Cinema do Dragão realiza mostra gratuita de filmes com acessibilidade em libras e audiodescrição
De 14 a 17 de março, às 18h, o Cinema do Dragão, cinema da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE) que integra o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar, realiza as sessões “Mostra, Todo Mundo Quer Ver… Corpos estranhos!”, seleção de longas cujas narrativas são atravessadas por um ou mais corpos estranhos e que contam com acessibilidade em libras e audiodescrição na projeção. Com curadoria de Edgar Jacques – ator cego, profissional de Letras, e consultor em audiodescrição para cinema -, o evento propõe-se a trazer uma representação de pessoas dissidentes dos ditos padrões convencionais (de raça, sexualidade, beleza, gênero, comportamento, etc). Serão exibidos quatro filmes: ‘Divinas Divas’ (Leandra Leal, 2017), ‘Alice Junior’ (Gil Baroni, 2019), ‘Que Horas Ela Volta?’ (Anna Muylaert, 2015 ) e ‘CODA: No Ritmo Do Coração’ (Siân Heder, 2019). O acesso às sessões é gratuito. Para participar, os interessados devem retirar os convites na bilheteria (até dois por pessoa), a partir das 13h30, no dia de cada sessão. A mostra será reprisada entre 21 e 24 de março, com exibições às 14h.
O curador Edgar Jacques destaca que “corpo estranho” não é o elemento central das histórias. As obras escolhidas dialogam com a diversidade de corpos, mas estes não são, necessariamente, o mote central das narrativas, mas que nos possibilitam refletir sobre a importância da inclusão, em contextos diversos, seja social, histórico e/ou cultural. “Isso reforça a ideia de que estamos em todos os lugares e aí conseguimos nos identificar”, explica Edgar Jacques.
A “Mostra, Todo Mundo Quer Ver… Corpos estranhos!” dá seguimento à democratização do acesso à arte e à cultura, diretriz que norteia as ações culturais do Centro Dragão do Mar, em particular aplicadas nas realizações do Cinema do Dragão com o estímulo à inclusão, seja discutindo questões relacionadas à acessibilidade, seja disponibilizando tecnologias que acessibilizem sessões a pessoas com deficiência. A curadora do Cinema do Dragão, Kênia Freitas, acredita que é um processo longo e necessário, que envolve as distribuidoras, produtores e espectadores: “As acessibilidades sensitivas – de libras e audiodescrição – foram por muito ignoradas no campo audiovisual e, por isso, consideramos urgente a implementação dessas políticas públicas, mas este é um avanço importante”, destaca.
Texto Curatorial por Edgar Jacques
Quando me foi pedido que selecionasse filmes para uma mostra, em que o foco principal seria a contribuição para que pessoas com funcionalidades corporais diversas enriquecessem a sua experiência cinematográfica, pensei imediatamente que as obras escolhidas deveriam dialogar com essa diversidade. Mas, não bastava que o tema principal fosse a diversidade corporal, aliás, era preferível que tal característica estivesse diluída numa história maior.
Além disso, imaginei que a “diversidade” não deveria estar presa a um único nicho daquilo que é diverso. Pois, de modo geral, quando se trata de “corpos não normativos”, se fazem recortes ainda menores dentro do tema. Minha vontade era que alguém com determinada vivência assistisse a um filme envolvendo outras vivências e percebesse que nelas há identificações possíveis. Ou seja, as dores e os bons sabores dos outros nos cabem muito bem também.
Com isso em mente, cheguei a uma sofrida lista com 13 filmes e, como sofrimento pouco é bobagem, precisamos reduzi-la a uma lista menor ainda. Assim, ficamos com estes quatro títulos que trazem, como protagonistas, um ou mais corpos estranhos.
Há corpos estranhos em “Divinas Divas” (Leandra Leal, 2017), documentário que conta histórias de artistas que se transformavam para entreter e, com muito humor, debochar e desafiar a moral e os bons costumes em tempos de ditadura no Brasil.
Há também um corpo estranho em “Alice Junior” (Gil Baroni, 2019), uma comédia romântica adolescente em que a personagem principal é uma garota trans, inserida num ambiente novo, numa cidade nova, num estado novo e que – além disso – tem uma composição familiar bastante atípica.
Em “Que Horas Ela Volta?” (Anna Muylaert, 2015 ), o corpo estranho não se faz por ele em si, por uma característica que a ele a pertença, e sim porque ele é de uma classe social a qual as classes “superiores” fingem incluir e respeitar. Este corpo estranho faz parte da família com a qual convive, mas somente até a página dois.
Em “CODA: No Ritmo Do Coração” (Siân Heder, 2019), o corpo estranho é o corpo normativo. Nesta história, ganhadora do Oscar de 2022, a garota ouvinte, enxergante e bípede é o corpo que não sabe de fato qual é o seu lugar no mundo, exatamente porque ela é a conexão entre sua família surda e a cidadezinha em que vivem.
