Exposição no Instituto Cultural Cascatinha Maranguape celebra 168 anos do nascimento do historiador Capistrano de Abreu

João Capistrano Honório de Abreu nasceu em Columinjuba no dia 23/10/1853, zona rural distante 12 km da Sede de Maranguape a 40 km da Capital da Província do Ceará, sendo Imperador do Brasil Dom Pedro II com sua corte no Rio de Janeiro. Ao mestre-escola Luiz Mendes coube sua boa alfabetização, no vilarejo de Ladeira Grande a 3 km de sua casa.

Capistrano de Abreu vivenciou o apogeu do escritor cearense José de Alencar com Iracema (1865); a ascensão do Visconde de Jaguaribe ao Senado (1870) e à Ministro da Guerra (1871); a Abolição dos Escravos no Ceará (1884) e no Brasil (1888); a Proclamação da República (1889); a Guerra de Canudos(1897); 1ª Guerra Mundial (1914-1918); as comemorações do Centenário da Independência do Brasil(1922).

José de Alencar ao conhecer Capistrano de Abreu, numa visita no Solar do Cel. Joaquim Sombra (1º Intendente de Maranguape), no centro de Maranguape, logo percebeu que ali estava um erudito aos 20 anos. Atendendo a convite feito por José de Alencar, Capistrano desembarcou na Baía de Guanabara em 25/4/1875, sendo acolhido pelo Visconde de Jaguaribe e indo lecionar no Colégio Aquino.
Aos 25 anos é Redator/Jornalista da “Gazeta de Notícias”; e neste mesmo ano de 1879 é aprovado para Oficial da Biblioteca Nacional, ampliando seus horizontes culturais. Em 1883 Capistrano prestou concurso para professor de História do Brasil do Colégio Imperial Pedro II, obtendo o 1º lugar. Em 1887 ingressou no Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB),

Com a reforma da República em 1889 a cadeira de História do Brasil foi extinta, Capistrano é colocado em disponibilidade por haver se recusado a ensinar História Universal. Surge então o magnífico Historiador que após publicar, Descobrimento do Brasil pelos Portugueses e o Brasil do Século XVI, publica em 1907 sua obra prima: Capítulos de História Colonial 1500 –1800.

Ressurge com uma publicação no Jornal do Comércio de um fascículo alusivo aos 100 anos da abertura dos portos às nações amigas. As manifestações comemorativas do Centenário da Independência do Brasil propiciam ao velho mestre projeção de sua obra historiográfica e a fama definitiva; que tributava a influência de seus amigos. Faleceu em 13/8/1927 no Rio de Janeiro aos 74 anos. Estava viúvo há 35 anos de Mª José de Castro Fonseca, seus filhos foram: Honorina (beatificada Freira Mª José de Jesus), Adriano, Fernando, Henrique e Matilde.

Edições póstumas como “Os Caminhos Antigos e o Povoamento do Brasil” (1930), Ensaios e Estudos (1931-1933), garantiram que até o centenário de seu nascimento em 1953 eclodisse o reconhecimento do povo com nome de cidades (Capistrano e Capistrano de Abreu), além de ruas, praças, colégios e eventos culturais. Nos 150 anos de seu nascimento em 2003 persistem eventos e repetida edição de selo pelos Correios;

Largamente estudado desde a sua morte, quando, sob a liderança de Pandiá Calógeras se constituiu a Sociedade Capistrano de Abreu, é tido como elo maior entre a produção de Francisco Adolfo de Varnhagen e do IHGB, no século 19, e a corrente modernista representada por Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda e Caio Prado Junior, entre 1930 e 1950

As fazendas de gado, os arraiais do ouro, e as aldeias de catecúmenos indígenas constituem não somente a geografia econômica, como a história social do Brasil; com cinco grupos etnográficos, ligados pela comunidade ativa da língua e passiva da religião; reinóis ou mazombos, negros boçais ou ladinos, índios ou mamelucos, mulatos ou cafuzos, caboclos ou caribocas; Para Capistrano de Abreu, “o Povo é o sujeito da História”; inseriu a civilização do couro, os sertões e os caminhos, e revelou a visão de um novo povo, o povo brasileiro.

