Exporta Mais Brasil: em Fortaleza, 5ª rodada do programa gera mais de R$ 1,7 milhão em negócios para artesãos brasileiros

Rodadas de negócios foram realizadas entre 10 compradores internacionais de oito países e 58 artesãos brasileiros, durante a 5ª Feira Nacional de Artesanato e Cultura. Encerramento da atividade contou com o vice-presidente da República Geraldo Alckmin, nos Diálogos Exporta Mais Brasil   

Na última semana, a diversidade de cores, formas e histórias do artesanato brasileiro ocupou Fortaleza para a 5ª rodada do programa Exporta Mais Brasil Nordeste, da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). No âmbito da Feira Nacional de Artesanato e Cultura (Fenacce), 58 artesãs, artesãos, cooperativas, casas de cultura e associações de artesanato de 18 estados brasileiros participaram de rodadas de negócios com 10 compradores internacionais, vindos de Holanda, Reino Unido, Irlanda, Áustria, Estados Unidos, China, Japão e Jordânia. Os resultados foram promissores: 323 reuniões realizadas e R$ 1,7 milhões em negócios gerados imediatamente e em vendas futuras, além de incontáveis oportunidades de networking.

“O Brasil exportou, no ano passado, 334 bilhões de dólares. Desse montante, 27 bilhões saíram aqui do Nordeste; da Bahia sozinha foram 14 bilhões. Todos os outros oito estados da região, juntos, exportaram apenas 13 bilhões. Ou seja, temos que aproveitar mais o talento nordestino e as coisas importantes que são produzidas aqui, que vão do pescado e do alimento ao artesanato, à energia e à atividade industrial e comercial”, apontou o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, durante os Diálogos Exporta Mais Brasil, que marcaram o encerramento da 5ª rodada do programa. Realizado no Palácio da Abolição, na capital cearense, o evento contou também com a presença do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin; do governador do Ceará, Elmano de Freitas; do ministro da Educação, Camilo Santana; e de outras autoridades, incluindo parlamentares federais e estaduais.
“Qual a melhor maneira de exportar? É trazer o comprador pra cá, os importadores da Ásia, dos Estados Unidos, da Europa, da América Latina, para vender a eles os produtos. Então, aqui no Ceará, estamos trazendo os compradores de artesanato”, pontuou o vice-presidente, que cumprimentou a equipe da ApexBrasil por promover o país e vender os produtos brasileiros para todo o mundo, além de atrair investimentos estrangeiros. Alckmin também reforçou a importância das exportações para o crescimento da atividade econômica. “No governo do presidente Lula, estamos batendo recorde de exportação e o maior saldo da balança comercial. E por isso a Apex e a equipe do Jorge Viana estão aqui com o Exporta Mais Brasil. Vamos a cada região fazendo um trabalho pra exportar”, acrescentou o titular do MDIC.
Diversidade
As rodadas de negócio aconteceram nas manhãs de 27 e 28 de setembro, na Fenacce, onde os artesãos também expuseram seus produtos para visitantes de todo o Brasil. A arregimentação dos compradores internacionais ficou a cargo dos escritórios da ApexBrasil no exterior. Já a seleção dos 58 participantes das rodadas foi feita pelo diretor criativo do site de e-commerce Paiol, Lucas Lassen, e pela consultora de marketing cultural, Daniela Vasconcelos, que levaram em conta a diversidade de estados e de tipologias artesanais; a capacidade de produção; e o grau de capacitação e preparo dos artesãos para o mercado internacional, entre outros critérios.
“São 58 artesãos das cinco regiões do país, que estão mostrando a diversidade cultural que temos aqui em tipologias como cerâmica, madeira, fibras naturais e rendas. E a maioria são feita por mulheres ou com lideranças femininas. Também selecionamos artesãos de comunidades indígenas e quilombolas”, ressaltou o curador. Foram seis participantes vindos do Sul, sete do Sudeste, nove do Centro-Oeste, 12 do Norte e, por fim, 24 da região Nordeste do país. Mais de 70% ou eram artesãs ou eram associações e cooperativas que possuem mulheres à frente dos trabalhos, refletindo a destacada presença das mulheres nesse segmento produtivo.
Uma dessas participantes é a tocantinense Eliene Bispo, que faz trabalhos com capim dourado há 23 anos e preside a Associação Dianapolina de Artesãos, na cidade de Dianópolis, sudeste do estado. Apesar de já ter vendido pontualmente para o exterior, sobretudo via indicações de terceiros, foi no Exporta Mais Brasil que ela participou de sua primeira rodada internacional de negócios. O “match” foi imediato: a artesã fechou acordo com as compradoras da China e da Áustria, restando agora apenas os trâmites burocráticos para o fechamento do pedido e o embarque dos materiais.
Eliene também é egressa do Programa para Qualificação para Exportação (PEIEX) da ApexBrasil no polo de Palmas, e essa experiência facilitou seu primeiro contato com o mercado internacional: “Quando eu comecei a exportar, para mim foi um sofrimento, porque eu não sabia, ninguém sabia explicar como era que fazia. Então foi muito interessante [participar do PEIEX], vi que existem outras maneiras da gente fazer”, relata a profissional, que traz na bagagem outro trabalho que lhe rendeu fama além-mar: a confecção das cerca de 180 pequenas peças em capim dourado bordados no blazer e no colete utilizados pela primeira-dama do Brasil, Janja Silva, no dia da posse presidencial.
Também ansiosa por ganhar o mercado internacional estava a Associação das Rendeiras Independentes de Divina Pastora (ASDRIN), do Sergipe. Para a rodada de negócios, o grupo levou a renda irlandesa, que surgiu no país europeu no século XV e foi trazida ao Brasil por freiras catequizadoras. Hoje, o trabalho não é mais praticado nem na Irlanda nem em nenhum outro lugar do mundo, à exceção de Sergipe. “Temos a expectativa de levar esse talento sergipano a outros países, para que essa técnica, que é tombada no livro de patrimônio histórico nacional do Iphan, seja amplamente reconhecida”, salientou o secretário de estado do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo do estado, Jorge Telles, que participou da rodada ao lado de artesãs da ASDRIN.
Do lado dos compradores, as expectativas também são altas. O indiano Konark Ogra, que vive hoje no Reino Unido, é um dos diretores da Rural Handmade, um dos maiores marketplaces para artesanato do mundo. Seu trabalho busca conectar comunidades e marcas da Europa, América do Norte e Austrália e, embora o artesanato brasileiro ainda não esteja entre eles, o empresário destaca que o potencial é imenso: “minhas impressões iniciais sobre os produtos artesanais brasileiros é que grande parte deles não estão na Europa. Então, basicamente, existe um oceano com várias oportunidades para essas produções”, avaliou Ogra, que destacou também a grande presença feminina nessa atividade. “E a equidade de gênero, bem como toda a matéria-prima que estão usando para promover o empreendedorismo rural, é brilhante”, completou.
Trabalhando para o site de e-commerce norte-americano Maison Numen, que comercializa itens decorativos artesanais, a venezuelana Barbara Carro também acredita que há espaço para os artesãos brasileiros no mercado internacional. “Quando vim, esperava conhecer quais os artesanatos típicos do Brasil, as técnicas, a qualidade, e fiquei bastante surpresa. Vi que os artesãos brasileiros estão muito dispostos a trabalhar com o resto do mundo”, comenta Carro. Para isso, ela acredita que alguns ajustes ainda são necessários, sobretudo em termos de precificação, o que não invalida, no entanto, o grande potencial do artesanato do Brasil para adentrar novos mercados.
Visitas técnicas
Além das reuniões entre produtores e compradores internacionais, a programação da 5ª rodada do Exporta Mais Brasil incluiu visitas técnicas a espaços de artesanato e idas guiadas à Fenacce. No dia 25, a equipe da ApexBrasil levou os 10 importadores ao Centro das Rendeiras da Prainha Luíza Távora, a 30 quilômetros de Fortaleza, onde as artesãs produzem e comercializam itens como vestidos, blusas, toalhas de mesa e jogos americanos. As produções são conhecidas por utilizarem a renda de bilro, honrando uma tradição familiar preservada por meninas e mulheres da região.

