Desmatamento na Amazônia: Apesar da venda de algumas de suas atividades, Grupo Cassino terá que enfrentar justiça
Atolado em uma dívida de mais de 6 bilhões de dólares, o grupo francês Casino planeja vender seus ativos brasileiros e colombianos para fortalecer sua liquidez. Para a coalizão de representantes de povos indígenas e de organizações internacionais de defesa ambiental que levou o Casino aos tribunais franceses, mesmo na hipotese de venda dos ativos sul-americanos, o grupo deverá enfrentar a justiça por não cumprir com seu dever de vigilância com relação ao desmatamento e à violação dos direitos dos povos indígenas.
No final de junho, após a abertura de um processo de conciliação para pagar seus credores, o grupo Casino anunciou a venda de suas marcas latino-americanas, a brasileira Grupo Pão de Açúcar (GPA) e a colombiana Grupo Éxito, até o final de 2024. Com 1.000 lojas no Brasil e mais de 2.000 na Colômbia, o Casino gerou mais da metade de seu faturamento (53%) na América Latina, em 2022.
Apesar da incerteza em torno do futuro do Casino, o grupo terá que responder por seus atos ao tribunal judiciário de Paris. “Não podemos aceitar que grupos possam burlar os sistemas administrativos e jurídicos nacionais para evitar serem responsabilizados por violações cometidas em suas cadeias de suprimentos. No Brasil, em especial, temos testemunhado historicamente tais estratégias e, em muitos casos, a impunidade persiste e permite a continuidade de práticas criminosas contra os povos e seus territórios. É fundamental que o grupo Casino seja responsabilizado pelos danos causados até o momento e que não haja tolerância judicial.”, afirma a assessora jurídica da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), Kari Guajajara.
Uma recente investigação do InfoAmazonia também confirma que as medidas de vigilância implementadas pelo grupo Casino são insuficientes até o momento, em relação à lei francesa de dever de vigilância. A investigação identificou nada menos que 15 fazendas ilegalmente presentes no territorio indígena Uru-Eu-Wau-Wau que transferiram, por meio de outras fazendas, 815 bois entre 2018 e 2022 para dois frigoríficos da JBS que abastecem a subsidiária do Casino no Brasil. Produtos oriundos desses abatedouros foram identificados em lojas brasileiras do grupo em 2023 pela equipe da Mighty Earth, portanto após o Casino ter sido levado aos tribunais (março de 2021).
O relatório ainda afirma que a cadeia de abastecimento do grupo francês causou danos materiais estimados em 54,3 milhões de euros só para este território indígena. Um resultado que reflete apenas uma ínfima parte do impacto do grupo Casino, que tem forte presença no Brasil e na Colômbia.
Enquanto o desmatamento na Colômbia aumentou 32% em 2022 e o Brasil continua sendo o país mais afetado pelo desmatamento tropical, os futuros proprietários dos supermercados Casino no Brasil e na Colômbia terão que fazer do controle das cadeias de fornecimento de carne bovina, incluindo fornecedores indiretos, uma prioridade máxima.