A relação do Instituto Butantan com o Dia Nacional da Saúde Pública
Entenda como e quando a instituição de Vital Brazil se consolidou na história da medicina após um surto de saúde pública e sua relação com o Dia Nacional da Saúde Pública comemorando neste sábado (5)
Ao contrário do que muitos pensam, não foram as cobras que levaram ao surgimento do Instituto Butantan, órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. O surto de peste bubônica – doença transmitida, principalmente, pela picada de pulgas de ratos contaminados pela bactéria Yersinia pestis – que se propagava a partir de Santos (SP) no ano de 1899, foi o responsável pela criação da instituição.
Giuseppe Puorto, diretor cultural do Butantan, descreve o instituto como “um marco na saúde pública brasileira”. O cientista explica que, atualmente, o Butantan “estuda e produz novos soros para cobras, aranhas, escorpiões e lagartas. Além disso, investe na produção de vacinas e, aliado às pesquisas e produção de imunobiológicos, preocupa-se com a divulgação das descobertas e ciência aqui produzida”.
Na época, a administração pública estadual criou um laboratório de produção de soro antipestoso (que combate a peste), vinculado ao Instituto Bacteriológico (atual Instituto Adolpho Lutz). Esse laboratório foi instalado na Fazenda Butantan, na zona Oeste da cidade de São Paulo, e, em fevereiro de 1901, foi reconhecido como instituição autônoma sob a denominação de Instituto Serumtherápico. Vital foi o primeiro diretor da instituição.
Curiosamente, Vital acabou se infectando e chegou a ser atendido e diagnosticado por Oswaldo Cruz. Jornais da época chegaram a noticiar o caso:
“O dr. Vital Brazil apresentou ontem à noite sintomas da peste bubônica, os quais desapareceram com inoculação em alta dose do soro Yersin. O dr. Brazil, que se conserva fraco e abatido, voltou hoje ao serviço de isolamento.” (O Paiz, 24 de outubro de 1899)
E o Dia Nacional da Saúde?
A celebração anual em 5 de agosto surgiu por se tratar justamente do aniversário de Oswaldo Gonçalves Cruz, médico e sanitarista que atuou no combate e erradicação das epidemias da febre amarela, varíola e peste bubônica.
Importante lembrar, que ele não agiu sozinho nessas lutas: trabalhou ao lado de grandes sanitaristas, como Emílio Ribas, Adolfo Lutz e Vital Brazil, o fundador do Instituto Butantan.
E as cobras?
Entusiasta de estudos envolvendo acidentes ofídicos – aqueles causados pelas serpentes –, Vital passou a extrair a peçonha das cobras mais encontradas no estado, como a cascavel, jararaca, urutu e jararacuçu. Dessa forma, conseguiu determinar as quantidades de veneno e suas doses letais para vários animais de laboratório.
Não foi só isso que o médico desvendou. Ele também descreveu os sintomas e notou como cada peçonha agia de um modo diferente.
Até então, a medicina contava apenas com um descoberto na França. Esse havia sido criado a partir do veneno da naja e, até então, pensava-se que o composto tinha ação universal, ou seja, agia contra todos os tipos de peçonha.
“O soro contra veneno de serpentes foi descoberto na França por dois grupos de pesquisadores que achavam ter descoberto o soro universal. Vital Brazil teve acesso a este soro, testou contra nossas serpentes e descobriu que não faziam efeito, que o soro é específico, revolucionando o tratamento contra os acidentes com serpentes”, completa Giuseppe Puorto.
Ciência, educação e cultura
Nem só de pesquisas vive o Butantan. Dentro de seus espaços, há ainda o Parque da Ciência, um complexo cultural vinculado ao Centro de Desenvolvimento Cultural do Instituto Butantan, criado em 2019.
Inserido em uma área verde de aproximadamente 725 mil metros quadrados, o Parque tem o objetivo de inspirar, em públicos diversos, o interesse e a curiosidade pela ciência e pela pesquisa por meio de ações educativas, ambientais e de lazer.
Confira algumas de suas exposições que remontam aos primórdios do Butantan:
Espaço Terra Firme
O Espaço Terra Firme, no Parque da Ciência, conta com a exposição “Sérum ou Soro”, que apresenta a primeira fase do Butantan, com foco na produção de soros e no trabalho desenvolvido por Vital Brazil neste ambiente.
São exibidas fotos, vídeos e livros antigos, dados atualizados sobre soros e vacinas e algumas peças didáticas sobre animais peçonhentos. Neste espaço, o público tem contato com acervos do Centro de Memória, da Biblioteca e das Coleções Zoológicas do Butantan.
Edifício Vital Brazil
O Edifício Vital Brazil conta com duas salas de exposições. A primeira é a Robert Koch, que abriga uma exibição permanente com objetos pessoais de Vital Brazil. Já a segunda é a Sala Cesário Motta, aberta ao público com a mostra ‘Caminhos da ciência: encontros de Vital Brazil e Emílio Ribas’.
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