Ela transformou a dor de perder um bebê em compromisso sólido pelo empoderamento feminino

Após experiência traumática, escritora Rita Cota recuperou a paixão de viver ao escrever livro que defende a liberdade sexual das mulheres.

O sofrimento causado pelo luto gestacional dificilmente pode ser traduzido em palavras. No caso da escritora Rita Cota, esta experiência, vivida em 2015, foi ainda mais traumática. Uma gravidez ectópica, quando o embrião se desenvolve fora da cavidade uterina, foi descoberta pouco antes do óbito do bebê e ocorreu devido a uma falha do dispositivo intrauterino (DIU), mesmo este sendo considerado um método contraceptivo de alta eficácia.

O curto período entre o momento da notícia da gestação e a perda do filho, colocaram Rita em uma espiral de dor e angústia. Decidida a não se lamentar, ela se agarrou na leitura, e gradualmente, encontrou na escrita o canal para transformar a própria tristeza em um meio de empoderar outras mulheres.

Criada em uma família com valores religiosos rígidos, Rita se viu impelida a refletir sobre as vivências femininas, especialmente as limitações socialmente impostas no que diz respeito à sexualidade. Do desejo de contribuir com essa abordagem, nasceu Seu Vício, Nosso Segredo, obra de ficção que discute temas de relevância atual como: críticas sociais, ética profissional, valorização da mulher, desigualdade econômica, vida familiar baseada em aparências e tabus sexuais.

“A sociedade e a família ainda têm uma contribuição negativa sobre a sexualidade feminina. As mulheres lutam todos os dias para obterem reconhecimento profissional, pessoal e sexual”, afirma. “Durante as pesquisas para o livro, entendi que na medicina, literatura, filosofia e psicologia, as mulheres eram subjugadas e impedidas de serem donas de suas descobertas e isso me fez criar personagens que desempenhassem esse papel na vida da protagonista Francesca”, completa.

Na história, a chegada de um empresário bem-sucedido na emergência de um hospital desestabiliza a rotina de Francesca, a médica de plantão. Ele exige atendimento diferenciado devido à sua condição social privilegiada, mas a profissional se recusa a aceitar tais imposições. Francesca se torna um alvo a ser conquistado pelo paciente enigmático e acaba envolvida em uma trama que a faz questionar os próprios valores e as amarras impostas socialmente pelo fato de ser mulher.

Hoje, Rita Cota é mãe de duas meninas e deseja que suas filhas sejam protagonistas de suas próprias vidas assim com sua personagem Francesca. Ela também defende a literatura e a arte como ferramentas para lidar com momentos de extrema tristeza. “Quando decidi que seguiria o caminho das letras, encontrei a saciedade de que a minha alma inquieta necessitava”, celebra.

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