Terceiro Concerto Sinos: Orquestra de Cordas da Grota interpretando Alberto Nepomuceno, Lorenzo Fernandes e Emanuel Cordeiro
Já está disponível no site do Sistema Nacional de Orquestras Sociais – Sinos, o terceiro Concerto Sinos. No vídeo, a Orquestra de Cordas formada por jovens da comunidade da Grota (Niterói, RJ) interpreta as Quatro Peças Infantis, de Alberto Nepomuceno, a Pequena Suíte Infantil, de Lorenzo Fernandes, e a Suíte Lendas Amazônicas, de Emanuel Cordeiro – esta última, composta especialmente por encomenda do Sinos e destinada a alunos iniciantes. O Sinos é uma parceria da Fundação Nacional de Artes – Funarte com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, com curadoria de sua Escola de Música. |
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O que são os Concertos Sinos A série Concertos Sinos foi criada para veicular a produção artística dos projetos sociais, das orquestras brasileiras e do próprio Sistema Nacional das Orquestras Sociais. Por meio da série, em concertos presenciais ou virtuais, são também apresentadas ao público as obras criadas e editadas para o Repertório Sinos – ação que disponibiliza obras de compositores brasileiros de diferentes épocas e de todas as regiões do país. O Concertos Sinos conta com a participação de diversas orquestras, solistas e maestros brasileiros, assim como de alguns dos compositores, que também participam com breves comentários sobre suas obras. A série está também vinculada ao Projeto Orquestra, uma das linhas de ação do Sinos, que promove a capacitação de alunos na prática de conjunto, com a abordagem do repertório brasileiro e universal sob a orientação de professores de instrumentos e de regência. A orquestra A Orquestra da Grota faz parte do projeto de ação social Grota do Surucucu, em Niterói. Tudo começou na década de 1980, quando a professora aposentada Otávia Paes Selles resolveu dar reforço escolar para crianças da comunidade. Mais tarde, Márcio, filho de Otávia, que é músico, passou a dar aulas de instrumentos e, com o falecimento da fundadora, assumiu o projeto. Hoje, o Espaço Cultural da Grota é uma referência cultural em sua cidade e oferece diversas atividades ao público – entre essas, a sua orquestra. Confira uma entrevista com Márcio Selles no site do Sinos. A Orquestra de cordas da Grota participa do Concerto Sinos com a seguinte formação: Maestro – Katunga Vidal; Violinos I Davi Santos, Jorge Júnior, Priscila Vidal, Soraya Vieira e Albert Duarte; Violinos II Welton César, Izabella Cardozo, Daniella Anatalício, Leandro Justino, Ricardo Vidal; Violas Marcos Vieira, Camila Costa, Anderson Silva e Nick Coutinho; Violoncelos Luiz Justino, Raquel Terra e Rodrigo Soares; Contrabaixos Roberto Henrique e Carlos Alberto; Percussão Rhenan Werneck. O projeto Lançado em julho deste ano, o Sinos é formado por uma rede de dezenas de profissionais de música, que atuam em cursos, oficinas, concertos e festivais, neste segundo semestre e também por todo o ano de 2021. As atividades se iniciaram exclusivamente online e, quando possível, se estenderão a ações presenciais, em todas as regiões do país. A ideia é capacitar regentes, instrumentistas, compositores e educadores musicais, apoiando projetos sociais de música e, ainda, contribuir para o desenvolvimento das orquestras-escola de todo o país. Para mais detalhes sobre o projeto visite o site www.sinos.art.br. As obras e seus compositores: Pequena Suíte Infantil de Lorenzo Fernandez (texto de André Cardoso*) Oscar Lorenzo Fernandez nasceu no Rio de Janeiro, a 04 de novembro de 1897. Ingressou no Instituto Nacional de Música (INM) em 1917, onde estudou piano com J. Octaviano e Henrique Oswald, matérias teóricas e composição com Frederico Nascimento, Francisco Braga e Luciano Gallet, recebendo também a orientação de Alberto Nepomuceno. Em 1922, obteve os três primeiros lugares no Concurso de Composição da Sociedade de Cultura Musical, com Noturno e Arabesque para piano e a canção Cisne. De 1924 é o Trio Brasileiro, para violino, violoncelo e piano, no qual já se evidencia a orientação nacionalista de sua obra. Em 1925, foi efetivado como professor do INM. No mesmo ano sua Suíte Sinfônica op.33 foi estreada pela Orquestra do INM, sob a regência de Humberto Milano. Uma importante obra de câmara foi escrita no ano seguinte, o Quinteto op.37 para sopros, primeira composição brasileira para tal formação. Seguiram novas obras sinfônicas, como o bailado Imbapára (1928) e a Suíte Reizado do Pastoreio (1929), que inclui o famoso “Batuque”, publicado na Itália pela editora Ricordi. Em 1930, escreveu uma de suas peças