É fundamental que o Banco Central retome o ciclo de cortes nos juros, diz CNI

Presidente da CNI, Ricardo Alban, destaca que cenário atual prejudica crescimento econômico do país e qualidade de vida dos brasileiros

 

Com custo de crédito alto, limitando o consumo e o investimento, é fundamental que o Banco Central retome ciclo de cortes nos juros, avalia a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A taxa básica de juros, a Selic, é um dos principais fatores que elevam o custo do crédito no país. Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, a manutenção de taxas altas prejudica toda a economia e a população brasileira, pois compromete a capacidade de o país acelerar investimentos, abrir novos postos de trabalho e ampliar a renda das pessoas.

 

“Além da Selic elevada, ainda lidamos com a questão do spread bancário altíssimo, que faz com que o crédito seja ainda mais caro e com pouca oferta no mercado. A indústria é uma das maiores prejudicadas pelo nível das taxas de juros, que dificulta investimentos e a ampliação de capacidade produtiva. No fim, os brasileiros perdem em oportunidades de emprego e aumento de renda, comprometendo o bem-estar da população. Sem reduzir os juros, ficaremos presos nessa armadilha”, afirma Alban.

 

Considerando a Selic atual e a expectativa de inflação de 3,8% para os próximos 12 meses, a taxa de juros real está em 6,45% ao ano, sendo a terceira maior do mundo, atrás apenas de Rússia e México, segundo levantamento da MoneyYou.

 

Além disso, a taxa de juros real está 1,70 ponto percentual acima da taxa de juros neutra estimada pelo Banco Central – aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica – o que denota uma política monetária bastante contracionista.

 

Segundo dados do Banco Mundial, o Brasil tem o terceiro maior spread bancário do mundo, de 27,4%, perdendo apenas para o Zimbábue e Madagascar. A discrepância fica ainda mais evidente quando comparamos com o Peru, próximo país economicamente relevante da lista do Banco Mundial, com spread de 7,8%, ou seja, 3,5 vezes menor que o brasileiro.

 

Esses fatores fazem com que volume de crédito na economia brasileira seja baixo. No Brasil, o montante de crédito oferecido ao setor privado não-financeiro equivale a 86,2% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto na Zona do Euro e nos Estados Unidos equivale a, respectivamente, 148,6% e 150,1% do PIB, de acordo com o Bank for International Settlements (BIS).

 

Importante frisar que, além do custo direto imposto pela elevada taxa de juros no caso de cada empréstimo e financiamento que as empresas fazem, ainda há um custo indireto, das despesas financeiras. Em cada uma das etapas de uma cadeia produtiva observa-se um percentual de despesas financeiras embutidas, indiretamente, nos preços dos bens produzidos e comercializados, bem como nos serviços prestados.

Para a CNI, por ter cadeias produtivas mais longas, as empresas industriais são as mais prejudicadas por esse acúmulo do custo do crédito, encarecendo o bem final e causando perda de competitividade do setor.

 

Contenção de despesas públicas é essencial para cumprir compromissos fiscais

 

Um dos fatores que tem justificado o patamar elevado de juros é a preocupação com a sustentabilidade das contas públicas. Embora o novo arcabouço fiscal tenha representado passo importante e sinalizado compromisso do governo federal com a agenda fiscal, o cumprimento das metas de resultado primário e o controle da dívida pública passaram a depender fortemente do aumento da arrecadação.

 

“Como o Brasil já tem uma das maiores cargas tributárias do mundo e não há mais espaço para aumentar a tributação do setor produtivo, é importante que o ajuste fiscal se volte para a contenção das despesas.

Nesse sentido, são positivas as manifestações recentes do Ministério da Fazenda e do Ministério do Planejamento e Orçamento quanto à identificação de possíveis fontes de redução de gastos federais em 2024 e 2025”, avalia Alban.

 

Elementos que o Banco Central deve levar em consideração

 

No cenário doméstico, a aceleração do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), observada em maio, não se repetiu em junho, mostrando que aquele movimento não se tratava de uma inflexão abrupta e sustentada na trajetória da inflação. Além disso, os núcleos de inflação – índices que desconsideram os itens mais voláteis do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – mostram desaceleração: a média de cinco núcleos do Banco Central que estava em 4,3%, em dezembro de 2023, registrou 3,4% em junho de 2024.

 

Já no cenário internacional, ressalta-se que o comportamento mais benigno da inflação nos EUA deve levar o Banco Central dos EUA (Federal Reserve Board – FED) a realizar dois cortes na taxa de juros norte-americana em 2024. Há algumas semanas, a expectativa era de apenas um corte, no fim de 2024.

 

O Banco Central Europeu (BCE) já deu início ao afrouxamento monetário, realizando um primeiro corte na taxa de juros em junho último.

 

Isso possibilita que o Brasil reduza a Selic sem risco de via diferencial de juros perante as economias desenvolvidas, especialmente os EUA, haja pressão sobre a taxa de câmbio e, consequentemente, sobre a inflação.

 

“Essas informações devem ser acompanhadas de perto, porque sinalizam parte do caminho que está sendo pavimentado para o Banco Central retomar a tão necessária trajetória de redução da Selic”, reforça Alban.

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