Economia Circular e Indústria de Base: desenvolvimento industrial sustentável e tecnológico estão entre as metas para 2023

De acordo com Leila Kauffmann, coordenadora da Comissão Técnica de Economia Circular e Gestão Integrada da ABM, as empresas do setor têm feito investimentos robustos na busca por tecnologias que proporcionem maior reaproveitamento de resíduos industriais

Em meio ao avanço do debate internacional sobre sustentabilidade, suscitado pelas recentes conferências climáticas e pela ação de movimentos sociais em defesa das mais diversas causas ambientais, tem ganhado cada vez mais destaque o conceito de Economia Circular, o qual defende que o desenvolvimento econômico mundial seja alcançado por meio de processos mais sustentáveis de produção e oferecimento de produtos e serviços. Segundo o conceito, para que este patamar processual seja alcançado, instituições e empresas ao redor do mundo devem adotar medidas como a redução de resíduos produzidos e a otimização do uso dos recursos naturais.

Apesar de ser considerada como uma novidade promovida pela recente alta das tendências ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) no mercado internacional, a Economia Circular surgiu nos anos 1990, por meio do artigo acadêmico Economics of Natural Resources and the Environment – Economia dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente – dos economistas e ambientalistas britânicos David W. Pearce e R. Kerry Turner. A profundidade e a relevância do material, elaborado para abordar o fato de a sociedade da época não incorporar a reciclagem em sua economia, acabou fazendo com que ele extrapolasse o âmbito acadêmico e se tornasse um objeto de interesse para o setor industrial, mesmo 30 anos após a sua publicação.

Conforme revela o levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), no Brasil, mais de 75% das iniciativas industriais em funcionamento afirmam ter interesse em se alinhar às diretrizes da Economia Circular e dizem estar buscando adotar cada vez mais práticas relacionadas ao tema. Esse número, já expressivo, tende a crescer nos próximos anos com base no avanço da conscientização do mercado sobre a importância do tema, como ressalta Leila Kauffmann, coordenadora da Comissão Técnica de Economia Circular e Gestão Integrada da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração.

“Nos últimos anos, temos percebido que as indústrias, em sua maioria, estão adotando iniciativas de sustentabilidade ambiental diretamente relacionadas à sustentabilidade de seus próprios negócios, já que no mercado de hoje, quem não praticar a primeira, não viverá a segunda. No Brasil, estamos avançando e sendo muito estimulados pelas multinacionais que trazem suas práticas de sustentabilidade e as adaptam às nossas legislações vigentes. Em nosso país, ainda temos muitas barreiras e obstáculos a serem vencidos, tendo em vista que a prática da sustentabilidade ambiental passa pela utilização consciente dos materiais gerados, mas também por políticas públicas que permitam a Economia Circular” explica Leila Kauffmann.

Nesse processo de implantar práticas de Economia Circular no Brasil, a Indústria de Base – em especial nos segmentos de mineração, metalurgia e materiais – tem desempenhado um papel importante, tendo em vista que esses setores são responsáveis por uma parcela significativa dos resíduos gerados pelo país, comenta Leila. “No Brasil, a mineração e a metalurgia são grandes geradores de coprodutos e resíduos. As empresas já entenderam que a importância do seu negócio não está apenas no que produzem, mas também no que geram. Vemos, na maioria das vezes, as empresas com investimentos robustos na busca de tecnologias e estudos junto à academia, para redução de geração de resíduos e reutilização dos coprodutos, oriundos dos processos produtivos”, ressalta Kauffmann.

Contribuição da ABM

Atenta à importância da Economia Circular para o desenvolvimento sustentável do país e à necessidade das práticas envolvidas por este conceito serem adotadas pelo setor industrial, a Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração tem realizado uma série de atividades para incentivar pesquisas técnico-científicas sobre iniciativas e tecnologias que visem aprimorar o reaproveitamento de resíduos e a geração de coprodutos.

“A ABM conta com comissões técnicas multidisciplinares compostas pelos principais players dos setores de metalurgia, materiais e mineração, com integrantes da indústria, academia e especialistas das respectivas áreas. Como exemplo, cito a Comissão Técnica de Economia Circular e Gestão Integrada, que mensalmente se reúne para tratar de temas como sustentabilidade, aproveitamento de resíduos, energias renováveis, transição energética, entre outras questões, compartilhadas por meio de experiências diversas que incluem a apresentação de cases de sucesso”, destaca Leila.

Os resultados de levantamentos, debates e ações da Comissão Técnica de Economia Circular e Gestão Integrada da ABM são compartilhados com o público por meio da publicação de livros e artigos técnico-científicos, de capacitações com cursos e webinars, bem como a realização da ABM WEEK, um dos maiores eventos técnico-científicos da América Latina nas áreas de metalurgia, materiais e mineração.

*Leila Kauffmann é gerente de Coprodutos da ArcelorMittal Brasil, além de desempenhar a função de coordenadora da Comissão Técnica de Economia Circular e Gestão Integrada da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração.

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