O que há de comum entre as quatro obras aqui citadas, além da óbvia estranheza, é também o fato de que corpos que funcionam de jeitos diferentes têm consigo assinalada – com caneta vermelha – a natural necessidade de serem aceitos. E de maneira muito sutil, cada uma delas diz que os corpos estranhos, sejam eles quais forem, não buscam por inclusão. Afinal, incluídos todos já nasceram, precisam apenas que deixem de ser invisíveis e ou invalidados.
Sobre o curador
Edgar Jacques, ator cego, e também profissional de Letras, vem trabalhando como consultor em audiodescrição para cinema desde 2017. Até o momento, já realizou consultorias em títulos de empresas, como: Sony, Universal, Globo Filmes, Amazon, Discovery Channel, A24, Diamond, e outras. Edgar realizou cursos livres de audiodescrição com destacados formadores, entre eles: Francisco Lima, Viviane Sarraf e Rosa Matsushita. Nesse período, ele acumulou cerca de 800 títulos acessibilizados.
Em 2022, Edgar foi convidado a fazer a curadoria da Mostra Horizonte, na qual 10 filmes nacionais – nunca antes acessibilizados – foram apresentados ao público via internet, com os recursos de acessibilidade disponíveis gratuitamente. A mostra reuniu títulos clássicos da história do cinema brasileiro, com o intuito de apresentar aos espectadores com deficiência um pouco do que a sétima arte já produziu.
PROGRAMAÇÃO
Alice Junior (Gil Baroni) – Brasil – 2019 – Drama – 86 min – 14 anos – Olhar Distribuição
Sinopse: Alice Júnior é uma YouTuber trans cercada de liberdades e mimos. Depois de se mudar com o pai para uma pequena cidade onde a escola parece ter parado no tempo, a jovem precisa sobreviver ao ensino médio e ao preconceito para conquistar seu maior desejo: dar o primeiro beijo.
Sessões:
Quinta 16/03 – 18h
Quinta 23/03 – 14h
Divinas Divas (Leandra Leal) – Brasil – 2017 – Documentário – 110 min – 14 anos – Vitrine Filmes
Sinopse: As Divinas Divas são ícones da primeira geração de artistas travestis no Brasil dos anos 1960. Um dos primeiros palcos a abrigar homens vestidos de mulher foi o Teatro Rival, dirigido por Américo Leal, avô da diretora. O filme traz para a cena a intimidade, o talento e as histórias de uma geração que revolucionou o comportamento sexual e desafiou a moral de uma época.
Sessões:
Quarta 15/03 – 14h
Quarta 22/03 – 14h
Que horas ela volta? (Anna Muylaert) – Brasil – 2015 – Drama – 112 min – 12 anos – Pandora Filmes
Sinopse: A pernambucana Val (Regina Casé) se mudou para São Paulo a fim de dar melhores condições de vida para sua filha Jéssica. Com muito receio, ela deixou a menina no interior de Pernambuco para ser babá de Fabinho, morando integralmente na casa de seus patrões. Treze anos depois, quando o menino (Michel Joelsas) vai prestar vestibular, Jéssica (Camila Márdila) lhe telefona, pedindo ajuda para ir à São Paulo, no intuito de prestar a mesma prova. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, só que quando ela deixa de seguir certo protocolo, circulando livremente, como não deveria, a situação se complica.
Sessões:
Terça 14/03 – 18h
Terça 21/03 – 14h
CODA: No Ritmo Do Coração (Siân Heder) – EUA – 2019 – Drama – 111 min – 14 anos – Diamond/Galeria
Sinopse: No Ritmo do Coração conta a história de uma família com deficiência auditiva que comanda um negócio de pesca em Gloucester, nos Estados Unidos. Ruby (Emilia Jones), a única pessoa da família que escuta, ajuda os pais e o irmão surdo com as atividades do dia-a-dia. Mas por conta disso, ela é vista como alguém estranha em sua escola, isso até ela se juntar ao coral, onde acaba se envolvendo romanticamente com um de seus colegas e começa a fazer amizades. Com o tempo, ela percebe que tem uma grande paixão por cantar e seu professor a encoraja a tentar entrar em uma escola de música, já que sua voz é linda. Enquanto isso, sua família luta para pagar as contas com o negócio de pesca, pois novas taxas e sanções são impostas pelo conselho local. A jovem, então, treina para ser aceita na faculdade de Berklee, onde poderá seguir com o canto, mas ela precisa decidir entre continuar ajudando sua família ou ir atrás de seus sonhos.Sessões:
Sexta 17/03 – 18h
Sexta 24/03 – 14h
Serviço: Sessões “Mostra, todo mundo quer ver… Corpos estranhos!”
Período: 14 a 17 de março de 2023
Horário: 18h
Local: Cinema do Dragão (Rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema)
Acesso gratuito mediante retirada de convite na bilheteria, a partir das 13h30, no dia de cada sessão. Classificações a partir de 12 anos.
Reprises de 21 a 24 de março, às 14h