Covid: 2ª onda teve mais mortes de pacientes submetidos ao pulmão artificial, segundo estudos internacionais
Médica brasileira especialista em ECMO alerta para a importância de se realizar a terapia em centros de referência e comenta os resultados publicados nas revistas Critical Care Medicine, da Sociedade Europeia de Medicina Intensiva, e The Lancet |
Estudo publicado na revista internacional Critical Care Medicine, da Sociedade Europeia de Medicina Intensiva, no último mês de setembro, mostra que o percentual de mortalidade de pacientes submetidos à ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea), terapia conhecida como “pulmão artificial”, foi significativamente maior na segunda onda da epidemia da Covid-19 se comparado ao primeiro surto da doença (60,1% vs. 41,1%). A pesquisa, realizada por médicos especialistas a partir de dados de 24 países, analisou o total de 319 casos, sendo 151 (47,3%) na primeira onda e 168 (52,6%) na segunda. Os resultados apontam que os principais fatores responsáveis pela piora do índice estão relacionados ao relaxamento nos critérios para indicar a terapia de acordo com o perfil e estado do paciente, e ao aumento de intervenções realizadas fora dos centros de referência. No início deste mês de outubro, a revista científica britânica TheLancet, a mais importante na área de ciências médicas, também divulgou um estudo, realizado por um grupo de cientistas liderados pelo especialista Ryan Barbaro, que constatou aumento de mortes na segunda onda. Foram consideradas mais de 4.800 pessoas em 41 países, tratadas com a terapia. Todas tinham acima 16 anos de idade e estavam com quadros graves de Covid-19. Cerca de 60% dos atendidos conseguiram sobreviver durante 90 dias, que foi o período de monitoramento dos pesquisadores, de março a junho de 2020. Já no final do último ano, houve registro de sobrevivência de menos da metade dos pacientes. Além disso, foi apontado maior tempo de permanência dos pacientes submetidos à ECMO (14 dias para 20 dias). Outra constatação foi que nos centros médicos, que já forneciam ECMO antes de maio de 2020, a mortalidade aumentou 52% após esse período. Já onde o tratamento ainda não tinha sido realizado antes da pandemia, 58% das pessoas submetidas à terapia de suporte morreram no período monitorado de 90 dias. Segundo a especialista em ECMO e diretora clínica da ECMO Minas, a médica Ana Valle, por ser um tratamento de alta complexidade, é fundamental que seja realizado em centros especializados e acompanhado por profissionais capacitados. “É importante destacar que a ECMO é capaz de salvar muitas vidas, porém, não é indicada a todos os pacientes de Covid em estado grave, por se tratar de um procedimento complexo e que envolve riscos. Para decidir pela realização do tratamento são avaliados diversos fatores, como idade, histórico de outras doenças e gravidade do quadro”, explica. A médica também esclarece que a ECMO é muito mais do que um equipamento: “Seu principal diferencial é a equipe multidisciplinar que atua diretamente nos cuidados com o paciente. Em um cenário ideal, acompanham a terapia uma equipe clínica envolvendo cirurgiões cardíacos, médicos intensivistas, fisioterapeutas, enfermeiros em um acompanhamento 24 horas”. No Brasil, existem 29 centros que se adequaram aos protocolos da ELSO (Extracorporeal Life Support Organization), entidade responsável por padronizar os procedimentos e acompanhar as melhores práticas do uso da ECMO em todo o mundo. Minibio Dra Ana Valle – médica e diretora clínica da ECMO Minas Médica clínica, intensivista e Research Fellow Hospital Erasme Bruxelas-Bélgica, doutoranda do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Especialista em ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea) adulto e pediátrico pela ELSO (Extracorporeal Life Support Organization), é diretora clínica da ECMO Minas e atua nas UTIs do Hospital Mater Dei e do Hospital Eduardo de Menezes (Rede Fhemig). |