Acelerando o financiamento para uma agricultura sustentável no Brasil
Ao fazer a transição para um sistema alimentar que seja positivo para as pessoas e para o planeta, o Brasil pode: i. Reduzir em US$ 300 bilhões os custos anuais em economia, meio ambiente e saúde pública; ii. Gerar US$ 70 bilhões em novas oportunidades de negócios por ano em 2030; iii. Criar até 8 milhões de novos empregos até 2030.
A Blended Finance Taskforce, com o apoio da SYSTEMIQ e Partnerships for Forests (uma iniciativa financiada pelo governo do Reino Unido) lançou o relatório “Acelerando o financiamento para uma agricultura sustentável no Brasil”, em um evento virtual com as importantes lideranças de diversos segmentos do Brasil.
O relatório demonstra como o Brasil pode usar as finanças para transformar seu sistema alimentar, em um cenário que seja positivo tanto para as pessoas quanto para o planeta, ajudando a impulsionar o crescimento econômico, a geração de empregos e, ao mesmo tempo, promovendo a opção de alimentos mais saudáveis, melhorando qualidade de vida das pessoas, protegendo a natureza e respeitando os compromissos climáticos.
Atualmente, o Brasil é o quarto maior produtor mundial de alimentos, porém o sucesso do setor agrícola possui um custo de US$ 300 bilhões a cada ano. Esses custos são resultados de um sistema em que produtores, investidores, comerciantes e o setores público e privado otimizam os recursos individualmente em vez de coletivamente, causando impactos ambientais que por consequência prejudicam a saúde pública e potencializam a pobreza nas regiões rurais.
“Conforme os setores financeiros e corporativos no Brasil adotam estratégias de negócios mais sustentáveis e se comprometem com as emissões líquidas zero, o país ganha potencial para ser um líder global na produção de alimentos positivos para a natureza. Como grande produtor, alimentando 10% da população mundial, o Brasil pode construir uma nova economia verde que seja boa para nossa sociedade, protegendo nossa rica biodiversidade”, afirma Pedro Guimarães, Sócio e Head da SYSTEMIQ na América Latina.
As finanças são uma parte crítica da transição no Brasil que deve mobilizar US$ 21 bilhões por ano em modelos de negócios regenerativos anualmente em 2030. O relatório em questão demonstra oito modelos de negócios positivos para a natureza na fronteira florestal, com foco em iniciativas que resultem em valor a partir de florestas em pé, intensificação sustentável e restauração florestal.
O retorno sobre o dimensionamento desses novos negócios é três vezes superior a necessidade de investimento e pode gerar 8 milhões de novos empregos até 2030. Este relatório identifica as barreiras para transição que produtores, investidores e governos enfrentam atualmente, destacando soluções necessárias para superá-las. O estudo também define ações prioritárias para as principais partes interessadas em todo o sistema alimentar brasileiro – delineando as mudanças sistêmicas necessárias para desbloquear o capital e transformar o sistema atual no país. Nenhum setor pode cumprir esta agenda sozinho, sendo necessária a coordenação e complementariedade entre vários interessados.
“O Brasil pode mudar o paradigma do financiamento de alimentos, criando US$ 70 bilhões em novas oportunidades de investimentos a cada ano enquanto enfrenta os principais custos ocultos do sistema. O país já está na vanguarda da inovação, trabalhando para dimensionar modelos de negócios regenerativos e desenvolvendo produtos e soluções financeiras vinculadas à sustentabilidade. Com base nas recomendações do relatório “Better Food, Better Brazil”, o país pode acelerar essa inovação, tornando-se o modelo global de como financiar a transição para uma economia positiva para a natureza”, afirma Katherine Stodulka, Diretora The Blended Finance Taskforce e Diretora de Finanças Sustentáveis na SYSTEMIQ.
“Precisamos minimizar e redirecionar o financiamento de práticas agrícolas prejudiciais ao meio ambiente, escalonando e acelerando em formatos que são positivas para a natureza. Os investidores e outras representantes do setor financeiro precisam reavaliar os retornos de curto prazo e trabalhar com fornecedores de capital catalítico para reduzir o risco e a incerteza em torno de novos modelos de negócios regenerativos. Também é necessária a complementariedade entre o setor público com os investimentos do setor privado, fortalecendo o ambiente atual, garantindo que a regulamentação ambiental seja devidamente aplicada e empregando capital público para ajudar a agregar projetos e incentivar práticas mais sustentáveis ”, afirma Rodrigo Quintana, gerente da SYSTEMIQ Brasil e América Latina.
“Precisamos fazer a transição de nosso sistema alimentar atual. Como ator-chave no sistema alimentar global, o Brasil pode ser um catalisador desta transformação. O relatório ‘Better Food, Better Brazil‘ – com suas recomendações específicas – é um grande exemplo de como a estrutura indicada no relatório “Growing Better” da FOLU pode ser adaptada para o nível nacional”, disse Morgan Gillespy, Diretor da Food and Land Use Coalition e Secretario de finanças da UN Food Systems Summit.
