Edson Queiroz – O visionário de uma época
• Suas origens • O homem e sua escalada • O Abrigo Central • O sucesso do gás • Outros sonhos • A imprensa em sua visão •Implantando a educação •A Cascavel Castanha do Caju •“O crescimento pela decência e pelo trabalho” • Educação como produto de primeira qualidade • Homenagem da FIEC • O balanço geral de uma vida • O bairro Edson Queiroz • O final de uma trajetória
Por Zelito Magalhães
A chamada Cascavel dista 64 quilômetros de Fortaleza. Mergulhada no Polígono das Secas, a cidade, na década de 20, refletia muito o Nordeste rural dos coronéis. Na área urbana dessa pequena Cascavel, nascia aos 12 de abril de 1925, Edson Queiroz, filho de Genésio e dona Cordélia Antunes de Queiroz. Era o primeiro filho homem do casal, o segundo de seis irmãos. Sua irmã Jacy nascera no ano anterior e depois vieram Wanda, Cléa, Ivone e José.
Nascido em Aquiraz, o pai Genésio, ao completar 24 anos, mudou-se para Cascavel, onde montou uma pequena loja. Ali, conheceu Cordélia, onde se casaram em 15 de maio de 1923. Inclinado para os negócios, reuniu capital e experiência para tentar a vida em Fortaleza. Achavam que a vida em Cascavel se tornaria pequena demais para eles. Genésio se deu ao luxo de possuir um gramofone (radiola) e comprar discos da RCA Victor. “Cordélia gostava de música e nutria grande admiração pelo inventor da lâmpada e outras maravilhas elétricas – Thomas Edson, que inspirava a adoção do nome de uma loja muito popular no Rio de Janeiro (a Casa Edson). Quando nasceu seu primeiro filho homem, ela não teve dúvidas: quis que viesse a se chamar Edson.”
A escalada de um jovem
O Almanaque do Ceará de 1941 já registrava a Genésio Queiroz & Cia. como uma das principais importadoras de cereais do Estado. Em fins da Segunda Guerra mundial de1945, Edson Queiroz foi nomeado gerente do pai que era estabelecido na Rua Conde D’Eu com armazém de estivas. Como aluno do Liceu do Ceará, Edson era mais inclinado à ação que à teoria. “Não se destacou em nenhuma matéria escolar. Em consequência, foi sempre um jovem curioso, em busca de novidades, de achados, descobertas. Preferia ficar conversando com pessoas experientes no mundo dos negócios a ficar horas trancado, fazendo as lições de casa”, disse o seu biógrafo. Matriculando-se na Escola de Comércio Padre Champagnat, em 1948, se diplomaria Contabilista. No curso técnico, ele encontraria as ferramentas que estava precisando para fundamentar sua ação de empresário em começo de carreira.
No ano de 1949, gestão do prefeito Acrísio Moreira da Rocha, participou de uma concorrência pública para construção e exploração de um centro comercial na Praça do Ferreira, que viria a ser o Abrigo Central. Edson ganhou a concorrência com o direito de usar comercialmente o local por um período de treze anos. O prédio foi construído com participação de 25% do pai Genésio Queiroz. Inaugurado a 26 de maio de 1940, Edson procurou agrupar pequenas lojas, casas de merendas e cafés, como o “Café Real”, “Café Presidente”, de Júlio Cavalcante, “Pedão da bananada”, “O Canelinha”, merendas, “O Cidrack”, especializado na venda de biscoitos e chocolates, além de bancas de vendas de discos (“Raimundo 29”), revistas e jornais (Almeida, Sobrinho e outros), tabacarias e uma engraxateria com seis cadeiras, propriedade de “Zé Limeira”. No ano de 1962, Júlio, do “Café Presidente”, instituiu um concurso de trovas, que oferecia, grátis, por seis meses um cefezinho a quem apresentasse o melhor trabalho. Zelito Magalhães ganhou o prêmio com a trova:
Quando estiveres cansado
Esmorecido ou doente
Ponha os trabalhos de lado
Venha ao “Café Presidente”
