Falta de investimento em refinarias explica combustível caro no Brasil
Autossuficiente em petróleo, país precisa importar gasolina porque consome mais do que produz
Em tempos de combustíveis caríssimos, criando dificuldades não só para quem precisa comprar gasolina, óleo diesel e gás de cozinha, mas para toda a sociedade, por causa do efeito cascata nos demais preços e, consequentemente, na inflação, muita gente se pergunta o porquê de o Brasil cobrar tão alto por itens básicos para a sobrevivência de tantos.
A política de reajuste, que segue paridade internacional, mais a inércia do governo, que não cria instrumentos para amortecer o impacto nos preços da economia e no bolso do trabalhador mais pobre, explicam o problema, num contexto em que o Brasil privatizou a distribuição e reduziu drasticamente os investimentos em refino, se colocando na contradição de ser autossuficiente em petróleo, mas precisar importar gasolina.
A escalada nos preços e os efeitos na economia, com a inflação galopante, o pobre cada vez mais pobre, com menos dinheiro para comprar gás de cozinha e o que comer, são preocupação constante do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defende que os preços dos combustíveis sejam abrasileirados e que o governo adote medidas para controlar a inflação e estimular o crescimento econômico para gerar emprego e renda para a população.
Uma reportagem do UOL publicada na última semana ajuda a entender o problema, ao mostrar que embora autossuficiente em petróleo (com produção diária média de 3 milhões de barris ante consumo diário em torno dos 2,5 milhões de barris), o Brasil tem capacidade baixa de refino – estagnada em 2,3 milhões de barris desde 2015 – e não investe para mudar essa realidade. Para suprir a diferença, é preciso importar.
Além do abrasileiramento dos preços, Lula tem defendido em suas manifestações públicas que haja investimento em refinarias e aponta como impacto nos preços o fato de haver no país centenas de empresas importando gasolina dos Estados Unidos.
“O Brasil hoje não consegue refinar toda a gasolina que nós precisamos, porque o governo parou [de fazer] refinarias. Esse país destruiu a BR [distribuidora da Petrobras] e, por conta disso, tem 392 empresas importando gasolina dos Estados Unidos, da América do Norte, importando em dólar, e precificando em dólar para nós. O Brasil, que é autossuficiente em petróleo, não tem que exportar óleo cru para comprar derivados. Precisaria refinar seu petróleo, exportar o excedente e a gente não teria que pagar em dólar”, disse o ex-presidente Lula em entrevista recente, destacando ainda que não vê sentido no fato de a gasolina ser pesquisada em real, extraída em real, refinada em real e ter preço em dólar.
Como exemplo do desmonte, ele citou a paralisação de projetos importantes na área, como o Comperj, complexo petroquímico em Itaboraí, no Rio de Janeiro, duas refinarias para combustíveis premium no Maranhão e no Ceará e uma para combustível de avião no Rio Grande do Norte.
Os números do desmonte
Os números demonstram o descaso do governo com o refino, após a saída do PT da Presidência. No quinquênio de 2007 a 2011, o investimento da Petrobras em refino e distribuição de derivados foi de R$ 96,5 bilhões, o maior da história. Entre 2012 e 2016, chegou a R$ 90,8 bilhões. O absurdo veio no período seguinte, de 2017 a 2021, foi de apenas R$ 6,2 bilhões. Uma queda de 93,2% em relação ao quinquênio anterior.
O pior é que não há perspectiva de melhora. A reportagem do UOL conta que a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao governo, projeta que alta de 53% na produção nacional de petróleo até 2031, e avanço de apenas 10,2% no volume de petróleo processado nas refinarias brasileiras.
O portal de notícias registra que estimativas do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) apontam necessidade de R$ 120 bilhões de novos investimentos em infraestrutura para garantir o abastecimento nacional até 2035, o que dá uma média anual de R$ 9,2 bilhões de aportes no setor.
“Mas a média de investimentos anuais não vem crescendo. Era de R$ 14 bilhões entre 2002 e 2016, ficou em R$ 6 bilhões, de 2017 a 2021. No novo plano estratégico da companhia 2022-2026, a Petrobras planeja injetar US$ 6,1 bilhões (R$ 29,9 bilhões pela cotação de 19.05), ou uma média anual de R$ 6 bilhões até 2026”, diz o texto.
Tudo isso acontece num contexto em que a Petrobras registra lucros recordes. Em 2021, foram R$ 106,6 bilhões. No primeiro trimestre de 2022, R$ 44 bilhões. Enquanto os investimentos encolhem, os acionistas recebem dividendos também nas alturas. Foram R$ 48,5 bilhões distribuídos até o fim de maio.