, a ela mesma não é facultado interromper sua tediosa existência. Vivendo (no e) para o trabalho, em sua rotina protocolar, aos poucos desenvolve vínculos com quem por ali passa. A trajetória da personagem Laura revela o sentido da trama de CARTÓRIO DAS ALMAS. Jovem centenária, é solitária, não tem certeza se guarda ou cultiva as suas memórias, e, além de todas essas perdas, é impelida a tomar banhos, em águas especiais, para se manter jovem e viva, e alcançar uma estranha longevidade. Na premissa inicial do filme ocorre algo enigmático. Em sua nova ocupação, ela, que optou por não envelhecer, recebe as pessoas que desistem de viver. No CARTÓRIO DAS ALMAS, Laura só tem uma obrigação: saber quais foram os motivos que levaram essas pessoas ao abandono, não exatamente da vida, mas da longevidade. Até que decide interromper seu rejuvenescimento, tomar para si o controle da sua vida e voltar a sentir. |
Motivação do diretor
Cartório das Almas nasceu da necessidade de ressignificar uma experiência traumática vivenciada enquanto ainda era um adolescente. Acompanhei junto com meus familiares os últimos momentos de meu avô, que fez sua passagem devido às complicações causadas por um câncer terminal. Em um determinado dia ele teve um mal súbito, o que o levou a perder a consciência. Naquele momento, já deveríamos estar todos resignados, uma vez que sua luta foi longa e, nessa reta final, já não havia como reverter a metástase que tomou conta daquele corpo já frágil e cansado. Meu avô era dessas pessoas fortes que passava a impressão de que estava tudo bem, mesmo vivenciando todas aquelas dificuldades e sentindo que sua existência nesse plano já estava chegando ao final. Claramente ele queria desfrutar seus últimos preciosos instantes com seus familiares, também, preparando-os para o momento de sua passagem. Mas nem todos aceitam da mesma maneira e, num ato de puro desespero, uma parente próxima decidiu pelo protocolo de reanimação, mantendo-o em sobrevida por mais dois dias, prolongando seu sofrimento. De fato, a dor de perder meu avô era grande, mas talvez a experiência mais traumática foi vê-lo sendo mantido daquela maneira. Durante anos me perguntei se realmente tinha sido a decisão correta. Decidir que alguém viverá a qualquer custo sem refletir sobre o sofrimento a que talvez esteja sendo submetida foi algo marcante para um adolescente, e me custou muito aceitar. É nesse sentido que CARTÓRIO DAS ALMAS talvez seja a cereja da minha superação. Um portal que separa o menino traumatizado do homem adulto. Este, agora, assim como a personagem Laura, que no Cartório protocola as razões dos seus, sem fazer julgamentos, não desiste ainda de procurar seus sentidos. A mim restou a busca por tratar do tema com um olhar reflexivo, enxergando na morte um sentido digno para a vida. |
SINOPSE
Em uma sociedade onde as pessoas pararam de envelhecer, Laura começa a trabalhar no cartório de almas, onde descobre que não quer viver para sempre. FICHA TÉCNICA
ELENCO
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SOBRE O DIRETOR
Leo Bello (1981/Brasília) é formado em cinema pela Fundação Armando Alves Penteado FAAP. Estreou seu projeto final de graduação, o curta-metragem ficcional PIPA (2008), no Interfilmes de Berlim. Desde então tem se dedicado a escrever e dirigir filmes e séries, destacando-se O Pequeno Pé Grande (2016) – Prêmio do Júri Melhor Curta-metragem XIII FANTASPOA – Fantaspoa Fantastic Film Fest – Brasil e o curta-metragem documentário: Retratos da Alma (2016) – Prêmio especial do Júri 15º MAFF – Matsalu Nature Film Festival – Estônia. Seu primeiro longa-metragem de ficção, O Espaço Infinito (2022), teve estreia mundial no 23ª SFF – Sopot Film Festival – Pôlonia, e participação no 6° SANFICI – Santander Festival Internacional de Cine Independiente – Colômbia. No mesmo ano, o longa foi distribuído em 25 salas de cinema comercial, nas principais capitais brasileiras. |
SOBRE A MACHADO FILMES
Desenvolvemos conteúdos autorais independentes, desde as primeiras ideias do argumento até a exibição na telona, sempre em parceria com os autores. Ficção? Documentário? Experimental? Simplesmente filme. Seja o que for, temos uma queda por olhares voltados para transformação, que reflitam arte, cultura e sociedade. Mas o que nos move mesmo é a vontade de contar boas histórias, debater narrativas, pensar audiovisual, encontrar bons personagens e filmá-los. Saiba mais em: https://www.machadofilmes.com. |