para piano mais tocadas, os Três Estudos em forma de sonatina. A partir de 1932 passou a colaborar com Villa-Lobos na Superintendência de Educação Musical e Artística do Distrito Federal. Em 1934, foi convidado para integrar o corpo docente do Conservatório de Música do Distrito Federal e em 1936 fundou o Conservatório Brasileiro de Música. No mesmo período compôs a Valsa Suburbana para piano (1932), as Três Suítes Brasileiras para piano (1936/1938) e seu único Concerto para piano e orquestra (1935). O ano de 1941 é marcado pela estreia de sua ópera Malazartes, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência do próprio compositor. A produção na década de 1940 inclui o Concerto para violino e orquestra (1942), estreado em 1945 no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência de Erich Kleiber e Oscar Borgerth como solista, a Sinfonia no1 (1945), a Sonata Breve para piano (1947), a Sinfonia no2 “Caçador de Esmeraldas” (1947) e a derradeira obra, as Variações Sinfônicas para piano e orquestra (1948). Lorenzo Fernandez faleceu em 27 de agosto de 1948. A produção de Lorenzo Fernandez para orquestra de cordas não é grande e algumas obras se perderam. As que restaram são transcrições do próprio autor de peças originais para piano, como o Crepúsculo sertanejo, movimento dos Poemetos brasileiros (1926), e as Visões infantis op.22, em três movimentos (I- Pequeno cortejo; II- Ronda noturna; III- Dança misteriosa), que inclui uma parte de tam-tam ad libitum. A produção de obras com temática infantil pelo compositor e as transcrições que realizou, motivaram a elaboração da transcrição da Pequena Suíte infantil (1937), composição que se mostrou totalmente adequada ao objetivo do SINOS de produzir material para orquestras jovens em diferentes níveis de desenvolvimento. Assim, a transcrição realizada pelo maestro Roberto Duarte dos três movimentos (I – Cantiga; II – Acalanto; III – Folguedo) da versão original para alunos iniciantes ao piano, proporciona aos jovens instrumentistas de cordas a oportunidade de abordar um dos mais importantes compositores nacionalistas brasileiros da primeira metade do século XX. Peças Infantis de Alberto Nepomuceno (texto de André Cardoso*) Alberto Nepomuceno nasceu em Fortaleza, Ceará, em 06 de julho de 1864. Em 1872, se transferiu para Recife, onde iniciou os estudos de piano e violino. Em 1880, se tornou aluno de harmonia de Euclides Fonseca. Retornou ao Ceará em 1884. No ano seguinte partiu para o Rio de Janeiro, onde passou a estudar com Miguel Cardoso, a quem revela suas primeiras composições. Apresentou-se como pianista no Clube Beethoven e realizou turnê de concertos com o violoncelista Frederico Nascimento. Em 1888, partiu para a Europa, matriculando-se no Liceo Musicale Santa Cecília de Roma, onde estudou harmonia com Eugenio Terziani e Cesare De Sanctis e piano com Giovanni Sgambatti. Participou, em 1890, do concurso que, após a Proclamação da República, iria escolher o novo hino nacional brasileiro. Obteve o terceiro lugar e uma pensão do governo brasileiro, que permitiu ampliar sua estada na Europa. Rumou para a Alemanha, onde estudou na Academia Meister Schulle e no Conservatório Stern de Berlim com Heinrich Herzogenberg, Theodor Lechetitzky, Arnó Kleffel e Max Bruch. Na Noruega, casou-se com Walborg Bang, sua colega de conservatório, e hospedou-se na casa de Edvard Grieg. Ao retornar para a Alemanha regeu a Orquestra Filarmônica de Berlim em suas provas finais, apresentando o Scherzo, para orquestra e a Suíte Antiga, para cordas. Retornou ao Brasil em 1895, após estada em Paris para estudos na Schola Cantorum, com Guilmant. Ao chegar, assumiu a cadeira de professor de órgão do Instituto Nacional de Música, que viria a dirigir em dois períodos, o primeiro entre 1902 e 1903 e o segundo entre 1906 e 1916. Foi regente da Sociedade de Concertos Populares e diretor musical dos concertos da Exposição Nacional da Praia Vermelha de 1908. Em 1910, empreendeu viagem à Europa, regendo concertos em Bruxelas, Genebra e Paris, onde conheceu Debussy. Em 1913, estreou sua ópera Abul no Teatro Coliseo de Buenos Aires, apresentada também em Rosário e Montevidéu no mesmo ano e, em 1915, no Teatro Constanzi, de Roma. De sua obra de câmara se destacam as composições para piano, as canções, o Trio para violino, violoncelo e piano (1916) e os três quartetos de cordas, escritos entre 1890 e 1891. A produção orquestral não é grande, na qual podem ser citadas a Série Brasileira (1891), que inclui o famoso “Batuque”, a Sinfonia em sol menor (1894), escrita em Berlim, a abertura O Garatuja (1904), as Valsas