O papel dos auditores independentes em economias emergentes
Cristiano Mendes* As economias emergentes enfrentam uma série de desafios únicos que são amplificados pela globalização e pelas rápidas mudanças tecnológicas. Estes desafios incluem, mas não estão limitados a volatilidade econômica e governança corporativa frágil. Além disso, a complexidade fiscal, a imposição de regulamentos e leis, desafios no comércio além-fronteiras, deficiências nas infraestruturas financeiras e climas políticos instáveis são obstáculos comuns que as empresas podem enfrentar. Em economias emergentes, a flutuação cambial, a inflação e as crises financeiras representam riscos significativos para a estabilidade e o crescimento dos negócios. A flutuação cambial impacta diretamente os custos de importação e exportação, podendo afetar a lucratividade das empresas. A inflação, por sua vez, erode o poder de compra da moeda e pode levar a perdas significativas para empresas e consumidores. As crises financeiras, por fim, podem gerar instabilidade no mercado, dificultar o acesso a crédito e até levar à falência de empresas. A importância do auditor independente nestes mercados é crucial, pois eles fornecem uma camada essencial de confiança e integridade, que é fundamental para atrair investimentos e manter o funcionamento eficiente dos mercados de capitais. Os auditores independentes desempenham um papel vital na garantia de que as demonstrações financeiras das empresas reflitam com precisão a sua saúde financeira. Isso é especialmente importante em economias emergentes, onde a confiança nas informações financeiras pode ser mais frágil devido a padrões de governança menos estabelecidos. A independência dos auditores, estabelecidas por regras rígidas da profissão e fortemente disseminada por meio de políticas internas de compliance das próprias firmas de auditoria, garante que eles possam operar sem conflitos de interesse, proporcionando avaliações imparciais que investidores e outras partes interessadas podem confiar, sendo, portanto, essencial para o desenvolvimento da economia e atração de capital, seja nacional ou estrangeiro. Com o aumento das expectativas em relação à sustentabilidade e responsabilidade social corporativa, os auditores também estão expandindo seu escopo para incluir a asseguração de informações não financeiras, como as relacionadas a questões ambientais, sociais e de governança (ESG). A transformação digital é também um dos principais fatores que influenciam a auditoria independente. A utilização de tecnologias emergentes, como a inteligência artificial e a análise de dados, é essencial para o desenvolvimento contínuo dos profissionais da área. Essas tecnologias permitem uma análise mais profunda e abrangente dos dados financeiros, o que pode levar a uma maior segurança e confiabilidade nos resultados da auditoria. No contexto brasileiro, a atividade de auditoria independente está evoluindo para enfrentar novas tecnologias e demandas de asseguração. Segundo o Ibracon, a transformação digital e a utilização de tecnologias emergentes são algumas das principais tendências e desafios para a auditoria independente. A necessidade de transparência permanece como uma prioridade para os usuários das informações financeiras, e os auditores devem se manter atualizados com essas mudanças para assegurar a conformidade das informações financeiras e não financeiras. A atração e retenção de talentos, particularmente entre os jovens profissionais, surgem como um desafio adicional, enfatizando a necessidade de engajamento e atualização constante para manter a confiança do mercado de capitais na profissão de auditoria. A capacitação contínua é igualmente importante. Os auditores devem desenvolver habilidades que integrem conhecimento em negócios com expertise em tecnologia e análise de dados. Isso inclui familiarizar-se rapidamente com as tecnologias utilizadas e entender como aplicá-las de maneira eficaz no contexto de auditoria. Em resumo, os auditores independentes são peças-chave no ecossistema financeiro das economias emergentes, contribuindo para a estabilidade e crescimento ao promover práticas de governança corporativa sólidas e confiáveis. Sua atuação independente e rigorosa é essencial para a credibilidade e a saúde a longo prazo dos mercados financeiros globais. *Cristiano Mendes é sócio líder da BDO no Rio de Janeiro |