A crise energética na Venezuela e as consequências para o Brasil
O estado de Roraima é afetado diretamente pelos sucessivos apagões que afetam a Venezuela, já que grande parte da energia consumida no estado é proveniente do país vizinho. Isso foi confirmado, inclusive, com o apagão do último dia 7 de março, fato este que faz com que o estado receba energia elétrica de usinas termoelétricas. Além disso, a nova tentativa de depor o presidente Nicolas Maduro, iniciada no dia 30 de abril, pode piorar a situação. Logo, a forma mais segura de trazer tranquilidade aos roraimenses seria interligar o estado com o sistema elétrico nacional.
Essa interligação evitaria os prejuízos com o corte de fornecimento da usina hidrelétrica de Guri, na Venezuela, e permitiria que a energia produzida em outras regiões do Brasil chegasse até Roraima de forma segura e sem riscos de interrupção. Obviamente, nenhum sistema elétrico é totalmente imune a falhas, mas a interligação com a rede nacional traria mais confiabilidade e flexibilidade do que temos agora. Isso porque falhas que possam ocorrer em um determinado ponto do sistema não são sentidas de forma significativa em outros pontos, pois o sistema como um todo acaba se compensando.
Outro fator determinante é a economia que esse sistema gera. A implementação da linha de transmissão de 721 quilômetros necessária para a interligação geraria um custo inicial alto, mas a geração de energia a partir de usinas termoelétricas é mais cara do que em usinas hidrelétricas, de onde vem a maior parte da energia elétrica gerada no Brasil. Logo, o dinheiro seria recuperado com o tempo.
Sabe-se também que o sistema elétrico brasileiro não é composto somente por usinas hidrelétricas. A parcela de energia proveniente da energia solar e eólica vem aumentando consideravelmente, e com um custo de produção muito abaixo da produção de hidrelétricas. Aliás, a interligação do estado de Roraima ao sistema poderia incentivar o investimento nessas fontes de energia na região, fortalecendo e ampliando o desenvolvimento tecnológico.
Por fim, a interligação energética do estado de Roraima com o restante do Brasil praticamente resolveria o problema no fornecimento de energia, pois seria, na prática, o mesmo sistema do restante do país. Além disso, traria mais possibilidades de desenvolvimento e crescimento econômico ao estado. O pontapé para isso deve ser dado pelo governo público, com o apoio da sociedade. Sociedade esta que seria beneficiada com a geração de empregos e a possibilidade de melhora na qualidade de vida da população.
Samuel Polato Ribas é engenheiro eletricista, mestre em processamento de energia pela UFSM e professor do curso de Engenharia Elétrica do Centro Universitário Internacional Uninter.