Educação inclusiva é respeitar as diferenças sem segregar, afirmam especialistas
No Brasil, quase ¼ da população tem algum tipo de deficiência, de acordo com dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. O número de alunos com transtorno do espectro autista matriculados em classes comuns no país chegou a mais de 105 mil em 2018. Além disso, dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 5% da população brasileira – ou 10 milhões de pessoas – possuem altas habilidades.
Com números tão significativos, a dúvida é “como garantir que todas essas pessoas tenham acesso a uma educação que não exclua com base em seus talentos e dificuldades?” Para a coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença (Leped) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Teresa Égler Mantoan, o primeiro grande desafio é desconstruir a ideia de que crianças com transtorno do espectro autista ou outras particularidades precisam de métodos de ensino diferenciados.
Maria Teresa, fundadora do portal Inclusão Já! e coordenadora regional do Fórum Nacional de Educação Inclusiva, explica que ater-se às diferenças não contribui para a promoção de uma escola mais inclusiva. “Um professor comum não precisa e nem pode estar preparado para receber alunos com autismo ou qualquer outro tipo de problema, porque esse aluno não existe. O que existe é uma pessoa que vai muito além dessa qualificação, dessa classificação, dessa categorização”, pontua.
Para ela, a educação não deve ser focada em um perfil de aluno, seja ele portador ou não de altas habilidades, autismo ou outras características. Ela opina que, embora o Brasil já trabalhe com a questão da inclusão desde 1996, o ensino aqui é baseado em modelos de alunos. “A inclusão vem para recuperar essa capacidade que cada um tem de ser alguém que é singular, que não se repete e que não é captado por nenhum desses atributos”, afirma.
O quadrinista e coordenador da Gibiteca de Curitiba, Fúlvio Pacheco, é pai de um menino autista. Ele conta que seu filho, assim como outros autistas, compreende melhor os conteúdos quando eles são apresentados por meio de imagens. “Meu filho batia nos coleguinhas na hora do recreio e aí ficava triste porque ninguém queria ficar perto dele. A gente explicava por que isso acontecia, mas ele não entendia. Então fiz uma sequência de imagens visuais e, a partir disso, ele entendeu. Há várias maneiras de trabalhar com o autista e essas formas podem ser adaptadas para qualquer aluno.”
Segundo Maria Teresa, esse tipo de abordagem é fundamental para oferecer um ambiente de aprendizado mais saudável para todos. “Se usarmos materiais que são interessantes para todas as crianças, não encontraremos dificuldade de ensinar. A grande dificuldade é que só há o livro didático. Ensinar envolve o conhecimento das crianças, o que elas gostam de fazer, o que elas sabem fazer, e não apenas o conteúdo das apostilas”.
O bate-papo completo entre Maria Teresa e Pacheco está disponível no 11º episódio do podcast PodAprender, cujo tema é “Educação Inclusiva – o autismo e as altas habilidades no ensino regular“. O programa pode ser ouvido no site http://sistemaaprendebrasil.