“Brasil precisa de um reset”: superar a crise econômica demanda ação coordenada e sustentável para reduzir as desigualdades

Davos Lab reuniu Marco Gorini, Nina Silva e Laura Carvalho para debater as mudanças necessárias à economia brasileira

 A pandemia no Brasil, não é novidade, escancarou as históricas desigualdades econômicas e sociais que há anos prejudicam o desenvolvimento do país. Nesse período, o abismo já existente entre os mais ricos e os mais pobres se aprofundou.

Para especialistas em economia, a melhor saída para superar as projeções catastróficas dos próximos anos é dar um reset completo na lógica de como o brasileiro faz escolhas e define suas prioridades. O caminho a se perseguir envolve uma agenda sustentável a longo prazo, com uma movimentação coordenada para reduzir as desigualdades sociais.

Esse diagnóstico fez parte do painel desta terça-feira (02/03) do Davos Lab Brasil com o tema “redefinindo a economia”, que contou com a presença do fundador da Din4mo, Marco Gorini, da empreendedora social fundadora do Movimento Black Money, Nina Silva, e da economista Laura Carvalho.

“A questão é que precisamos reconstruir um pacto civilizatório, de nação. Quando colocarmos o ser humano e a vida no centro isso significa resetar completamente a lógica de como a gente faz escolhas e define prioridades. Quando trazemos a visão da civilização dos 99% [que não são o 1% mais rico], tem alguns motores e alicerces que precisam ser trabalhados. O primeiro é a questão da demanda agregada. O consumo das famílias no Brasil é o principal motor, mas hoje elas estão absolutamente endividadas e sem renda. É preciso dar um start nesse motor que está afogado”, disse Marco Gorini.

Para Laura Carvalho, um dos pontos centrais de atenção é a projeção de que o país pode sair da crise do novo coronavírus ainda mais vulnerável do que quando começou, por falta de uma ação coordenada com impacto realmente eficaz. “Por conta do drama e da tragédia social econômica, esse momento traz à tona muitos de nossos problemas estruturais. Isso, por si só, já pode gerar uma oportunidade para combatê-los. Desigualdade, problemas ambientais e desafios diversos que a gente já vem discutindo nas últimas décadas, inclusive riscos à própria democracia”, afirmou.

“Na pandemia, a sociedade se deu conta de que para resolver um problema coletivo não há como a solução vir de maneira descoordenada, ou com o setor privado sozinho. Um problema do tamanho da pandemia depende da ação coordenada do estado. Acho que a maneira como a gente geriu a crise traz um alerta sobre como outros problemas coletivos não devem ser geridos da mesma forma, porque corremos o risco de acabar essa crise em uma situação ainda mais vulnerável”, avaliou a economista, chamando atenção para a urgência de uma agenda econômica sustentável.

Na perspectiva de Nina Silva, a sociedade brasileira precisa se organizar efetivamente, não apenas ter indignações temporárias que não mexem nas estruturas sociais calcadas no racismo institucional.

“A gente não vê continuidade das indignações. Eu acredito que a sociedade civil seja a base para a estrutura mais solidificada de um ativismo transformador. É urgente colocar quem sente a dor no centro do debate e trabalhar a continuidade da educação. Aí sim poderemos ir atrás das estruturas para juntar poder público, organismos internacionais e sociedade civil. É preciso ter consciência de que não é só colocar uma hashtag, ou valores e propósitos que fará alguém um agente da transformação”, defendeu.

De acordo com Marco Gorini, é irremediável que o país repense as formas de organização social, uma vez que faltam novos arranjos econômicos para acomodar os 55% de trabalhadores que não são nem celetistas, nem funcionários públicos. “Se não pensarmos em novas estruturas e arranjos que possam gerar trabalho e fluxo de renda, não vamos conseguir sair dessa areia movediça”, disse.

 

“É preciso encontrar uma forma para destravar o capital que hoje está empossado e acumulado. E como a gente insere transversalmente a inovação de ponta em todos esses elementos”, finalizou.

O que é o Davos LAB Brasil?

Iniciativa da Comunidade Global Shapers para inspirar, capacitar e conectar jovens para moldar a resposta global sem precedentes e de base necessária para enfrentar a pandemia de coronavírus e outras crises convergentes do mundo. Agregando as percepções, ideias e preocupações dos cidadãos e partes interessadas em mais de 150 países em todo o mundo, o Davos Lab culminará em um plano de recuperação voltado para a juventude, apresentando ações tangíveis para criar um futuro melhor.

O plano de recuperação orientado para os jovens (crowdsourced através de uma campanha de dez semanas de diálogos globais e pesquisas realizadas em todo o mundo) será lançado na Reunião Anual Especial do Fórum Econômico Mundial de 2021 e se concentrará em dez grandes esforços de recuperação para redefinir os aspectos econômicos, sociais e sistemas ambientais. Também guiará uma nova visão para o ativismo juvenil e ação coletiva para a década atual e além, com foco em liderança de sistemas, alinhamento intergeracional e muito mais.

Global Shapers

Iniciativa do Fórum Econômico Mundial fundada em 2011 que seleciona jovens líderes para serem agentes de mudança no mundo. Os Global Shapers desenvolvem e lideram seus centros baseados em cidades para implementar projetos de justiça social que promovam a missão do Fórum Econômico Mundial.

 

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