Três empreendedores inovadores surpreendem público do Ciclos com novos modelos de negócio e propósitos
Assessoria de imprensa Centro Sebrae de Sustentabilidade/ Vanessa Brito
Uma grife de acessórios de moda que usa câmaras de pneus e tecido de nylon de guarda-chuvas descartados, uma startup para maiores de 50 anos se recolocarem no mercado de trabalho e um atleta paralímpico campeão mundial de canoagem, que inova em programas de TV e novos equipamentos para cadeirantes. O painel que apresentou estes três empreendedores, nesta tarde (24), no CICLOS-Congresso Internacional de Sustentabilidade, realizado pelo Sebrae em Cuiabá, agradou o público com mais de 500 pessoas. O painel foi mediado por André Schelini, gerente de Inteligência Estratégica do Sebrae MT.
Adriana Tubino, designer de moda e sócia-fundadora da Revoada, um empreendimento pra lá de inovador de Porto Alegre (RS), contou como ela e a publicitária Itiana Pasetti criaram um negócio de economia circular, que hoje é tema de palestras pelo Brasil.
A história da Revoada em seis anos e começou quando as duas amigas se encontraram numa festa. Itiana trabalhava numa grande indústria de moda, que produzia coleções uma atrás da outra, porém incomodava o fato de não saber detalhes do negócio, se gerava resíduos, o que era feito deles, entre outros aspectos.
Adriana tinha estúdio de design com alguns amigos, cuidava do branding de grandes marcas de moda, ajudava a vendê-las, também sem saber como os produtos eram fabricados, se havia trabalho escravo envolvido ou o que havia além do glamour das grifes.
As duas se questionavam se era possível fazer uma moda sustentável. Decidiram embarcar nesta ideia, mas também se perguntavam porque colocar mais um produto num mundo repleto de consumo e excessos. Assim chegaram aos resíduos para não precisarem de matéria prima nova. “Decidimos fazer acessórios de moda para substituir couro e descobrimos na câmara do pneu e no nylon dos guarda-chuvas a nossa matéria prima”, contou Adriana. Estes dois resíduos levam mais de 200 anos para decompor, informou.
Criaram a cadeia produtiva da Revoada, composta por borracheiros e costureiras de comunidades e cooperativas. Nas unidades de triagem de lixo seco em Porto Alegre propuseram às trabalhadoras que retirassem os tecidos dos guarda-chuvas e ficassem com o metal para vender. Não foi fácil, segundo ela, pois não entendiam que iam ser parceiros e que elas passariam de 15 em 15 dias para coletar os materiais e pagá-los. As costureiras também achavam que seria impossível costurar borracha.
Outros parceiros lavam o nylon dos guarda-chuvas e pneus, antes de serem transformados em acessórios de moda. Com o tempo todos compreenderam que se tratava de um novo modelo de negócio com propósito, diferente de tudo que já tinham visto.
Bolsas, carteiras, mochilas, bolsas de viagem e lindas jaquetas são alguns dos produtos da Revoada, que possuem um design diferenciado. As peças já foram usadas nos figurinos de telenovelas da TV Globo.
A comercialização é também inovadora, por meio do site da marca, os lotes de produtos são anunciados e seus clientes, chamados de vuelistas, se candidatam a comprar e aguardam ficarem prontos. Desse modo, não há geração de resíduos nem sobras de produção, explica Adriana.
As duas empreendedoras passaram a ser procuradas por grandes empresas para aprenderem com elas a economia circular que praticam e assim tornaram-se mentoras e consultoras, como também fornecedoras de brindes sustentáveis.
Adriana disse que a Revoada está contribuindo para a mudança de mindset (mentalidade) das pessoas e que este é um resultado importante do empreendimento. Contou também que, ao longo de seis anos, a grife sustentável retirou 14 ton de câmaras do meio ambiente, reutilizou 13 mil unidades de guarda-chuvas, gerou trabalho e renda para 300 famílias de costureiras e borracheiros e atingiram mais de 50 mil pessoas.