“A Partnerships for Forests (P4F) apoia oportunidades de negócios e modelos de investimento nos quais o setor privado, público e as comunidades locais podem obter maiores retornos, preservando ou restaurando florestas. No Brasil, nosso trabalho é focado especialmente nas cadeias de valor agrícolas, que são os principais motores do desmatamento. Nossa experiência mostra que a ação colaborativa e parcerias fortes são essenciais para catalisar investimentos nesses modelos. Este relatório mostra alguns dos arranjos de sucesso que têm sido apoiados pela P4F no país, fortalecendo o potencial de escalonamento e replicação desses modelos”, afirma Felipe Faria, Gerente Regional para a América Latina da Partnerships for Forests.
“Produzir alimentos e conservar a natureza de forma harmônica é sem dúvida um dos maiores desafios deste novo século. A SYSTEMIQ Brasil em parceria com a Blended Finance Taskforce e Partnerships for Forests trazem luz e caminhos financeiros para que esse processo seja acelerado e evolua de forma virtuosa nos próximos anos”. Afirma André Guimarães, Diretor executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazonia).
João Pacífico, CEO da Fundação Gaia, afirma que “este relatório não é apenas educacional, demonstra também as ações específicas exigidas de financiadores para superar as barreiras existentes para escalar modelos de negócios positivos para a natureza.”
A agricultura e os sistemas alimentares são essenciais para a ação climática global. O Brasil tem a oportunidade de estar na vanguarda da transformação global para um sistema alimentar regenerativo, adaptativo e resiliente ao clima.
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Notas adicionais
- De acordo com o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), de 21% até 37% das emissões totais de gases de efeito estufa (GEE) são atribuíveis ao nosso sistema alimentar atual.
DEFINIÇÃO POSITIVA DE NATUREZA
- Os sistemas alimentares positivos para a natureza são sistemas que estimulam o crescimento econômico e alimentam uma população em crescimento, promovendo também dietas nutritivas, melhoram os meios de subsistência e protegem a natureza: sistemas alimentares que buscam lucratividade de longo prazo em vez de priorizar ganhos de curto prazo, que não semeie desigualdade ou conflitos, e não esgote irreversivelmente os recursos dos quais depende.
CÚPULA DOS SISTEMAS ALIMENTARES DA ONU
- A primeira Cúpula dos Sistemas Alimentares da ONU foi realizada online em 23 de setembro de 2021. O Secretário-Geral da entidade anunciou a Cúpula dos Sistemas Alimentares da ONU em 2019, reconhecendo o papel da transformação do sistema alimentar na realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030. A enviada especial à Cúpula, Dra. Agnes Kalibata, convidou o Banco Mundial para ser o guardião da Finance Lever of Change com o International Food Policy Research Institute (IFPRI) e a Food and Land Use Coalition (FOLU), com o apoio da SYSTEMIQ e The Blended Finance Taskforce.
- The Finance Lever acaba de lançar o Food Finance Architecture como um roteiro para desbloquear capital para um sistema alimentar melhor para todos.
SOBRE The Blended Finance Taskforce
The Blended Finance Taskforce foi lançada em 2017 para enfrentar as barreiras que impedem o capital de fluir para uma economia inclusiva, de natureza positiva e líquida zero. A Taskforce trabalha com investidores institucionais, seguradoras, capital privado, bancos de desenvolvimento, VC, capital de impacto, fundos climáticos, doadores e filantropia para ajudar a mobilizar capital privado para a ação climática e os ODS. A Força-Tarefa trabalha em aspectos-chave do redesenho do sistema financeiro, desde mercados de carbono até transparência de pensões e ferramentas de transição para investidores. Ao reunir líderes em todo o sistema financeiro, a Taskforce ajuda a projetar e dimensionar veículos combinados, constrói capacidade financeira sustentável em mercados emergentes e trabalha com pioneiros para desenvolver parcerias de investimento inovadoras e produtos financeiros, especialmente para dimensionar modelos de negócios de capital natural e infraestrutura sustentável. O secretariado da Taskforce é administrado pela empresa de mudança de sistemas SYSTEMIQ. Temos orgulho de fazer parceria com Food and Land Use Coalition, Partnerships4Forests, G7 Impact Investing Taskforce, Partnerships 4 Green Growth, The Tri Hita Karana Forum for Sustainable Development e outras plataformas que aceleram a transição para uma economia mais sustentável e equitativa.
SOBRE A SYSTEMIQ
SYSTEMIQ é uma empresa fundada no Reino Unido, em 2016, com o objetivo de acelerar mudanças sistêmicas e promover negócios e políticas públicas sustentáveis de acordo com as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris e pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Organizações das Nações Unidas. A empresa realiza parcerias de negócios, finanças, formuladores de políticas e com a sociedade civil para tornar os sistemas econômicos verdadeiramente sustentáveis. Combinamos pesquisa de alto nível com trabalho local de alto impacto. Por meio de nosso trabalho com alimentos, uso da terra e em oceanos, identificamos soluções com maior potencial para acelerar a transição para a rede zero, proteção da biodiversidade, investimos em startups, apoiamos novos fundos e incubamos novos negócios.
SOBRE PARTNERSHIPS FOR FORESTS
A Partnerships for Forests catalisa investimentos nos quais o setor privado, o setor público e as comunidades podem obter valor compartilhado a partir de florestas sustentáveis e uso sustentável da terra. Fazemos isso criando “Parcerias Florestais” prontas para o mercado e que oferecem um equilíbrio atraente de riscos e benefícios. O programa também apóia medidas do lado da demanda que fortalecem a demanda por commodities ambientalmente corretas e atividades para criar as condições adequadas para o investimento sustentável