Humorísticas para piano e orquestra (1902) e o episódio lírico Artemis (1898). Nepomuceno faleceu no Rio de Janeiro, em 16 de outubro de 1920. Além da Suíte Antiga, constam no catálogo de Alberto Nepomuceno outras três obras para orquestra de cordas, o Adagio (1892), o Andante Expressivo (1896) e a conhecida Serenata (1902). Dentro dos objetivos do Sinos de produzir repertório para orquestras de iniciantes, as peças fáceis para piano se apresentam como excelente alternativa para transcrições. Assim são as Peças infantis (I – Canção; II- Manobra militar; III – Minueto; IV – Insistência), compostas em data incerta, mas inequivocamente destinadas à execução por iniciantes, onde Nepomuceno revela sua preocupação didática pela limitação técnica, pela tessitura, escolha de tonalidades, harmonização e acompanhamento simples. Transcritas pelo maestro Roberto Duarte, as peças de Nepomuceno poderão agora servir também para a formação dos instrumentistas de cordas. (*) André Cardoso é maestro, professor da Escola de Música da UFRJ e coordenador do projeto Sinos. Suíte Lendas Amazônicas de Emanuel Cordeiro Emanuel Cordeiro nasceu na cidade de Belém (PA), em 15 de outubro de 1983. É bacharel em violão, composição e arranjo pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Possui especialização em Fundamentos da Criação em Música pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e mestrado em composição pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Teve composições premiadas na XXI Bienal de Música Brasileira Contemporânea da Funarte, no 3º Festival Cultura de Música e no 3º Festival da Associação de rádios públicas do Brasil (ARPUB). Suas obras têm sido apresentadas por diversos grupos, como a Orquestra Sinfônica Nacional, a Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Bahia e o Coro Carlos Gomes, entre outros. É professor efetivo do curso de Licenciatura em Música da Universidade do Estado do Amapá (UEAP). Na produção de Emanuel Cordeiro se destacam as obras para violão, como a Pequena suíte brasileira para solo e Polegar Cangaceiro para trio de violões. Na música de câmara produziu Quase cigana para trio de violões e quarteto de cordas e Onze Janelas para quinteto de sopros. Para orquestra são Suíte Curta Metragem (2011), Churrasquinho de Gato (2012), Transformações Uirapurinas (2013) e Diálogos em Passarês (2013). A Suíte Lendas Amazônicas foi composta em 2020, a partir de encomenda do SINOS. É uma obra para alunos iniciantes, inspirada pelas lendas da região, que engloba diferentes estados do Brasil. Na peça o compositor procurou criar uma ambientação para cada uma das lendas que inspiraram os seis movimentos. O próprio compositor nos oferece o roteiro. “Naiá era uma índia apaixonada pelo deus Jaci (a Lua), desejava ardentemente alcançá-lo e virar uma estrela no céu. Ao ver o reflexo da Lua nas águas, Naiá se joga e acaba morrendo afogada. Jaci transforma a indígena morta em uma estrela das águas: a planta Vitória-régia, cujas flores só abrem de noite para se encontrar com a Lua. A Iara é uma linda sereia amazônica que vive nos rios. O seu canto irresistível enfeitiça os homens, que a seguem até o fundo do rio, onde morrem afogados. O Saci-pererê e o Curupira vivem nas florestas. O primeiro tem apenas uma perna, usa um gorro vermelho e fuma cachimbo. O segundo tem cabelos vermelhos e pés ao contrário. Ao se encontrarem, eles se desafiam para saber quem faz mais travessuras, depois se unem para proteger a floresta. Nas noites de lua cheia, o Boto sai do rio e se transforma em um homem galante, vestido de branco, usando um grande chapéu para cobrir o seu rosto. Ele dança com a moça mais bonita da festividade e a engravida, na manhã seguinte ele se transforma novamente em boto e volta para o rio. A Boiúna é uma cobra gigantesca, que vive no fundo dos rios. Quando ela sobe à superfície, afunda embarcações e devora pescadores. Ao rastejar sobre a terra, ela deixa sulcos gigantes que dão origem aos igarapés. A Matinta Pereira é uma bruxa velha, que assombra as casas. De noite, ela se transforma em um pássaro de mau agouro, com um assovio estridente e assustador, perturbando o sono das pessoas, até que uma pessoa prometa dar tabaco para a bruxa”. |
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Serviço: Terceiro Concerto Sinos do Sistema Nacional de Orquestras Sociais Realização: Fundação Nacional de Artes – Funarte e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Curadoria: Escola de Música da UFRJ Disponível no site www.sinos.art.br Informações sobre editais e outros programas da Funarte: www.funarte.gov.br |