Acompanhamos de perto os últimos dias do “Abrigo Central”. Existia por trás do mesmo o Savanah Hotel, do galego Carlos Jereissati, que começou como comerciante na venda de tecidos; como político, foi deputado e senador. Nos anos 50, vendo o galego que o Abrigo tirava a visibilidade do hotel, deu início a uma campanha pela imprensa com a finalidade de derrubar a construção. Alguns jornais chegaram a alegar falta de higiene nos estabelecimentos. Uma folha chegou a dizer que “urubus rondavam o recinto em busca de alimentos…” O advogado Joatan Porfírio Sampaio chegou a ser contratado por Carlos Jereissati para intervir na derrubada do então famoso Abrigo. No ano de 1955, começaram a surgir boatos que “o abrigo tinha falhas de estrutura e que poderia ruir qualquer momento, provocando uma tragédia”. Com relação ao assunto, o Correio do Ceará, em edição de 18 de agosto de 1956, chegou a dizer em sua Crônica do Ceará: “O Abrigo Central vem novamente para a ordem do dia. Falou-se, há um mês, aproximadamente, na sua demolição. E mal se discutiu o assunto surgiu o exmo. Sr. Prefeito Municipal para dizer ao povo que não consentiria na derrubada daquele monstrengo arquitetônico que, afinal de contas, presta algum serviço à coletividade. Seria oportuno o chefe da edilidade, neste ensejo demonstrar o seu amor ao Abrigo Central. Para tanto bastaria mandar fiscalizar o uso dos compartimentos que estão alugados, saber se realmente estão sendo infringidas as posturas municipais e se o Abrigo Central é esta coisa mal cheirosa… O mal é que vive sempre sujo e mal cuidado. E isso é uma pena”.
Depois de 27 anos de existência, por volta do meio dia, do ano de 1967, o logradouro foi implodido. Com o desaparecimento do famoso estabelecimento comercial, 28 trabalhadores ficaram ao leu, desempregados, enquanto procuraram outros afazeres. E assim, só a saudade restou para os seus frequentadores.
A opção pelo gás
Na segunda metade do século XX, Fortaleza cozinhava com os antigos poluentes fogões a lenha. As famílias de melhor situação econômica, utilizavam os fogões a carvão vegetal. No ano de 1951, Edson Queiroz que era sócio na Genésio Queiroz & Cia. desligou-se do pai e com o capital que dispunha, comprou de Valdemar Freire, o conhecido “Mazine”, a Ceará Gás Butano. Nos caminhões distribuidores do gás, Edson mandou colocar o slogan “Pergunte a quem tem um”. O gás era importado de Nova Orleans, nos Estados Unidos, e vinha engarrafado em botijões de 45 quilos, em improvisados cargueiros. Para transportar o gás de Mucuripe, Edson comprou cinco barcos batizados com os nomes de Dakar, Ipanema, São Felix, Gávea, Sumaré e Correia de Sena e criaria a Edson Queiroz Navegação.
Edson Queiroz improvisou várias viagens aos Estados Unidos, e cada viagem de avião lhe tomava uma semana: “três dias para ir nos lentos Constellations, um dia lá e três para voltar”. O uso dos fogões a lenha começaram a ceder ao dos fogões a gás. Na Rua Padre Valdevino, ao lado da hoje Enel (energia elétrica) funcionava uma empresa que cortava em toros as achas de lenha para uso dos fogões. Na artéria Major Facundo, entre Pedro Pereira e Pedro I, chegou a funcionar, nos anos 70/80, uma revendedora da Gás Butano.
Outras revendedoras do gás
A principal filial de distribuidora da Norte Gás de Edson Queiroz foi inaugurada em Belém do Pará, em 13 de abril de 1955, com o nome de Pará Gás Butano; a segunda filial, a Maranhão Gás Butano, foi montada ainda na década de 60; em outubro de 1970, em Teresina, foi inaugurada a Piauí Gás Butano. E assim, sucessivamente, outras distribuidoras foram inauguradas em outras capitais do Nordeste.
A criação da Esmaltec
No ano de 1963 foi criada a Esmaltec com a fabricação de seus próprios fogões e eletrodomésticos que perdurou por alguns anos.
Seu principal objetivo, em 1973, era a aquisição da Heliogás, empresa italiana com sede no Rio de Janeiro.
