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Exposição, contemplada pelo edital da Caixa Cultural, fica em cartaz de 07 de fevereiro a 11 de maio, nas galerias 1 e 2 da Caixa Cultural Fortaleza

 

Conhecer a história da artista Lia de Itamaracá é mergulhar nas águas de um Brasil profundo, onde a arte nasce da celebração do trabalho e dos afetos de seu povo. É descortinar culturas invisibilizadas e descortinar a força de uma mulher que transformou sua ciranda em resistência, levando a tradição pernambucana aos quatro cantos do mundo. De 7 de fevereiro a 11 de maio de 2025, o público poderá vislumbrar essa trajetória na exposição Lia de Itamaracá – Cirandar é Resistir. Ao retratar uma artista que, aos 81 anos, permanece como uma das principais vozes da cultura popular brasileira, a mostra é um convite a pensarmos sobre a importância de nossas tradições e dos nossos mestres e mestras na contemporaneidade.

Lia de Itamaracá, decana da cultura popular brasileira e genuína representante do povo brasileiro, transforma a ciranda – nascida das celebrações dos pescadores, do povo simples e trabalhador do Nordeste brasileiro – em um poderoso símbolo de luta e resistência, provando que cirandar é também um ato de resistir.

A exposição repassa sua trajetória como uma grande roda, onde o território e as águas de Maria Madalena Correia do Nascimento nos levam a refletir sobre um Brasil ainda não devidamente celebrado. Lia rompeu as barreiras que delimitam e ocultam as culturas populares brasileiras, levando suas cirandas, loas e encantamentos não só pelo Brasil, mas também pelo mundo. Em sua arte, tradição e contemporaneidade se entrelaçam, revelando uma força capaz de expandir e transformar o olhar sobre o que somos enquanto nação.

Após passar com grande sucesso de público e de mídia por galerias em São Paulo e no Recife, a mostra chega com novidades à Caixa Cultural Fortaleza. Sendo um registro vivo da trajetória de Lia, ela se renova constantemente, incorporando símbolos de novos feitos e conquistas, ampliando assim o fio que conecta sua vida e obra. A curadoria é assinada pela artista visual e cineasta Lia Letícia, pela jornalista e escritora Michelle de Assumpção (autora da biografia Lia de Itamaracá, nas Rodas da Cultura Popular) e pelo empresário e produtor cultural Beto Hees, guardião do acervo do Centro Cultural Estrela de Lia, na Ilha de Itamaracá. A curadoria fotográfica é de Ythallo Barreto, também autor de algumas fotos e vídeos que compõem a exposição.

A proposta convida o público a refletir sobre a resistência cultural e os desafios enfrentados por Lia em sua carreira, em um contexto de reafirmação da identidade afro-brasileira e valorização da ciranda como patrimônio imaterial.

Três eixos temáticos norteiam a exposição. O Eixo Verde Loucoinspirada na canção de mesmo nome do repertório de Lia, mergulha no lado mais pessoal da artista, apresentando a Ilha de Itamaracá como a terra fértil, fonte, raízes, de onde surgem Lia e toda arte que carrega pelo mundo. Três instalações compõem o espaço expositivo. Em Mar de Lia, por meio de óculos de realidade virtual, os visitantes embarcam em uma jangada imaginária e se deslumbram com as águas verdes e vibrantes que envolvem a ilha. Durante a jornada, podem vivenciar a rotina dos pescadores e integrar uma roda de ciranda comandada por Lia, sendo envolvidos pelo ritmo, pelas vozes e pela energia dessa celebração coletiva que une tradição e resistência.

A instalação Casa de Lia é um convite à intimidade da vida de Lia de Itamaracá, trazendo à galeria objetos e elementos do seu universo particular. Ao percorrer esse espaço, o visitante é transportado para o lugar onde Lia encontra sua paz, seus amores e sua raiz. Lugar para onde retorna sempre que suas turnês pelo mundo chegam ao fim. A simplicidade e os significados presentes nesse ambiente fazem com que Lia, apesar de sua fama, continue sendo uma mulher genuína, alegre e profundamente conectada à sua história e ao seu povo.

