O embaixador da Índia no Brasil, Suresh K. Reddy, e o presidente da Embrapa, Celso Moretti, reuniram-se na última segunda-feira, dia 9, para discutir o início de uma nova parceria envolvendo instituições de pesquisa agropecuária dos dois países, desta vez com foco na cultura do café. A Embrapa já tem parceria assinada com dois institutos indianos (o Indian Council of Agricultural Research – ICAR e o Department of Animal Husbandry and Dairying – DAHD), mas para viabilizar o novo acordo precisará assinar um memorando de entendimento com um terceiro órgão de pesquisa daquele país, responsável por coordenar estudos com café.
A experiência de sucesso do Brasil com a cultura café foi bastante ressaltada pelo embaixador, que mostrou-se interessado ao ser apresentado a algumas tecnologias inovadoras, como o uso consorciado de braquiária nas entrelinhas dos cafezais, o plantio direto, a irrigação com estresse hídrico controlado, adubação fostatada, o cultivo nas áreas de montanha, o controle biológico de pragas e doenças, uso de tecnologias de colheita e pós-colheita de baixo custo para melhorar a qualidade do café e o melhoramento genético – área de interesse mais imediato para intercâmbio de germoplasma entre os dois países. O presidente da Embrapa ainda revelou algumas iniciativas pioneiras do Brasil para descarbonizar a agropecuária brasileira, como o Carne Carbono Neutro, a Soja Baixo Carbono e o Leite Baixo Carbono e o início das pesquisas para também incluir também as culturas de algodão e do café.
Moretti indicou o chefe-geral da Embrapa Café, Antônio Fernando Guerra, como ponto focal para discutir o memorando de entendimento a ser assinado e as prioridades que vão nortear o primeiro plano de trabalho. Mas também orientou que o embaixador se reunisse com o presidente do Conselho Nacional do Café (CNC) para ampliar as bases da parceria com o Brasil.
Durante o encontro, Suresh Reddy manifestou-se interessado também em acelerar e ampliar as ações em andamento com o ICAR e o DAHD com as culturas de coco, cana-de-açucar, leite e de bubalinos. Com cana, o interesse está na experiência brasileira com produção de etanol, etanol de segunda geração e novas variedades desenvolvidas pela Embrapa tolerantes a seca, resistentes a insetos-praga e tolerantes a herbicidas. A Índia é o segundo maior produtor de açúcar do mundo, atrás somente do Brasil, mas toda a sua produção é utilizada para consumo interno e quase que exclusivamente de açúcar, daí o interesse em expandir a produção para uso do etanol nos carros indianos.
Histórico de parcerias
Os principais parceiros da Embrapa na Índia são o Indian Council of Agricultural Research – ICAR e o Department of Animal Husbandry and Dairying (DAHD), antigo DADF, com especial destaque para o ICAR. A Embrapa tem relações de cooperação com o ICAR desde 2005, data da assinatura do primeiro memorando de entendimento (MEN) entre as duas instituições. Alguns projetos foram realizados, como na área de genética animal, com a Embrapa Gado de Leite.
Em 2016, a Embrapa assinou novo memorando de entendimento tanto com o ICAR quanto com o DADF. A parceria com o ICAR foi direcionada para as áreas de recursos genéticos, manejo animal, recursos naturais e aquicultura. Já a com o então DADF foi focado em produtividade animal.
Com o DAHD, os contatos foram fortalecidos a partir de junho de 2018 e com foco em três áreas priorizadas: capacitação, genômica e estabelecimento – a pedido da parte indiana – de um centro de excelência para capacitação, pesquisa e transferência de tecnologia na área de leite, em três ou quatro instalações no país.
Em abril de 2019, a Embrapa recebeu delegação indiana com representantes do DAHD. A visita incluiu a unidade de Gado de Leite e resultou em uma proposta para ações de treinamento. Em atendimento ao DAHD, a Embrapa Gado de Leite apresentou uma proposta para o treinamento de profissionais indianos no Brasil, em técnicas de reprodução de bovinos. Devido à pandemia e também mudanças internas no governo indiano, a proposta não avançou.
De agosto a dezembro de 2020, a GREI articulou cinco videoconferências com o DAHD – alguma com participação do adido agrícola do Brasil em Nova Délhi – para discutir e fortalecer as atividades de cooperação em andamento e conhecer os novos desafios para a colaboração internacional enfrentados pelas instituições indianas frente ao novo cenário do coronavírus.
Outras demandas propostas pelas UDs para o DAHD
– Embrapa Tabuleiros Costeiros: treinamento e visitas técnicas, nos segmentos de bioenergia e coco, relacionadas com a necessidade de conhecer e avaliar os bancos de germoplasma indianos para cana e coco e também seleção assistida por marcadores moleculares no melhoramento de híbridos comerciais de coqueiro. Segundo a unidade, a integração com os programas indianos de melhoramento é fundamental não só pela complementação em termos de resultados, mas pelo número reduzido de melhoristas de coco no Brasil, em comparação a outros setores, como o milho.
– Embrapa Caprinos e Ovinos: alimentos funcionais (probióticos no leite de cabra), melhoramento genético e genômica aplicada à resistência a doenças animais.
– Embrapa Solos: zoneamento agroecológico e nanofertilizantes inteligentes/fertilizantes mais eficientes;
– Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia: plantas medicinais, aromáticas e condimentares;
– Embrapa Hortaliças: transferência de tecnologia desenvolvidas para leguminosas de grão seco;
– Embrapa Pecuária Sudeste: melhoramento de guandu voltado à alimentação animal; recuperação de pastagens degradadas; combate a nematoides; descompactação de solos.
– Embrapa Roraima: controle biológico (prospecção de fungos e bactérias que acometem a tiririca).
– Embrapa Algodão: mecanização da colheita de mamona; melhoramento para características específicas (baixa toxicidade, alto conteúdo de óleo, precocidade, resistência a doenças); tecnologia para produção de sementes hibridas; tecnologias para agregação de valor a subprodutos.
– Embrapa Gado de Leite: melhoramento de forrageiras tropicais (Cenchrus sp), inclusive na vertente da Agroenergia, metodologias científicas para o melhoramento genético de raças zebuínas e a aplicação de ferramentas para seleção genômica dos animais, com foco em gado leiteiro.