De acordo com pesquisa publicada pelo Sebrae, iniciativas empreendedoras são responsáveis por cerca de 30% do PIB do Brasil e envolvem 3 a cada 4 brasileiros adultos, movimentando mais de R$790 bilhões de reais por ano. Nesse setor econômico, cresce o número de propostas que trabalham com base em tecnologia e economia criativa, como fintechs e e-commerces, mas iniciativas mais tradicionais como as do universo artístico, ainda encontram certa resistência. Essa resistência foi percebida pela ilustradora Kalina Juzwiak quando tentou empreender no mercado de artes visuais. “Eu sempre gostei de trabalhar com arte mas eu abafei isso porque a sociedade acaba te empurrando para o mercado com a ideia que artista morre de fome, pela dificuldade de se destacar nesse setor e entrar naquele seleto grupo das galerias”. No caso de Kalina, o receio pela falta de espaço neste seleto mercado se uniu ao medo do preconceito sofrido por artistas no Brasil. “Dizer que a Arte é sua profissão é uma escolha muito difícil, porque sempre vai ter alguém para te perguntar ‘mas você faz o que para viver?’ Como se o trabalho de um artista fosse um hobbie ou um bico”.
Quem também enfrentou os desafios de entrada no mercado artístico nacional foi o empresário Antonio Viegas Filho. Apaixonado por fotografia, Antonio antecipou uma necessidade presente no mercado de arte, ainda nos anos 1990, quando se surpreendeu com a demora de dias envolvida no processo de emolduramento de peças. Em 1999, o então dentista decidiu empreender nesta área tão pouco explorada e criou a Moldura Minuto, a fim de prestar um serviço de emolduramento rápido e com qualidade premium. Hoje, a empresa se tornou a maior franquia da área de molduraria, gerando um saldo de mais de R$ 40 milhões de reais por ano aos franqueados. Com o sucesso do empreendimento, do qual hoje é CEO, Antonio começou a contribuir com outras iniciativas empreendedoras, através de projetos como a plataforma de e-commerce Galeria Minuto e a série de lives Papo com Artista. “A arte e os artistas merecem um valor que, muitas vezes, o mercado não está preparado para dar, por isso a Moldura Minuto fomenta e insiste na divulgação da arte nas suas mais diversas fases”. A iniciativa que começou com a percepção de um processo que poderia ser melhorado, hoje possui 60 unidades situadas em 25 cidades brasileiras, estando presente em 16 estados do país e com uma unidade no Paraguai. Para quem está começando no ramo, Antonio ressalta que todo início é difícil, mas o importante é observar tendências e ausências do mercado em que você pretende se inserir como empreendedor.
Em seu artigo sobre a temática, os pesquisadores Simony Rodrigues Marins e Eduardo Davel concordam com Antonio. “Apesar de valores, consumo e inovação permearem processos, eles são desvelados na obra [mais do que nos modelos de negócio]”, ressaltam. É preciso que não só os objetos de arte apresentem concepções inovadoras, mas que os artistas busquem meios de atingir a clientela de forma diferenciada, principalmente dentro do universo de possibilidades interno ao ambiente online. As NFTs (non fungible token) inseridas neste ambiente, por exemplo, têm abalado o mercado mundial de arte justamente ao combinar o que há de mais moderno em tecnologia e finanças ao talento de artistas, rendendo bilhões de reais a empresas que já lucram quantias astronômicas no mercado de criptomoedas. A iniciativa dos criadores deste modelo de negócio coloca a concorrência em xeque, mas também serve de lição: já que a arte imita a vida, chegou a hora dela se alinhar às tendências atuais.