Outra novidade na exposição é um recorte do projeto Letras da Ilha, da designer Lili Nascimento, que também assina a identidade visual da exposição como um todo. Este projeto destaca a tipografia vernacular das embarcações tradicionais da Ilha de Itamaracá, destacando a feitura dos letreiros, langanhos e a arte feita pelos pintores letristas locais, com destaque para Natanael Pires, o Tuca, reconhecido pintor letrista da região. Letras da Ilha nasce da necessidade de registrar e valorizar a produção gráfica popular da Ilha, preservando a memória visual em meio à crescente padronização digital. Ao integrar fotografias e obras do projeto à exposição, a mostra amplia o alcance dessa rica tradição cultural, que se conecta profundamente ao cancioneiro e ao imaginário de Lia de Itamaracá.

O Eixo Quem é essa preta? convida à reflexão sobre identidade e a luta contra o racismo na cultura popular. Nesse espaço, o jornalismo ganha a força de uma arte denúncia, trazendo a capa de um jornal de 1974 onde a artista é retratada com termos que refletem o racismo estrutural e naturalizado. Nesse mesmo ambiente, a instalação inédita Sossego de Lia surge como um contraponto poético, homenageando a Praia do Sossego, local de nascimento da artista. Apesar dos enfrentamentos impostos pelo racismo, Lia preserva sua paz interior e a conexão com o paraíso onde cresceu. A instalação oferece aos visitantes a serenidade da praia, com redes que convidam ao repouso e o som das ondas e das cirandas compondo uma atmosfera de contemplação. Esse espaço sensorial traduz a essência de Lia: resistência que não abdica da alegria e da simplicidade.

Ciranda no Mundo é o eixo norteador que apresenta a trajetória ascendente da artista, apesar de todas as adversidades. A canção Mar de Fogo, baseada num ponto para o orixá Exu, simboliza as conquistas de Lia em contraponto às adversidades que enfrentou ao longo de sua carreira. “Para chegar aqui/ atravessei o mar de fogo/ Pisei no fogo o fogo não me queimou/ Pisei na pedra a pedra balanceou.” Nesse espaço, a curadoria enfatiza a importância de honrar e valorizar, por meio das vitórias de Lia no mercado das artes, os grandes mestres e mestras que fazem da cultura brasileira um pilar identitário e espiritual de nosso povo.

Nesse espaço, a instalação Ciranda de Ritmos ganha destaque. Composta pelos instrumentos reais da ciranda, disponíveis para interação do público, e acompanhada por um documentário de shows internacionais e espetáculos diversos, a instalação exibe também figurinos, jóias e adereços da artista, revelando facetas que conectam tradição e contemporaneidade.

A mostra também contará com atividades especiais com a presença de Lia de Itamaracá, iniciando com a Roda de Diálogo Racismo na Cultura Popular, que dialoga com o eixo Quem é essa Preta? O encontro, que acontecerá no dia 08 de março, contará com a participação de Lia de Itamaracá, dos curadores, de artistas e gestores culturais convidados. Abordará o racismo estrutural que ainda marginaliza os artistas negros, e as dificuldades que enfrentam por reconhecimento e inclusão. No encerramento, Lia se apresentará ao lado do DJ Dolores, produtor do álbum Ciranda sem Fim, que traz inovações sonoras ao universo de Lia. No dia 09, a artista participa, ao lado de músicos de sua banda, da Vivência Aprendendo a Cirandar, um encontro pedagógico que proporcionará ao público a oportunidade de conhecer mais sobre a ciranda. A atividade culminará com o show Ciranda de Lia, em que a artista apresenta o repertório tradicional de cirandas e cocos de roda.

SERVIÇO
Exposição
Lia de Itamaracá – Cirandar é Resistir

Período expositivo: 07 de fevereiro a 11 de maio de 2025

Local: Caixa Cultural Fortaleza, Galerias 1 e 2

Horário de funcionamento: Terça a domingo, das 10h às 18h

Sábado (08 de março)

  • 16h – Roda de Diálogo “O Racismo na Cultura Popular”:
  • 20h – Apresentação de Lia de Itamaracá e DJ Dolores

Domingo (09 de março)

  • 16h – Vivência “Aprendendo a Cirandar”:
  • 19h – Show Ciranda de Lia

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