 

Pela tarde, o grupo visitou o estúdio Alumiar Design, da estilista Armênia Rocha, que se dedica à fabricação de diferentes tipos de luminárias, arandelas e abajures, feitos com matérias-primas regionais. Na sequência, a delegação seguiu para a Central de Artesanato do Ceará (CeArt), onde teve a chance de conhecer produções artesanais típicas do estado. Já a terça, dia 26, foi dedicada inteiramente à Fenacce, onde os compradores puderam interagir com artesãos e artesãs de todo o país.
“O artesanato brasileiro possui grande potencial para exportação. O segmento reflete a diversidade do uso de matérias-primas e técnicas artesanais de cada canto do Brasil, valorizando a vocação e o saber fazer desses locais. O artesanato produz também emprego e renda para vários artesãos e familiares, gerando impacto para suas comunidades e atendendo às demandas de compradores quanto à geração de negócios com sustentabilidade social”, aponta o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, que também chama a atenção para os diferenciais competitivos de sustentabilidade, inovação e qualidade presentes na produção artesanal brasileira.
De acordo com o IBGE, o artesanato contribui para a economia de 67% dos municípios brasileiros e movimenta cerca de R$ 50 bilhões ao ano. Responsável por 3% do PIB brasileiro, a atividade gera emprego e renda para cerca de 8,5 milhões de pessoas, sendo uma maioria expressiva de mulheres, e conta com produção relevante em territórios indígenas e quilombolas. Por seu aspecto comunitário e pelo cuidado com matérias-primas regionais, o artesanato possui também um forte apelo em termos de sustentabilidade e de práticas ESG (ambiental, social e governança) no geral, o que o torna atraente para o mercado externo. Persistem, no entanto, desafios ligados à qualificação e à capacidade produtiva dos artesãos.
Exporta Mais Brasil
Com o slogan “Rodando o país para as nossas empresas ganharem o mundo”, o programa Exporta Mais Brasil busca uma aproximação ativa com todas as regiões do país para potencializar suas exportações. Por meio da iniciativa, as empresas brasileiras têm a oportunidade de se reunir com compradores internacionais que vêm ao país em busca de produtos e serviços ligados a setores específicos.
Nas rodadas de negócios promovidas pela ApexBrasil, serão congregados ao todo mais de 100 compradores estrangeiros e 350 empresas brasileiras, em uma iniciativa inédita e de alcance nacional. Os compradores participam também de visitas técnicas in loco, a fim de entender melhor como funciona o processo produtivo nacional para diferentes setores da economia.
Até o final do ano, o Exporta Mais Brasil terá realizado 13 etapas voltadas para diferentes setores, em 13 estados brasileiros. Além da rodada sobre artesanato, em Fortaleza, já foram realizadas outras quatro, com foco em móveis (João Pessoa); rochas ornamentais (Vitória e Cachoeiro de Itapemerim); cafés robustas amazônicos (Cacoal) e pescados (Foz do Iguaçu).
Mais informações em Link

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