A volta do Brasil ao encontro do G7
João Alfredo Lopes Nyegray*
O G7, grupo que reúne as sete economias mais avançadas do mundo, é uma organização informal criada em 1975, como G6, que passou a incluir o Canadá em 1976 – além dos membros originais: França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos. O objetivo do grupo é sempre promover e incentivar a cooperação econômica, política e de segurança entre seus membros, além de discutir questões globais de interesse comum. Embora o peso econômico do grupo tenha diminuído – de cerca de 50% do PIB global em 1990 para pouco menos de 30% hoje – seus poderes político e militar são inegáveis.
Em reuniões que ocorrem anualmente, os líderes dos países do G7 debatem e coordenam ações em uma variada gama de assuntos, que vão desde o comércio internacional, a segurança global, o meio ambiente até questões de saúde. Embora o G7 não seja propriamente uma Organização Internacional com secretaria permanente, o grupo trabalha em colaboração estreita com organizações formais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Neste ano, o Brasil é um dos convidados extra – esses convites ficam a cargo do país anfitrião, o Japão neste ano – junto da Austrália, Índia, Coreia do Sul, Vietnã, Indonésia, Comores (para representar a União Africana) e Ilhas Cook (para representar as Ilhas do Pacífico). Essa é, certamente, uma tentativa japonesa, de dar à reunião uma amplitude mais global e menos ocidental – o que faz muito sentido na perspectiva das Relações Internacionais. Além disso, os convidados deste ano refletem a necessidade da comunidade internacional de dar respostas mais amplas a desafios coletivos – como a guerra na Ucrânia, condenada por quase a unanimidade do planeta, à exceção da Rússia, Síria, Nicarágua, Coreia do Norte e Belarus.
O Brasil, que não era convidado para o encontro desde 2009, pode aproveitar a ocasião para reforçar uma política externa ativa – o que estava em falta nos últimos anos. O presidente Lula da Silva teve 11 reuniões bilaterais, tendo se reunido com líderes da França, Austrália, Comores, Canadá, Japão, Índia, Indonésia, Vietnã e Indonésia. É certamente muito positivo que tenhamos discussões abertas com essas nações: algumas, nossos maiores parceiros comerciais; outras, mercados potenciais para os produtos brasileiros.
A decepção, no entanto, foi a postura brasileira em relação à Ucrânia. O atacado país europeu vem contando com a solidariedade e o apoio de boa parte do planeta, incluindo os maiores compradores globais dos produtos brasileiros. O presidente Lula não apenas não se reuniu com o líder ucraniano Volodymyr Zelensky, como chegou a insinuar, mais uma vez, que a Ucrânia – país atacado – é tão culpada pela guerra quanto a Rússia – país que empreende uma guerra de agressão contrária aos preceitos do Direito Internacional.
Ao afirmar não ter ido ao G7 para discutir a guerra, e sim a paz, a mensagem do presidente Lula da Silva acabou sendo vista internacionalmente como muito mais pró-Rússia do que pró-paz. Certamente a discussão sobre o fim das hostilidades é necessária, mas não nos termos de Putin, lado para o qual a política brasileira parece se inclinar. Mais do que isso, essa é a segunda ou terceira vez em que o Brasil, um importante player do cenário global, dá esse confuso recado pró-Putin. Com isso, acabamos do lado oposto não apenas dos nossos maiores parceiros, mas também de boa parte do mundo.
Para construir e restaurar a paz, mais do que condenar a guerra, é necessário ouvir ambos os lados e, em especial, o lado agredido. Tanto o Brasil quanto Índia e China parecem ignorar que a Ucrânia teve sua integridade territorial violada. Uma vez que já se reuniu com Putin, a neutralidade pede que Lula tivesse se encontrado com Zelensky.
Além disso, Lula da Silva elevou o tom das críticas a Biden e aos EUA, afirmando que os estadunidenses não ajudam o fim do conflito ao criticar Putin e falar sobre sanções. O que o presidente brasileiro parece esquecer é de que, até aqui, a Organização das Nações Unidas e a Ucrânia contabilizaram mais de 70 mil crimes de guerra cometidos pelos russos, o que inclui tortura, assassinatos de civis, sequestro de crianças e estupros. É possível alcançar a paz sem sancionar ou penalizar aqueles que perpetram tais barbáries?
*João Alfredo Lopes Nyegray é doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior na Universidade Positivo (UP). Instagram: @janyegray