Na era da Comunicação
Nos anos XX, o paraibano Francisco de Assis Bandeira de Mello – Assis Chateaubriand, trouxe para o Ceará os Diários Associados (Unitário e Correio do Ceará). No ano de 1928, a 7 de janeiro, circulou o primeiro número do O Povo, fundado por Demócrito Rocha. Dentre outros, somavam-se O Estado, Gazeta de Notícias, Diário do Povo, Tribuna do Ceará, O Jornal e o Dia. Como inclinado também para a comunicação, Edson Queiroz não limitou-se ao rádio e à televisão. Viria também o jornal.
Assim, no ano de 1967 associou-se a José Afonso Sancho no jornal Tribuna do Ceará, adotando o sistema de impressão off-set, tornando-se, assim, o primeiro órgão a implantar o sistema no Nordeste e o terceiro no Brasil. Abolia-se com isto a tradicional linotipe e a técnica da clicheria. O sonho do empresário era fundar um jornal moderno e mais atrativo. Assim, no dia 19 de dezembro de 1981, circulou o primeiro do Diário do Nordeste, do Sistema Verdes, do Grupo Edson Queiroz, com o slogan – Compromisso com a verdade. O editorial, sob o título Compromisso de luta, dizia: O “Diário do Nordeste”, que hoje sai a lume, representa uma mensagem de confiança na potencialidade de nossa região e o compromisso de lutar para que os problemas nacionais tenham soluções compatíveis com os interesses da comunidade. Procuramos montar um jornal moderno, provido de maquinaria do mais alto padrão, com instalações funcionais, serviços radiotelegráficos e de radiofotos que transmitem a notícia no momento oportuno, para que os leitores tenham um noticiário capaz de retratar diariamente o panorama nacional e internacional (…) Tinha como diretoria: Editores – Aline Conde e Lorena Cardoso. Em primeiro de março de 2021, como parte de uma estratégia para ampliar suas operações digitais, o periódico passou a distribuir suas edições apenas em plataformas online, encerrando, no dia anterior, sua versão impressa. Em nota, o Sindicato dos Jornalistas do Ceará e a Federação Nacional dos Jornalistas lamentaram a medida e solidarizaram-se com os funcionários demitidos. O DN fez jus ao Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, no ano de 2019, com matéria produzida pela jornalista Fabiane de Paula, com a série investigativa sobre os crimes ocorridos em Milagres, em 1918.
A Rádio Verdes Mares
O industrial Edson Queiroz era um dos acionistas da Rádio Verdes Mares que a adquiriu em julho de 1962. Transferiu a emissora no ano seguinte para o prédio de sua empresa Norte Gás Butano. No início de 1970, com a fundação da TV Verdes Mares, o Sistema Verdes Mares foi expandindo, resultando na criação de um prédio para o grupo no bairro Estância Castelo, atual Dionísio Torres, onde a estação de rádio foi instalada. A comunidade que se formou na região dos transmissores passaria a denominar-se Verdes Mares. Percebendo que um dos atrativos da Rádio Verdes Mares era a política, implantou o radiojornalismo como principal característica da programação, iniciando suas transmissões às 5 da manhã. Com programação musical, a rádio possuía boletins de notícias a cada 30 minutos na voz de Mardônio Sampaio.
Dentre outros investimentos para conquistar audiência, a Rádio Verdes Mares teve um projeto com o radialista Narcélio Limaverde, realizado aos sábados, onde o bairro da capital era escolhido e montado um estúdio em um caminhão. Em 1973, a emissora contratou uma equipe da Rádio Assunção Cearense, voltando a investir depois de anos na cobertura futebolística, tornando popular entre o público, que fez criar o Clube do Torcedor, que consistia em torcedores que possuíssem carteiras dos times pelos quais torciam. A partir da Copa do Mundo de 1978, passou a ter transmissão própria do evento. Em 1980, deslocou sua transmissão para a frequência de 810 Khz. Nos anos seguintes figurou nas primeiras posições no ranking de audiência das estações em AM, chegando à liderança no final dos anos 1980. Foi nesse período que o apelido de Verdinha começou a se popularizar. Em 12 de junho de 2006, em comemoração aos 50 anos de fundação, a Rádio Verdes Mares passou a constituir uma rede de rádios via satélite inicialmente com 21 emissoras afiliadas.
