Ary Barroso tem relevância artística e intimidade retratadas em documentário inédito
‘Ele Era Assim’ vai ao neste sábado, dia 19, às 18h45, no canal de TV por assinatura Music Box Brazil
|
||
Outubro de 2019 – A relevância de Ary Barroso para a cultura brasileira é inquestionável. O documentário inédito ‘Ele era Assim’ mostrará a influência do mineiro multifacetado nas artes, que completaria 116 anos no próximo 7 de novembro, além de revelar a intimidade da rotina dele, a relação com família e amigos, mas principalmente os bastidores da criação de suas músicas. A obra vai ao ar neste sábado, dia 19, às 18h45, no canal de TV por assinatura Music Box Brazil.
Dirigida pela cineasta especializada em biografias Angela Zoé, com produção da Documenta Filmes, a narrativa é intermediada por passagens do rico e variado acervo musical do compositor, sustentadas em construção espacial a partir de visitas aos principais ambientes frequentados pelo biografado. O personagem ilustre também é revivido em depoimentos de sua filha Mariúza, o amigo Sergio Cabral e em interpretações musicais de Ney Matogrosso para partituras inéditas e nunca antes reveladas.
O roteiro, que também é assinado por Zoé, é estruturado a partir dos momentos que antecedem a morte de Ary em 1964. Entre imagens de arquivo jornalístico e depoimentos, o filme faz uma retrospectiva das principais passagens da sua vida até uma virada de tempo e ritmo, levando ao nascimento em Ubá, Minas Gerais. A linha do tempo revela não somente o artista que foi, mas o grande pai, marido e personalidade de espírito inquieto. Assim, revivendo as múltiplas facetas, a tela reforçará um dos seus grandes desejos do artista em vida: ser imortal.
Compositor de uma das canções mais simbólicas e representativas para a construção do imaginário do país em escala mundial, como foi ‘Aquarela do Brasil’, a luta que Ary travou pelo reconhecimento do samba ganha espaço na narrativa. Ao ser condecorado com Ordem Nacional do Mérito pelo presidente Café Filho, em 1955, cutucou: “O samba subiu muito, presidente”. Também cantou e exaltou a Bahia internacionalmente, trazendo o ritmo e a ‘baianidade’ para conhecimento geral com sucessos como “Na baixa do sapateiro”. Outra batalha travada foi pela dignidade dos músicos e compositores pelos Direitos Autorais, chegando a fundar várias Sociedades Arrecadadoras.
Apesar da influência exercida para toda uma geração de músicos e para a própria formação da cultura brasileira, hoje o conhecimento geral a respeito de figura tão representativa para a formação do imaginário coletivo do brasileiro é certamente limitado. Mesmo no campo do som, a autoria de músicas de Ary costuma não ser diretamente atribuída a ele. É o caso de ‘No Rancho Fundo’ ou ‘Isto Aqui, O que é?’, sucessos eternizados nas versões de Chitãozinho& Xororó e Caetano Veloso e João Gilberto, respectivamente.
Ainda na música, suas enumeras faces emergem na multiplicidade de suas criações, de gêneros e estilos variados, regravadas ano após ano por grandes nomes da música. Alguns deles são Carmem Miranda, Frank Sinatra, Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso, Elza Soares, João Gilberto, Gal Costa, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Wilson Simonal, Jair Rodrigues e muitos outros.
Criador inquietante, como destaca o jornalista e crítico musical Tárik de Souza, foi “pianista e líder de orquestra, escolado na carpintaria cênica do teatro de revista (Vamos Deixar de Intimidade, Tu Quer Tomá Meu Home, O Amor Vem Quando a Gente Não Espera, É do Balacobaco), um dos artífices da trilha sonora da era do rádio (Camisa Amarela, Os Quindins de Iaiá, Três Lágrimas, Pra Machucar Meu Coração), atuante no cinema e depois na tevê, perpetrou, segundo a classificação de gêneros impressos nos rótulos dos discos, 165 sambas, 68 marchas, 18 sambas-canções, 14 canções, 10 valsas e 5 choros, entre outros estilos”.
Ary também se destacou em diferentes campos das artes e da vida. No teatro, foi maestro, roteirista, arranjador e diretor. No rádio, produtor, ator de novelas, narrador futebolístico e apresentador. Na tv, apresentador, criador de formatos e revelador de talentos musicais. Na política, pelo partido União Democrática Nacional (UDN), chegou a ser eleito vereador no Rio de Janeiro, em 1946. No lar, como bem relata a filha Mariúza, era “Marido atento e pai presente, procurava nos dar todo o conforto que podia. A família era muito importante para ele. Realmente ele nos amava muito”.
A abordagem original do documentário é embasado em minucioso trabalho de pesquisa, retratado em alguns momentos, remontando a busca pela memória de Ary em meio a partituras desconhecidas, discos inéditos e releituras dos clássicos por músicos da atualidade e filmando visitas ao arquivo e o processo de descoberta e redescoberta das canções. Além disso, na memória privada e familiar, detalhes da vida não pública desvendarão um Ary desconhecido a partir da filha Mariúza, do neto Marcio e do acervo herdado, cuidado e guardado por eles em seu apartamento.
Para além da sua força pública e histórica, a dimensão dramatúrgica da trajetória de Ary Barroso, tem elementos que suplantam a própria ficção e potencializam as perspectivas de uma narrativa documental instigante. O desígnio individual de um personagem tão rico interagindo diretamente com a sua época, possibilita a construção de um roteiro cheio de emoção e ritmo aliado a uma profunda e indelével reflexão sobre a sua influência na vida cultural brasileira. Ao sobrepor a voz e imagens de Ary Barroso a cenas de arquivo que se fundem com filmagens e depoimentos atuais, o documentário retrata um homem único e sua permanência na cultura brasileira.
|