A origem do Circo – Os primeiros espetáculos no Brasil

• O Circus Maximus e seus gladiadores em Roma no século IV a.C.
• O circo moderno na Inglaterra por volta de 1700 e seus shows em pista circular
• Circo Giuseppe Chiarini, o primeiro a exibir espetáculos no Brasil
• Os circos Nerino e Garcia que marcaram época
• Os palhaços mais famosos: Polydoro,Picolino, Carequinha e Benjamim de Oliveira.

Por Zelito Magalhães
O primeiro grande circo que se tem conhecimento foi o Circo Maximus, construído por volta do século IV a.C., na Roma Antiga. A estrutura tinha a capacidade para 150 mil pessoas, com corridas de carruagens, lutas de gladiadores, apresentações com animais ferozes e pessoas de talentos comuns. Por todo o Império Romano, os espetáculos eram oferecidos de forma criativa nas mãos de gladiadores. Presos e condenados, como ladrões, soldados desertores, escravos que haviam descumprido as ordens de seus senhores ou apenas cristãos. Essas condenações tinham até nome: dommatro ad bestias.

Os circos modernos
Estes circos surgiram na Inglaterra e de lá se espalharam mundo afora. Por volta de 1768, os saltimbancos começaram a fazer parte de shows projetados para uma pista circular. Eram os chamados espetáculos circenses. O primeiro circo a entrar oficialmente no Brasil foi o circo Giuseppe Chiarini, em 1934. Tinha um elenco de oitenta artistas, quarenta cavalos e feras exóticas. Participou de várias turnês mundiais em diversos continentes.

Circos famosos
O Circo Nerino foi inaugurado em Curitiba, no ano de 1913 pelo casal de origem francesa Nerino e Armandine Avanzi. Percorreram o país durante cinco décadas, encerrando as atividades em 1964.

Bemjamim de Oliveira um dos maiores artistas circenses do século XX

O palhaço Picolin era Roger Avanzi, filho do casal; já o filho mais velho, Roger Avanzi, era ator e acrobata. Estreou no palco, ainda jovem, em uma comédia e também se apresentava no picadeiro dando saltos no trampolim. Ao se encerrarem as atividades circenses em 1964, Roger Avanzi foi para o Circo Garcia, onde trabalhou de 1966 a 1973. Foi professor da Academia Piolin de Artes Circenses e do Circo Escola Picadeiro. O Circo Garcia foi fundado em Campinas, São Paulo, no ano de 1928, pelo paulistano Antolim Garcia. Filho de imigrantes espanhóis, conduziu também no exterior a Casa de Espetáculos. O jornal Correio Popular, de Campinas, em sua edição de 07 de janeiro de 2003, assim anunciou os últimos dias do Circo: “Circo Garcia desce em definitivo suas lonas. – As cortinas do espetáculo se fecharam para sempre. Atolado em dívidas que chegam à casa de R$ 800 mil, o Circo Garcia, o mais antigo do Brasil, encerrou as suas atividades. A companhia circense chegou a figurar, na década de 70, entre as quatro maiores do mundo. O apogeu aconteceu entre 1954 e 1964, quando os espetáculos, com cinco lonas e cerca de 200 artistas contratados, viajaram por 72 países do mundo. Quase toda a dívida atual é referente a salários atrasados. Além disso, diversas leis passaram a proibir, em determinados municípios, a presença de animais no picadeiro. E, para Garcia, “não existem espetáculos sem animais”. Antolim faleceu em 1987.

Famosos palhaços
Polydoro (José Ferreira Polydoro) nasceu em 16 de março de 1854, na Ilha do Faial, em Portugal. Aos 13 anos, em 1867, veio para o Brasil, no Rio de Janeiro, onde ficou sob os cuidados de um tio que bancou seus estudos no Colégio Dom Pedro II. Em 1870, ingressou no Clube Ginástico Português, onde recebeu formação de ginástica e trapézio e realizou suas primeiras apresentações. Iniciou sua vida artística na Barraca Luso-Brasileira, situada no Campo de Sant’Ana. Em 1873, entrou para a Companhia Elias Castro, iniciando, assim, sua carreira no circo, onde veio a se tornar palhaço.

George Savalla, o palhaço Carequinha

Ao longo de 43 anos de carreira, integrou mais de 50 companhias circenses, como o Circo Bastos, Circo Ciarini, Companhia Candido Ferraz, com quem Polydoro realizou sua primeira turnê no Uruguai e Argentina; Cia. Sampaio, Circo Pery, Circo Americano, Circo Irmãos Carlo, Circo Casali, entre outros.

Foi um dos primeiros palhaços cantores a conquistar o respeito do público. Casou-se duas vezes. Do seu primeiro casamento com Francisca Azevedi, nasceram três filhas: Astrogilda, Elia, que faleceu ainda criança, e Arathuza. Essa chegou a se apresentar com o pai no Circo Pery. Do casamento com Adele Figueirôlla, bailarina e equestre, nasceram dez filhos: Arnaldo, Arabella, Nilo, Saint Clair, Dural, Olga, Luiz, José, Arnaldo e Adelita. José Ferreira Polydoro faleceu aos 62 anos, em Florianópolis, no dia 2 de novembro de 1916. Naquele ano, o artista já havia contabilizado sua participação em 5.983 espetáculos, em 43 anos de carreira, apresentando-se em 82 cidades paulistas, 59 mineiras, 47 fluminenses, 19 gaúchas, 8 catarinenses, 5 paranaenses e uma Capixaba, 13 cidades argentinas e 8 uruguaias, quando integrava o elenco do Circo Paulista. Foi lançado o livro “O Diário de Polydoro”, no Centro de Memórias do Circo, no segundo semestre de 2020. Com quase 400 páginas, a obra é composta pela digitalização do documento histórico e outros capítulos que objetivam contextualizar o documento como uma árvore genealógica da família germinada por José Ferreira Polydoro, que já chegou na sua 5ª. geração.