Gente madura
O segundo a falar no painel foi Morris Litvak Jr, criador e CEO da startup Maturijobs, uma plataforma para maiores de 50 anos de idade que procuram recolocação no mercado de trabalho. Este negócio com propósito social também incentiva sua clientela a empreender, se reinventar e não só procurar emprego.
A Maturijobs foi criada em 2015, quando ele estava com 32 anos. A inspiração foi a sua avó que trabalhou até os 82 anos e só parou, devido a uma queda na calçada. Dona Keila passou a ficar dentro de cada, sua saúde piorou e faleceu aos 91 anos. Ela foi um exemplo para Morris.
Depois de trabalhar na empresa da família, estava decidido a empreender e gostava muito da ideia do empreendedorismo social. Começou a pesquisar. Em 2011, havia participado de um trabalho em uma casa de repouso e conheceu pessoas idosas com histórias incríveis, que recebiam poucas visitas. Passou a estudar a questão do envelhecimento e longevidade e decidiu investir aí. “Entendi que a população brasileira estava envelhecendo muito rápido e aumentei meu contato com o público de 50 anos, que estava perdendo emprego e que a idade dificultava muito para se recolocarem”, disse.
Muitos nem eram aposentados, ainda, e o governo não tem política nenhuma para estas pessoas. Descobri muita gente sofrendo e, hoje, com a Reforma da Previdência a caminho, este assunto se tornou mais importante, acrescentou Morris.
Assim surgiu a Maturijobs. “Agora, falamos que o mundo é dos maturis, como chamamos nossos clientes. Não usamos os termos idoso, terceira nem melhor idade, pois são estereotipados”, afirma. Estas expressões não representam quem tem 60 anos, segundo ele.
“O Brasil é o país que envelhece mais rápido no mundo hoje. Dizemos que estamos vivendo a revolução da longevidade silenciosa. Ainda não vemos nas ruas, mas daqui a 10 anos vamos acordar e ver que somos um país de pessoas maduras”, prevê. Os países mais desenvolvidos já passaram por este processo. A França, por exemplo, foi envelhecendo paulatinamente, se desenvolvendo, se enriquecendo, hoje há uma cultura de valorização dos idosos. “O que a França levou 130 anos, no Brasil acontecerá em 25 anos”, dispara. E tendo que resolver outros problemas, observa.
Hoje, no mundo há mais 2 bilhões de pessoas acima 50 anos, no Brasil em 2015 eram 51 milhões empregados e profissionais autônomos. No futuro próximo, estas pessoas vão precisar de mais renda para se sustentarem e não vão querer parar de trabalhar e atuar no mundo. Todos querem ser uteis e produtivos, argumenta Morris. As crianças de agora vão passar dos 100 anos, segundo ele.
A Maturijobs ajuda a recolocar estas pessoas, fazendo a ponte com o mercado e empresas, mas também as prepara para lidarem com os preconceitos. O mesmo é feito em relação às empresas, conscientizando sobre a diferença geracional para se abrirem aos mais maduros nos processos seletivos.
Em 2016, a plataforma começou a rodar, mostrando outros caminhos, pois ainda é muito restrito o número de vagas para idosos. O empreendimento atua apenas na Região Sudeste, informa. Até o momento, mais de 90 mil pessoas estão cadastradas na plataforma. Atualmente as carreiras não são mais lineares e as pessoas terão várias carreiras durante a vida, ressalta Morris.
Ele falou que investiu recursos próprios na startup, que já passou pelos processos de aceleração, recebeu mentorias e que estar em contato com outros empreendedores é muito importante. “O problema dos maturis é gigantesco, mas é o que mais me anima”. Com a Reforma da Previdência, a Maturijobs começou a ter destaque na mídia. É a única plataforma para este público, informa.
