Fenae alerta para novas situações de uso político da Caixa

Além de chamar atenção para uso eleitoreiro da estatal em pleno período de campanha, Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) destaca que, passados 90 dias das primeiras denúncias de assédios sexual e moral, ex-presidente da empresa e principal acusado por dezenas de vítimas, até agora, nada sofreu.

O escândalo de assédios sexual e moral na Caixa Econômica Federal completou três meses, desde a revelação das primeiras denúncias, e a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) ainda aguarda retorno a ofício encaminhado à presidente do banco público, Daniella Marques. No documento, a Fenae cobra informações sobre resultados concretos das investigações, pela Caixa.

Conforme observa a Federação, passados 90 dias do início das revelações [em 28 de junho] — que levaram à queda do então presidente da instituição, Pedro Guimarães — banco e governo abriram apenas processos disciplinares internos. Até agora, contudo, nada sofreram nem Guimarães nem outros altos executivos acusados de assédio pelas dezenas de vítimas.

“Desde 28 de junho de 2022, as empregadas e os empregados da Caixa Econômica Federal vivem sob um grande sentimento de apreensão e angústia”, destaca o ofício, assinado pelo presidente da Fenae, Sergio Takemoto. “(…) a investigação iniciada não pode cair no esquecimento”, emenda o documento, também endereçado ao presidente do Conselho de Administração (CA) da estatal, Rogerio Rodrigues Bimbi.

Sergio Takemoto destaca que, no Brasil, o assédio sexual é crime, definido no artigo 216-A do Código Penal, com pena de um a dois anos de detenção. “Se apurada e comprovada a culpa, não se pode ‘passar a mão na cabeça’ somente porque trata-se de um ex-presidente do banco. Se é culpado, deve responder na Justiça comum pelo que fez, uma vez que assédio sexual é um crime com pena prevista no Código Penal. Além disso, a legislação trabalhista também prevê indenização para reparação do dano causado às vítimas”, completa.

USO POLÍTICO DA CAIXA — Neste período de espera por uma resposta do banco sobre as denúncias de assédio, novas situações de uso político da estatal aconteceram, em pleno período de campanha eleitoral. No último dia 12, a diretoria da Caixa convocou coletiva de imprensa para divulgação de números do programa ‘Caixa Pra Elas’. Para o empregado da Caixa e dirigente sindical Rafael de Castro, da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), houve uso do programa para fazer campanha eleitoral ao presidente Jair Bolsonaro.

O dirigente observa que, naquela ocasião, o banco anunciou um incremento de 65% na venda de cartões [para o público feminino]. Segundo o diretor, desde o início de agosto até meados deste mês, foram realizados aproximadamente 60 mil atendimentos relacionados a produtos que fazem parte da cesta do ‘Caixa Pra Elas’.

“O que dá, em média, 15 atendimentos por agência do banco: menos do que um atendimento por dia”, esclarece. “Os números tendem a aumentar, uma vez que os empregados estão sendo cobrados a atingir metas”, afirma Castro.

MAIS UM CASO — Rafael de Castro também chama a atenção para notícia envolvendo outros aliados do atual presidente. É o caso do vice-líder do governo na Câmara, deputado Ubiratan Sanderson (PL). Embora uma empregada da Caixa tenha procurado o parlamentar, ainda em 2020, detalhando situações em que Pedro Guimarães a teria assediado, o vice-líder [que é policial federal de carreira] não deu prosseguimento ao caso porque, segundo ele, aguardava a vítima “retornar com provas”.

“O deputado se omitiu diante do depoimento da vítima. Preferiu desconsiderar a denúncia e exigir provas de um caso que, como sabemos, é feito de maneira a não deixar vestígios”, critica o dirigente.

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