A TV Verdes Mares
Em 23 de outubro de 1969, o sinal da emissora foi ao ar experimentalmente com o título de TV Verdes Mares. No dia 31 de janeiro de 1970, o empresário inaugurou oficialmente seu canal de televisão com uma missa celebrada na sede do canal e estreando o Telejornal Padrão, com 20 minutos, apresentado pelo jornalista Mardônio Sampaio. A festa de inauguração contou com as presenças de Hebe Camargo, do humorista Ronaldo Golias e de Pedrinho Mattar. A programação da emissora teve início ao meio-dia com um telejornal de 20 minutos comandado por Cirênio Cordeiro. Às 22 horas, era exibido outro telejornal, em formato de revista. Irapuan Lima e Matos Dourado apresentaram dois programas de auditório, enquanto que o da grade era preenchido por enlatados da Rede Globo e da Rede de Emissoras Independentes, encabeçada pela TV Record e pela TV Rio. Houve na ocasião um show de humor com Ronaldo Golias e o cantor Erasmo Carlos.
A partir de 1973, a emissora começa a ser transmitida para o interior do estado e para algumas cidades dos estados vizinhos, como Mossoró, no Rio Grande do Norte. Em 1974, começa a transmitir a programação da Globo como afiliada e no mesmo ano faz a primeira transmissão colorida de todo o Nordeste, durante a entrega do Troféu Sereia de Ouro, ocorrida em 7 de setembro.
Em janeiro de 2009, estreia o novo Globo Esporte com mais tempo de duração, e em março, o Jornal do 10 e o Jornal do Meio Dia foram substituídos pelo CETV. Em 8 de outubro de 2018, os telejornais diários do canal passam a ser apresentados em uma redação construída para integrar todos os veículos do Sistema Verdes Mares.
A agroindústria Cascaju
Em meados da década de 60, Edson Queiroz foi em visita à sua cidade natal Cascavel. Disse ter ficado condoído com as condições de vida dos habitantes pobres e com os preços dos produtos da terra que vendiam. Resolveu ajudá-los, principalmente na compra de rapadura, chapéus de palha e farinha de mandioca. Resolvendo contribuir com o comércio da cidade, inaugurava no dia 7 de novembro de 1971 a empresa do ramo agroindústria Cascavel Castanha de Caju – Cascaju. Após seis anos de existência, segundo as estatísticas, a empresa deu emprego a 1.100 mulheres.
Água, negócio de futuro
Por volta de 1978, Edson Queiroz fez uma visita à Salutaris, uma empresa de engarrafamento e distribuição de água mineral do Rio de Janeiro. Pascoali Spinelli, gerente regional da Norte Ceará Gás Butano e seu acompanhante, o apresentaram ao proprietário da empresa, Caio Gonçalves Gama Cruz, com experiência de mais de trinta anos no setor. Durante a visita, Edson ventilou sobre a comercialização do produto, as melhores fontes, as quantidades de sais minerais, etc. O ano de 1979 é o início da entrada do Grupo Edson Queiroz no mercado da água, criando a Indaiá Águas Minerais Ltda. Em poucos meses, o Grupo assumiria o primeiro posto do mercado cearense, ampliando suas atividades para todo o Norte e Nordeste e se expandiria também para o Sul. Engarrafadas por modernos processos automatizados, as diversas marcas do produto passaram a ser distribuídas em garrafões de 20 litros e em garrafas e vasilhames de 200 mililitros e 5 litros. Em 1980, anunciava-se que “setor de águas está procurando obter know-how ou associar-se para a fabricação de garrafões para a distribuição de seus produtos” Em 1982, informava-se que as sete empresas do Grupo exploravam fontes com lavra em onze estados da Federação, comercializando quatro marcas que detinham a liderança em suas áreas: Indaiá, Itaperoá, Nazaré e Manajá.
