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Escalada do dólar e taxa de juros preocupam setor produtivo, alerta CNI

Moeda americana nas alturas e Selic elevada vão na contramão do desenvolvimento, contribuindo decisivamente para a perda do poder aquisitivo da sociedade

 

O dólar em patamar recorde e os juros cada vez mais altos de forma injustificada são componentes que preocupam a indústria e podem colocar em risco o desenvolvimento econômico do país, diante de um cenário de perspectivas positivas conduzidas pela aprovação da reforma tributária, pelo avanço do acordo Mercosul-União Europeia e os investimentos do programa Nova Indústria Brasil (NIB).

 

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) ressalta que, embora possa beneficiar a competitividade das empresas brasileiras por um lado, em especial as exportações, a desvalorização do real frente ao dólar impõe efeitos negativos sobre o setor produtivo. A indústria de transformação, por exemplo, importa 23,7% dos insumos usados no processo de produção, somando-se a indexação relativa dos preços das commodities. Com o dólar mais alto, sobem também os custos para essas empresas, o que pode encarecer os produtos aos consumidores finais.

 

“A nossa moeda perde valor em compasso com a piora das expectativas do mercado financeiro, que contrariam dados reais da performance da economia e do controle da dívida pública. É momento de buscar maior convergência e coordenação entre os atores para enfrentar esse cenário de instabilidade, que beneficia a poucos enquanto prejudica o setor produtivo e o desenvolvimento da nossa sociedade, principalmente com a real perda de poder aquisitivo”, enfatiza o presidente da CNI, Ricardo Alban.

 

A alta do dólar somada à crescente taxa de juros pode comprometer ainda mais a atividade produtiva, com possibilidade de resultados inversos na política de controle da inflação no curto e médio prazos. A CNI alerta que existem elementos importantes a considerar para as expectativas futuras. Entre eles, o esperado crescimento da safra deverá contribuir decisivamente nos preços dos alimentos; os preços de petróleo, que apresentam certa estabilidade; o crescimento da massa salarial, que não deve manter o ritmo com a indisponibilidade de injeção de recursos, como ocorreu no biênio 2022/23.

 

“O tão desejado equilíbrio e responsabilidade fiscal são indiscutíveis e devem ser perseguidos como política de Estado, não apenas de Governos. O pacote fiscal anunciado pelo governo prevê cortes efetivos de gastos públicos, ainda que não se mostrem suficientes. Mas, definitivamente é o passo na direção. Cabe a todos os poderes trabalharem pela racionalidade dos gastos públicos, com apoio da sociedade”, avalia Alban.

 

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa básica de juros para 12,25% na reunião de dezembro ignorou elementos importantes, tanto no cenário interno quanto externo: desaceleração da atividade econômica, já observada no PIB do terceiro trimestre, além de tendência de redução de juros nas principais economias globais.

 

“O que o anúncio inédito de que teríamos mais dois aumentos consecutivos de mais 1% na taxa Selic traz de melhoria e contribuição para as expectativas atuais, que já sofrem tantos movimentos especulativos?”, questiona o presidente da CNI. Segundo ele, os juros efetivos e o spread praticados no Brasil já são altíssimos, contribuindo para encarecer os custos das cadeias produtivas, já pressionados pelo câmbio.

 

Questão fiscal traz preocupação, mas não há motivos para alarde

 

Para a CNI, a questão fiscal é plural e traz preocupação, mas o déficit de 2024, estimado atualmente em 0,18% do Produto Interno Bruto (PIB) para fins de avaliação da meta fiscal, não é motivo para alarde, uma vez que deve ficar dentro da banda inferior de tolerância para o resultado primário.

 

Já em 2025, as contas públicas devem registrar prejuízo de R$ 42 bilhões – descontados os pagamentos dos precatórios –, o equivalente a 0,4% do PIB. Ainda que a projeção aponte para um déficit fora da banda de tolerância de 0,25% do PIB, a CNI entende que o cumprimento da meta é exequível, dependendo de um contingenciamento totalmente viável do orçamento.

 

Além disso, as medidas de redução de despesas propostas pelo governo, estimadas em R$ 70 bilhões para os próximos dois anos, contribuem para a sustentabilidade do novo arcabouço e melhoram a sintonia entre as políticas fiscal e monetária. Essas iniciativas representam pé no freio do impulso fiscal sobre a atividade econômica, movimento que já vem ocorrendo em 2024, sobretudo a partir do segundo semestre, e deve continuar em 2025, favorecendo o controle da inflação.

 

O ajuste sugerido pelo governo é positivo, embora ainda possa ser aperfeiçoado pelo Congresso, e tende a ser efetivo na contenção das despesas. Logo, a CNI entende que a reação ao pacote, com desvalorização da taxa de câmbio e alta nos juros futuros, é exagerada e deve ser interpretada com cautela.

 

Cabe destacar que a repercussão negativa do pacote se deve ao anúncio da isenção de imposto de renda de quem tem rendimento mensal de até R$ 5 mil. Mas, como a reforma da renda a ser enviada ao Congresso será neutra do ponto de vista fiscal, essa reação será revertida, o que faz com que qualquer tomada de decisão de política monetária a partir da reação seja precipitada e equivocada.

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