Circo Ocidental – George Savalla Gomes, que ficou conhecido como o Palhaço Carequinha, nasceu em Rio Bonito, município do Rio de Janeiro, a 18 de julho de 1915. Seus pais eram os trapezistas Elisa Savalla, de origem peruana, e Lázaro Gomes, que morreu quando George tinha cinco anos. Sua mãe estava grávida e fazia performance de trapézio quando entrou em trabalho de parto. Aos dois anos de idade George perdeu o pai e sua mãe casou-se com Ozório Portilho, que deu ao menino uma peruca, uma maquiagem e a missão de ser o Palhaço Carequinha. Sua primeira apresentação ocorreu em Carangola, interior, no Circo Ocidental, pertencente ao padrasto, no interior do estado de Minas Gerais. Aos 12 anos era o palhaço oficial Carequinha. Em 1938 estreou como cantor na Rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro, no programa “Picolino”. Fez história na televisão brasileira por ser o palhaço a ter um programa, o “Circo Bombril”, posteriormente rebatizado como “Circo do Carequinha”, programa que comandou por 16 anos na TV Tupi / Manchete. Após dois anos e meio, Carequinha deixou o programa que foi incorporado por Xuxa, no programa “Clube da Criança”. O palhaço Carequinha morreu em 5 de abril de 2006.

Circo Sotero – Filho de Malaquias Chaves e de Leandra de Jesus, Benjamim de Oliveira nasceu em 11 de junho de 1870, na fazenda dos Guardas, na atual cidade do Pará de Minas. Sua mãe tinha sido uma escrava de “estimação” e, por isso, teve todos os filhos alforriados ao nascer. Do pai não guardava boas lembranças, pois era um capataz e considerado um “homem terrível que lhe batia diariamente”. Com uma infância difícil, aos doze anos já tinha exercido diversas funções: carreteiro, candeeiro, guarda-freios e ainda vendedor de bolos nas portas dos circos que passavam pelo Arraial. O primeiro contato com a vida circense foi através das trupes que chegavam à sua vila. Ainda jovem, Benjamim decidiu fugir com o Circo Sotero que visitava a sua cidade. Após quase três anos de trabalho nesse circo, fugiu pela segunda vez, porque era espancado. Como ele próprio dizia, “meu destino era fugir. Destino de negro…” Foi parar num grupo de ciganos, e depois de alguns dias, descobriu que queriam trocá-lo por um cavalo. Sua estreia como palhaço se deu de forma acidental aos vinte anos de idade, quando foi substituir o palhaço da companhia que havia adoecido. “Pela primeira vez apareci vestido de palhaço”, disse. Apesar de tantos sucessos, Benjamim terminou seus dias praticamente na miséria, quando recebeu uma mísera pensão, que pouco dela usufruiu. O palhaço negro Benjamim faleceu em 30 de maio de 1954, aos 84 anos.

Circo Garcia – Antolin Garcia, único filho do casal João Garcia e Ana Magaz Lozano Garcia, naturais de Almendralejo, na Espanha. Antolin nasceu em São Paulo em 1904; em 1928 fundou o Circo Garcia. Apaixonado pelo teatro, tornou-se ator amador, exercendo paralelamente a profissão de alfaiate. Foi descoberto em 1923 por Benjamim de Oliveira, cujo circo estava armado na Praça da Bandeira, no Rio de Janeiro. Foi o primeiro a ser contratado pela companhia durante sete anos. Trabalhou nos Circos França, Guarani, Serrano e Circo Zoológico de Juvenal Pimenta. Em 1937 comprou o dito Circo, que substituiu por Circo Garcia; ele mesmo confeccionou todo o guarda-roupa do elenco. Excursionou durante onze anos pelos continentes africano e asiático, América do Sul e Central, época em que alterou o nome para Circo Brazil. universo circense. Antolin Garcia faleceu no Piauí, em 1987. Deixou publicada a obra “O Circo”, na qual revela sua experiência no universo circense.

Roger Amâncio, o Palhaço Picolino

– Hoje tem espetáculo!
– Tem, sim, senhor!

Eram os tempos de 1945 em que chegaram as troupes circenses em Fortaleza. Mais precisamente no bairro Joaquim Távora. Ali na Rua Padre Valdevino, ao lado da antiga Coelce (hoje Enel) se instalaram principalmente os Circos Nerino e Garcia. Por volta das quatro horas da tarde, o palhaço, com suas pernas de pau, enfrentava a areia frouxa, acompanhado de um bloco de vinte ou trinta garotos. Berrava aos quatro ventos:
– Hoje tem espetáculo!
– Tem, sim, senhor! – respondia a garotada
– Às oito horas da noite!
– Sim, sim, senhor!
– O palhaço o que é?
– É ladrão de muié!
– Arrocha, rapaziada!

Por quase uma hora de andança pelas ruas, o palhaço e a garotada regressavam ao circo, onde um empregado marcava o braço de cada acompanhante do cortejo com tinta a óleo. Era o ingresso que garantia a entrada no circo para assistir ao espetáculo daquela noite. Velhos tempos, belos dias!#

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