Filas: Federação de bancários da Caixa critica omissão do governo e anuncia que pedirá apoio de consórcio regional
Dirigentes da Fenae também alertam sobre intenções relacionadas à privatização do banco e defendem descentralização do pagamento do auxílio emergencial, além de campanha efetiva de informação à sociedade
As dificuldades que milhares de brasileiros estão tendo para receber o auxílio emergencial de R$ 600 e a importância dos bancos públicos na crise causada pela pandemia do novo coronavírus foram destacadas, nesta segunda-feira (4), pelo presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sergio Takemoto, e o diretor de Formação e ex-presidente da entidade, Jair Pedro Ferreira. Para os dirigentes da Fenae, falta vontade política do governo em buscar soluções aos problemas. Eles também avaliam que a intenção é desgastar a imagem da Caixa para retomar posteriormente o processo de privatização, com a venda de partes rentáveis do banco.
“A direção da Caixa precisa se organizar e informar corretamente a população que busca o auxílio emergencial. Caso contrário, vamos ter o caos se o pagamento do benefício for mantido como está atualmente”, alertou Sergio Takemoto, durante entrevista ao Fórum Onze e Meia da Revista Fórum, nesta segunda-feira (4).
Uma das possibilidades apontadas pelos dirigentes da Fenae como solução às filas e aglomerações nas agências é a atuação conjunta do governo federal com representações locais. Conforme destacaram Takemoto e Ferreira, o papel do Executivo federal é mobilizar governos estaduais, prefeituras e conselhos de Assistência Social, por exemplo, com o objetivo de organizar o pagamento da renda básica emergencial.
Neste sentido, o presidente da Fenae citou como exemplo o governo do Maranhão que, por meio de decreto, convocou bombeiros civis para a organização das filas nas unidades da Caixa. “Vamos pedir ao consórcio do Nordeste que medidas semelhantes sejam estendidas aos demais estados da região”, anunciou Takemoto.
“É um direito das pessoas receberem o auxílio e o governo não está preocupado. O governo quer jogar no caos e quem está pagando o pato são as pessoas que mais precisam”, acrescentou Jair Ferreira.
Cobranças — O presidente da Fenae também lembrou que, desde o início da pandemia da Covid-19 — há cerca de dois meses — as entidades representativas dos empregados da Caixa vêm cobrando da direção do banco medidas protetivas para a saúde dos trabalhadores e da população que precisa recorrer às agências.
Desde o anúncio do pagamento centralizado do auxílio emergencial, as condições de trabalho dos bancários da Caixa Econômica ficaram ainda mais precarizadas devido à maior exposição deles ao contágio pelo coronavírus.
“Nossa preocupação principal sempre foi com a saúde dos empregados e das pessoas que vão às agências”, ressaltou Takemoto. “O governo subestimou o número de pessoas que deveriam ser atendidas e continua jogando para os trabalhadores do banco a responsabilidade de organizar o pagamento. Esse não é o papel dos empregados, que estão realizando um trabalho heroico, cumprindo a missão da Caixa de atender as pessoas mais carentes. Mas é preciso dar condições adequadas para que eles façam esse trabalho”, frisou.
Jair Ferreira relembrou que foram encaminhados diversos ofícios à direção do banco e também a autoridades de saúde do governo federal cobrando ações para conter o fluxo de pessoas nas agências da Caixa. “Enviamos, por exemplo, ofício ao ministro da Saúde (Nelson Teich), cobrando medidas mais eficazes para proteger os bancários que estão na linha de frente do atendimento à população; mas, nenhuma providência foi tomada”, afirmou.
Bancos públicos — Os dirigentes da Fenae também destacaram a importância dos bancos públicos nesse momento. Conforme ressaltaram, no cenário de aprofundamento da crise econômica com a pandemia do coronavírus, são os bancos públicos que dão a contrapartida que a sociedade precisa. Eles observaram que o volume de dinheiro para a população é menor do que o direcionado ao setor privado, contemplado com um socorro de R$ 1,2 trilhão em recursos públicos.
Sergio Takemoto afirmou, ainda, que os bancos privados não têm interesse em atender as demandas sociais — como é o caso do pagamento do auxílio emergencial — e que o governo “não vai fazer absolutamente nada” para cobrar a atuação dessas instituições (privadas). “O sistema financeiro vem lucrando há muito tempo e precisa contribuir nesse momento”, disse o presidente da Fenae.