Quando chegam as férias escolares, notamos a seguinte situação: uma criança chorando, ansiosa e com muita energia. Pais nervosos, sem opções práticas, pegam o celular, tablet ou outro dispositivo tecnológico e entregam ao filho para distraí-lo e acalmá-lo. A estratégia é praticamente infalível, mas é importante ficar alerta.
Uma pesquisa divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil mostrou um aumento significativo no percentual de crianças, na faixa etária de 9 a 10 anos, que acessam a internet. O aumento foi de quase 15 pontos percentuais, passando de 79% em 2019 para 92% em 2021.
O pesquisador e neuroeducador, Fernando Henrique Lino, explica que “assim como um xarope, os celulares e telas são frequentemente utilizados com essa premissa de distrair as crianças. No entanto, essa estratégia pode ter efeitos negativos a longo prazo”. Segundo ele, quando os mais novos são acalmados com o celular, eles estão construindo uma associação de comportamentos ansiosos e busca por gratificação imediata.
Esse fenômeno, conforme ressalta o especialista, pode levar a consequências indesejadas, como crianças mais desobedientes, irritadas e com dificuldades em se concentrar. Ao se habituarem ao rápido acesso a estímulos e recompensas instantâneas, proporcionados pelos dispositivos eletrônicos, as crianças podem desenvolver uma dependência e uma falta de habilidades para lidar com o tédio, a frustração e a espera.
“Os celulares e as telas de maneira geral impulsionam esse aumento nos dados, isto acontece porque enquanto algumas crianças utilizam essas plataformas para se manter conectadas com os colegas de classe, seja através de aplicativos de mensagens instantâneas, redes sociais ou jogos, outra parte acaba caindo no consumo passivo de telas por horas a fio, o que não é bom.”, explica o neuroeducador.
A sociedade, de forma geral, possui essa propensão a subestimar o poder do exemplo dos pais dentro de casa, no caso da tecnologia, não é diferente. Famílias que têm o hábito de conversar com seus filhos enquanto olham o próprio celular, ou de passar horas a fio na frente das telas recreativas, contribuem para os hábitos abusivos de telas dos próprios filhos.
Fernando Lino explica esse cenário de forma mais detalhada em sua obra “Xarope Digital”, analisando como os gatilhos mentais foram incorporados nas plataformas e tecnologias disponíveis atualmente. O livro, disponível no link expõe os riscos relacionados ao abuso excessivo das telas e traz dicas práticas tanto para os pais quanto para as escolas, visando ajudá-los a evitar o abuso e promover um uso saudável e equilibrado das tecnologias digitais pelas crianças.
“É importante analisar que existem diversos estudos dos últimos 15 anos que apontam para diversos prejuízos no rendimento acadêmico, saúde mental e física do abuso das telas, principalmente para alunos a partir da pré-adolescência, que começam a ser mais exigidos academicamente”, reforça.
Para ajudar as famílias a aproveitarem ao máximo esse período de férias sem deixar que os aparelhos digitais sejam uma distração constante, o pesquisador indica algumas ações importantes:
1- Promova o exemplo: Pais e responsáveis devem dar o exemplo, mostrando um uso saudável e equilibrado dos dispositivos eletrônicos.
2- Crie espaços livres de celulares: Defina áreas ou momentos específicos em casa onde o uso de celulares não é permitido. Por exemplo, estabeleça uma hora do dia para uma refeição em família, sem aparelhos eletrônicos, ou um espaço de leitura sem distrações digitais. Defina horários específicos para o uso do celular.
3- Planeje atividades alternativas: Incentive seus filhos a se envolverem em atividades criativas, esportivas ou ao ar livre, como artesanato, esportes, passeios em parques, trilhas ecológicas, entre outros. Ter opções interessantes e divertidas disponíveis reduzirá a dependência do celular.