O homenageado
Edson Queiroz receberia em 25 de maio de 1982 sua última homenagem em vida: a Medalha de Mérito Industrial, outorgada pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará. Homenageado com outros três empresários, Edson foi o escolhido para usar da palavra em nome dos demais. Dentre outras palavras, ele citou que “a atividade industrial, como as demais que compõem o sistema produtivo da Nação, vem exigindo daqueles que a integram maior espírito de luta e obstinada dedicação. As dificuldades que afligem o setor, diminuindo-lhe a capacidade e obscurecendo suas perspectivas, são acentuadas pelas desigualdades regionais, que por vezes desestimulam ao menos um reconhecimento corajoso, mas não arrefecem o ânimo dos que têm objetivos definidos. Daí entendermos que a Federação das Indústrias do Ceará, com a outorga que faz de tão sensibilizadora honraria, expressa um reconhecimento público, não a participantes desse processo, considerados cada um, individualmente. Mais do que isso, a homenagem tributada a Albano Franco, João Gomes Granjeiro, José Danilo Pereira e a quem vos fala teve por objetivo distinguir uma área de trabalho, onde se geram concretas oportunidades de bem-estar para a sociedade e de real progresso para a Nação”.
Visão educacional
Durante 1967 e 1968, o sistema universitário brasileiro viveu a mais séria crise expressa pelos movimentos estudantis e pelo fortalecimento da ilegal UNE – União Nacional dos Estudantes. Foram o marco da rebelião jovem na área estudantil, quando o Brasil tinha características peculiares, dado o elitismo e anacronismo das nossas instituições de ensino superior. No raiar dos anos 70, dona Yolanda e Edson Queiroz tiveram a ideia de criar uma fundação educacional. Era quase uma obsessão os sonhos de Edson Queiroz. Ela também conta as resistências e os preconceitos de inúmeras pessoas que ficaram sabendo dos sonhos: “Ninguém aceitava a ideia de um empresário se meter nisso. E foi o mais difícil dos empreendimentos de Edson”. Assim, no dia 26 de março de 1971, era registrada nos anais da educação a Fundação Edson Queiroz. O objetivo da Fundação foi assim definido: “Criar, instalar e manter um estabelecimento de ensino superior, médio, primário e pré-primário, técnico e operacional, sem finalidade lucrativa, de forma a elevar o nível cultural e educacional na área em que a instituição venha a executar suas atividades”.
Dezenove dias depois, a 17 de abril, os Conselhos Curador e Diretor da Fundação criaram a Universidade de Fortaleza – UNIFOR. Seis meses mais tarde, a 18 de setembro, era assentada a pedra fundamental do campus e iniciada a construção dos edifícios. Os primeiros ficariam prontos um ano e meio depois, possibilitando a inauguração oficial. Nessa oportunidade, Edson Queiroz, um tanto emocionado, esclareceria os motivos de tanto trabalho e tanta obstinação: “Acreditamos que, para o Nordeste, a Educação é gênero de primeira necessidade e investimento prioritário. Não é forçoso que, à pobreza da terra, se consegue a indigência cultural. A ciência e a tecnologia poderão vencer um circulo vicioso que se eterniza por incapacidade ou comodismo”.
Logo que decidiu pela criação da Fundação, Edson Queiroz tratou de se cercar de colaboradores capazes que julgava existirem em Fortaleza. Para integrar a comissão que coordenaria a edificação da UNIFOR, convidaria o matemático José Ubirajara Alves, o professor Raimundo Padilha, o médico Luiz de França, o professor Agerson Tabosa, o jornalista Epitácio Cruz e o engenheiro José Walter Cavalcante. Para colaborar com a comissão, foram recrutados profissionais especializados, como José Eduardo Barreira, Oliveira Melo, José Raimundo Gondim, Nelson Chaves e Manoel Henrique Barbosa. Para cuidar da parte jurídica foram contratados os advogados Roberto Martins Rodrigues e Francisco Maia Alencar. O terreno em que foi construída a Universidade mede 447.200 metros quadrados. O pedido de autorização de funcionamento da UNIFOR foi encaminhado ao Ministério da Educação em 1972 (Processo 682/72), aprovado em 12 de setembro de 1972 pelo Conselho Federal de Educação (Parecer 1.438) e o Decreto nº 71.655, assinado pelo presidente Médici, publicado pelo Diário Oficial de 4 de janeiro de 1973. Foi declarada entidade de utilidade pública pela Lei Municipal nº 3.865, de 3 de maio de 1971, pela Lei Estadual nº 945, de 26 de maio do mesmo ano e, finalmente, pelo Decreto Federal nº 86.871, de 25 de janeiro de 1982. Em tempo recorde, o estabelecimento realizaria seu primeiro vestibular com 2.007 candidatos inscritos, disputando l.270 vagas para dezesseis diferentes cursos, de 17 a 23 de fevereiro de 1973. Os primeiros alunos da nova Universidade assistiriam sua aula inaugural no dia 21 de março de 1973, que foi proferida pelo ministro da Educação Jarbas Passarinho, na presença do governador do Ceará, César Cals, do prefeito Vicente Fialho, do reitor da UNIFOR, Antero Coelho Neto, do então deputado José Sarney e de outras autoridades, além dos corpos docente e discente. Em meio ao seu discurso, Edson Queiroz não conseguiu conter a emoção.