Atleta paralímpico e empreendedor
Fernando Fernandes é campeão mundial de canoagem, apresentador do quadro Sobre Rodas do programa Esporte Espetacular da TV Globo, é um desbravador de esportes adaptados e gerador de oportunidades para ele e pessoas que queiram segui-lo. Desde criança, sonhava ser atleta do futebol.
Jogou no time juvenil do Corinthians, foi profissional no Flamengo… de Guarulhos, conta brincando. Trabalhava paralelamente como modelo, abriu mão do sonho de jogador e se atirou na carreira de modelo, uma vida cheia de glamour, celebridades e festas. No entanto, o sonho de criança continuava vivo e se sentia frustrado porque queria viver do esporte.
Passou a correr atrás de oportunidade para não largar esporte, fez faculdade de educação física. Sempre esperando a grande oportunidade, em 2008, foi convidado para participar da campanha Dolce Gabanna de perfume. Ia se tornar imortal, pensou. Decidu permanecer na carreira de modelo por mais 4 anos e, depois, voltaria para o sonhado esporte.
“Já estava com 32 anos, velho pra ser um atleta profissional”, diz. Faltando 15 dias para ir para embarcar para Milão, depois de um jogo de futebol e horas de boxe numa tarde, voltando para casa, dormiu ao volante. Acordou no hospital sem sentir as pernas. E agora… o que fazer da vida?
Depois de dez dias de medo, frustração, pensou no que havia conquistado até aquele momento: o dom e o amor pelo esporte. Três meses depois, foi fazer tratamento no Hospital Sarah Kubistchek , onde encontrou pessoas com problemas maiores que o dele.
Montou um plano B: reconquistar uma nova vocação na vida. Participou da Corrida de São Silvestre. “Mudei minha vida com oito pinos na coluna, transformei a minha vida e a de outras pessoas também no Sarah”, conta. “Enxerguei o esporte como ferramenta de comunicação com o mundo. Me reencontrei como pessoa, mas precisava me reencontrar profissionalmente”, acrescenta.
No meio da fatalidade, Fernando achou a oportunidade num caiaque, onde se sentia livre para ir e vir independente de todos. Decidiu ser um canoísta. “Dez anos atrás, ninguém sabia o que era isto. Apliquei tudo que tinha na canoagem e em um ano e meio, ganhei vários campeonatos de canoagem. Só não ganhava dinheiro”, brinca.
A cadeira de rodas representa incapacidade, não adiantava ser tetracampeão em canoagem, precisava mudar o significado deste objeto. “Deficiência física consegui com a lesão medular, mas incapacidade é outra coisa. Precisava transformar o preconceito na cabeça das pessoas”.
Tinha de realizar e mostrar pro mundo que era capaz e bom, apesar da cadeira de rodas. Quando propôs o programa de TV, sabia que iam pensar que queria ser um exemplo de superação, mas não era nada disso. Viu o poder das redes sociais e com programa na televisão podia expor suas ideias e sua capacidade de realizar para todo mundo.
“Não quero ser exemplo de superação, quero ser bom no que faço. Seja muito bom, seja excelente no que você faz. Senão vai ficar sempre como uma pessoa mediana. A lesão medular foi um problema a mais, tenho outros tantos problemas”, fala animado.
Fernando conta que pulou de paraquedas, remou mais de 150 km em aldeias indígenas, entre outras peripécias, todas gravadas e fotografadas. “Vejo-me como um criador de oportunidades. O esporte, TV e redes sociais transformaram o cenário”, declara. O Instituto Fernando Fernandes ajuda outras pessoas a encontrarem o senso de capacidade, diz.
No momento, este atleta paralímpico e empreendedor está desenvolvendo uma handbike em parceria com uma empresa brasileira, a custo baixo, pois as importadas são muito caras, segundo ele. Certamente muitas outras ideias e iniciativas inovadoras vão surgir e surpreender seu público cheio de fãs e admiradoras.