Decisão do Copom é preocupante, afirma CNI

Para Ricardo Alban, presidente da instituição, a manutenção da taxa continua penalizando a economia e, principalmente, os brasileiros com menos empregos e renda

 

Confederação Nacional da Indústria (CNI) vê com preocupação a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de manter a taxa Selic em 10,5% ao ano. O elevado nível em que a Selic se encontra faz o Brasil ter uma das maiores taxas de juros real do mundo e explica parte significativa do alto custo do crédito, situação que implica severas restrições à atividade econômica brasileira.

 

“Esperamos que a Selic volte a ser reduzida o quanto antes. A retomada de cortes é fundamental para a redução do custo financeiro suportado pelas empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e pelos consumidores. Caso contrário, seguiremos penalizando não só a economia brasileira, mas, principalmente os brasileiros, com menos empregos e renda”, reforça o presidente da CNI, Ricardo Alban.

 

Segundo a CNI, ainda que houvesse um corte de 0,25 ponto percentual na Selic, levando a taxa para 10,25% ao ano, a taxa de juros real (que desconsidera os efeitos da inflação esperada para os próximos 12 meses) seria de 6,2% ao ano. Portanto, estaria 1,5 ponto percentual acima da taxa de juros real neutra – aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica, estimada pelo BCB em 4,75% ao ano – sendo compatível com o atual quadro inflacionário.

 

Mesmo com esse corte de 0,25 ponto percentual, o Brasil seguiria ocupando a incômoda terceira posição entre as maiores taxas de juros real do mundo.

 

Os reflexos dessa política monetária tão restritiva são claros quando se observa o comportamento do mercado de crédito e da atividade econômica. A Selic alta eleva o custo de captação dos recursos para as instituições financeiras. Para piorar, essas instituições ofertam crédito com spread bastante elevado. O Brasil tem o terceiro maior spread bancário do mundo, sendo mais um fator que encarece empréstimos e financiamentos.

 

Somando isso à baixa oferta de crédito, há uma situação bastante adversa, tanto para os consumidores, que precisam de crédito para comprar bens de maior valor, quanto para as empresas, que precisam de crédito para investir, inclusive no âmbito do processo de neoindustrialização, orientado pela Nova Indústria Brasil (NIB). O consumo e o investimento são elementos centrais para o crescimento econômico.

 

Como fica o PIB?

 

Quanto à atividade econômica, os prejuízos da política monetária restritiva também são perceptíveis. As previsões apontam para um crescimento do PIB menos intenso este ano em comparação ao ano passado: 2,9% em 2023, contra previsão de 2,2% em 2024, segundo o Relatório Focus, do Banco Central. Além disso, as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) sinalizam que o Brasil deve crescer menos que os demais países em desenvolvimento: enquanto estima que o PIB brasileiro deve crescer 2,1% em 2024, nos países em desenvolvimento o crescimento do PIB deve ser, em média, de 4,2%.

 

Ajuste fiscal com redução de despesas contribuirá com a redução da taxa de juros

 

Um dos fatores que tem justificado o patamar elevado da Selic é a preocupação com a sustentabilidade das contas públicas. Embora o novo arcabouço fiscal seja uma medida relevante, fez com que o cumprimento das metas de resultado primário e o controle da dívida pública passassem a depender fortemente do aumento da arrecadação.

 

Como o Brasil já tem uma das maiores cargas tributárias do mundo, onerando profundamente o setor produtivo e os consumidores, é essencial que o ajuste fiscal foque na redução das despesas.

 

Outros elementos que o Banco Central deveria considerar

 

Por fim, a CNI aponta outros elementos importantes que o Banco Central também deve levar em consideração em sua avaliação, além das expectativas de inflação. No cenário doméstico, os núcleos de inflação – índices que desconsideram os itens mais voláteis do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – mostram desaceleração: a média de cinco núcleos do Banco Central que estava em 4,3%, em dezembro de 2023, registrou 3,4% em junho deste ano.

 

No cenário internacional, é preciso levar em conta que as incertezas globais quanto ao afrouxamento do aperto monetário nas economias centrais se reduziram. Nos EUA, o comportamento mais benigno da inflação deve levar o Fed (Banco Central dos EUA) a realizar dois cortes na taxa de juros norte-americana ainda em 2024 – conforme sinalização dada na decisão anunciada hoje. Na Europa, o BCE (Banco Central Europeu) já fez uma primeira redução nos juros, em junho. Isso possibilita que o Brasil reduza a Selic sem risco de, via diferencial de juros perante as economias desenvolvidas, especialmente os EUA, haver pressão sobre a taxa de câmbio e, consequentemente, sobre a inflação doméstica.

 

Essas informações devem ser monitoradas com atenção, porque apontam parte do caminho que está sendo pavimentado para o Banco Central retomar a tão necessária trajetória de redução da Selic.

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