Da CASA-GRANDE que João Honório de Abreu construiu em 1808 como pioneiro de Columinjuba, nada restava, exceto o Obelisco de 1951 do Instituto do Ceará marcando sua localização como lugar de nascimento de Capistrano de Abreu em 23/10/1853, ele 1º neto deste desbravador.

Segundo o irmão caçula de Capistrano, Sebastião de Abreu que a conheceu de pé “Era uma casa modesta porém ampla, confortável para o estilo de vida que se levava então. Em toda a frente se estendia um alpendre, orientado na direção norte-sul. Ao lado, uma sala de grandes dimensões, a sala do oratório, que funcionava ainda como sala de visitas, refeitório e dormitório de hóspedes.

A um canto, isolado por tabiques de madeira com dobradiças, ficava o oratório. Por trás deste situava-se o quarto do bispo de Fortaleza, que anualmente visitava o sítio. Separava a sala do oratório do resto da casa, um corredor que começava no alpendre ladeado por dois quartos e se prolongava até a cozinha, no primeiro destes quartos nasceu João Capistrano Honório de Abreu.”

O último morador foi o parente Messias Honório de Abreu que ali nasceu e residiu até os 12 anos (1944), lúcido e morando hoje no Distrito de Lages- Maranguape, confirmou a descrição e acrescentou detalhes da edificação para o Comitê da Acla – Academia de Ciências Letras e Artes de Columinjuba.

Encarregados da Reconstrução após 7 décadas, pois desabitada ruiu em 1949, foram Paulo R. Neves Pereira, Pedro João de Abreu, Francisco Ribeiro de Moura e Walter de Borba Veloso, Francisco José Moreira Lopes e Joana Darc da Silva com o apoio dos 63 acadêmicos e beneméritos.

Achados arqueológicos a 20 metros dela confirmam que “No prolongamento da casa, entre esta e a senzala, localizavam-se a sala da disciplina e a sala do tronco, com seus instrumentos de suplício, destinados aos castigos corporais dos escravos, e cujas paredes e tradição descreve salpicadas de sangue. Seguiam-se a senzala, galpões, depósitos e a casa de farinha com bolandeira de tração animal.

A casa traduzia no seu complexo místico-escravocrata o equilíbrio do sistema social vigente: a fé católica como fundamento econômico do latifúndio. É assim, coerente com a moral da época, senhor de baraço e cutelo de seu feudo cabloco, o velho João Honório rezava e criava os filhos, disciplinava os negros e amanhava a terra.

Não muito distante do solar patriarcal, construíra ele um cemitério, de rústicas paredes de alvenaria, o qual, como casa dos mortos, estava paradoxalmente destinado a sobreviver à morada dos vivos. Ainda lá está, silenciosamente sombrio, contrastando o branco dos seus muros com a tonalidade ambiente… que edificara com sua mão o fundador de Columinjuba.

Aquele homem de vontade férrea e atitudes inflexíveis, temido dos homens e temente de Deus, falecido na sua casa solarenga a 17 de outubro de 1866, jaz ali enterrado. O mesmo recinto murado, a mesma terra que abrigava as cinzas da sua escravaria, recebeu também aquela argila a que animara outrora uma impetuosa energia. A morte nivelou-o com os pretos….” (CÂMARA, José Aurélio Sarava. “Capistrano de Abreu” Ed. Jose Olímpio: RJ 1969. 234 p).

Há também no Cemitério de Columinjuba o jazigo de seus pais e familiares.

Todavia como já dizia em 2005 seu Memorialista-Pesquisador Francisco Bedê “Esperançamos que um dia os restos mortais de Capistrano de Abreu venham repousar no solo onde nasceu em Columinjuba, Maranguape-Ceará.”

Que no bicentenário da Independência do Brasil em 2022 o consagrado historiador nacional tenha sua memória rediviva, notadamente no Ceará.

Acadêmico Paulo Neves Pereira – Maranguape-CE

 

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