VI Congresso de Escritores, Poetas e Leitores do Ceará
Com o tema “O Nordeste como Berço da Cultura Popular Brasileira”, o Congresso de Escritores, Poetas e Leitores do Ceará tendo à frente o Grupo Chocalho, presidido por Auriberto Cavalcante, realizou sua sexta edição nos dias, 24 e 25 de julho. O evento aconteceu na Casa de José de Alencar.
As comemorações são alusivas aos 34 anos de fundação do grupo cultural, bem como ao Dia do Escritor (25 de julho). Foram realizadas palestras, lançamentos de livros e exibição de filmes.
“Os filmes exibidos foram dois filmes do Rosemberg Cariry, que são O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto (1986) no dia 24; e, no dia 25, Patativa do Assaré – Ave ou Poesia (2007). Além disso, participou o neto do Parsifal Barroso (um dos homenageados da edição), Igor Queiroz Barroso, e também foi feita uma homenagem a Belchior”.
A Professora Izaíra Silvino fez a abertura solene entoando parte do Hino Nacional e declamando versos de Olavo Bilac e Patativa do Assaré, acompanhada pelo violão de Alexsandro de Oliveira, poeta. Logo em seguida, foi convidada a discursar a presidente da Editora Karuá, Reijane Nascimento; em seguida, os autores presentes: Eduardo Cruz, poeta popular, que declamou poema em alusão à mulher; Alexsandro confessou que escrever “Em tempo de Eros” foi um desafio, porque não costuma escrever de forma tão direta sobre o amor; Aldo Anísio, do projeto Cordel Vivo, que em agosto publicará seu primeiro opúsculo; Milton Aguiar, poeta e ator, com dois livros infantis no prelo. Destaque para a presença de Érica Amorim, Primeira Dama do município de Caucaia.
Logo após, a mesa foi composta com a presença dos professores e membros da Academia Cearense de Letras: Juarez Leitão e Batista de Lima. Coube ao segundo discorrer (e o fez de forma criativa) sobre “A formação da literatura cearense”. O professor relembrou a importância de José de Alencar para a nossa literatura; citou dois grandes elementos da literatura nordestina: a seca e o fanatismo religioso; teceu uma linha de pensamento usando os fios da sociologia presentes nas obras de Gilberto Freyre e Euclides da Cunha. Relembrou Canudos e traçou um paralelo com o Caldeirão; enfatizou a inteligência de Padre Cícero ao buscar se aliar aos coronéis de então para derrotar Franco Rabelo… O professor Juarez dava sua contribuição como historiador, ora relembrando detalhes, como quando falaram sobre as aventuras de Virgulino Ferreira, o Lampião, e as contribuições do cangaço para a literatura nordestina. Cheguei a visualizar a morte de uma das mulheres do bando de Lampião, Lídia, que foi morta brutalmente acusada de trair o cangaceiro Zé Baiano. O professor Batista lamentou a falta de leitura hoje, mas logo trocou a queixa por uma partilha generosa de como se deve ler “Os Sertões”: primeiro leia ‘A luta’ e você vai querer saber quem era essa pessoa tão corajosa e coerente – então leia ‘O homem’, e então terá curiosidade por saber onde se passou tudo isso… lerá ‘A terra’. O professor Batista de Lima indicou “A fome”, de Rodolfo Teófilo a quem deseja entender a literatura nordestina.
A segunda apresentação foi do professor Junior Bonfim que, de forma eloquente, falou sobre a poesia de José Coriolano, nascido em Vila Príncipe Imperial, hoje Crateús, mas que naquele tempo (1829) pertencia ao Piauí. Destacou o amor do poeta pelos animais, em especial por um touro sobre o qual escreveu “O touro Fusco”, em 1856. Falou um pouco sobre a luta da Academia de Letras de Crateús em apresentar para o povo e, em especial, a juventude, esse poeta que morreu com menos de 40 anos, mas deixou sua marca contundente na literatura cearense. A manhã terminou com o convite do anfitrião para o almoço.
(Seção Cultura tem uma ilustração na poesia prisioneiro do amor)
PRISIONEIRO DO AMOR
Foi no pino da meia noite
ao te ver dormir despida
de te me aproximei.
Num toque sutil…
Roubei-te beijos
Roubei-te ardentes desejos
Roubei-te afagos e carinhos
Roubei-te sonhos eróticos
Roubei-te o sexo.
Por não ter conseguido
roubar-te o amor….
Peço-te perdão
Hoje pago a minha pena
enclausurado numa prisão
de recordação e melancolia.
António Matos
Poeta do dia e da noite
INFÂNCIA
A vida arriscada tantas cicatrizes,
Cadeiras, calçadas moradas felizes,
Quintais da memória rios invernadas,
Muçambês passaradas pios alvoradas,
Domingo é de festa de crença e igreja,
Os sinos badalam chamando os fiéis,
O tempo de menino não joga papeis,
Soltando a linha pipa sacoleja.
Brincadeira escola tudo tem alegria,
Marcada a hora o dever se fazia,
Liberdade já vinha na bola de meia,
Os amigos chegavam cortavam a tela,
Foi tudo bem rápido a mente perdoa,
As brigas, intrigas infância tão boa;
Coreto tocando, a praça animada;
Saudades, lembranças sentia a estrada.
Abdon Melo
DANÇAMOS
Na verdade
A vida é uma festa.
Uns tocam
Outros cantam.
Mas a maioria dança
E dança feio.