A comissão inicial, sobretudo Epitácio Cruz e José Walter Cavalcante, acompanharia a construção de todos os prédios e em nome de Edson Queiroz, cuidaria até de detalhes, como as instalações elétricas e telefônicas. Por iniciativa do amigo e empresário José Dias Macedo, foram feitas as primeiras doações de livros à Universidade; e em retribuição, a biblioteca da UNIFOR seria batizada com seu nome.
O logotipo da Verdes Mares
Simbolizado através do desenho de uma sereia sorridente de cores esverdeadas, o projeto foi criado pelo cartunista Mino, a pedido de Edson Queiroz. A inspiração para o desenho veio através de uma fotografia de sua filha Agnes, quando era bem jovem. “São 53 anos de muitas histórias, compartilhando com os telespectadores emoções, aventuras, valorizando a cultura do estado e cobrindo os momentos mais importantes do Ceará.”
O trágico acidente
O voo VASP 168 partiu de São Paulo com escala no Rio de Janeiro. Quando estava cerca de 250 quilômetros de Fortaleza e próximo à Serra da Aratanha, o avião procedia o pouso e o comandante foi autorizado pela torre de controle a reduzir a altitude de 10 mil para l,5 mil metros. Não sendo atendido pelo piloto, a aeronave chocou-se com a serra a 600 metros de altura. Edson Queiroz era um dos 128 passageiros e 9 tripulantes. Disse o copiloto Carlos Roberto Duarte Barbosa: “Não tem uns morrotes aí na frente?”. Nesse momento, o Boeing já sobrevoava a região de Pacatuba. Seis alarmes de alerta soaram na cabine, mas o piloto os ignorou. E às 2h45, o Boeing 727 se chocou e explodiu contra a Serra da Aratanha, sem deixar sobreviventes. No jargão aeronáutico, o acidente foi um CFIT (sigla em inglês para colisão com solo em vôo controlado).
Gravação na Caixa Preta: Copiloto Roberto: “Dá pra ver que tem um morrote aí na frente?”. Comandante: “Hein? (pausa) O que?… Tem o que?”. Copiloto: “Um morro aí não?”. Engenheiro de Vôo: “Tem um morro…” (Alarme, som de impacto. Grito. Fim da gravação).
O comandante era Fernando Antônio Vieira de Paiva, mineiro, 43 anos. Comandante Vieira, como era chamado, vinha passando por várias problemas pessoais: estava separado da segunda esposa e se preparava para o terceiro casamento. No avião vinha legalmente uma companheira (concubina). Tinha uma dívida de 4 milhões de cruzeiros que venceria dias após o acidente.
O bairro Edson Queiroz
No dia 6 de junho de 1983, o prefeito de Fortaleza, César Cals de Oliveira, sancionava a Lei Municipal nº 5.699, denominando de bairro Edson Queiroz a comunidade do Dendê, desmembrando-se do antigo bairro Água Fria. O vereador José Barros de Alencar, autor do projeto, disse em sua preleção que a homenagem se deve ao fato do industrial Edson Queiroz ter sido um dos pioneiros daquele bairro ao implantar, em 1973, a UNIFOR, da Fundação Edson Queiroz. De acordo com o edil, ao ser construída no bairro até então denominado Água Fria, a Universidade tornou a região mais conhecida e mais próspera e fez com que para lá convergissem outros estabelecimentos importantes. Citou, como exemplos, o Centro de Convenções, a Academia de Polícia Militar General Edgar Facó, o Colégio Farias Brito e o Fórum Clóvis Beviláqua.