Zelito Magalhães um jornalista além do tempo
Inspiração no tipógrafo Machado de Assis – Vencer, o primeiro trabalho – Concurso de reportagem “O Povo” – Batismo de fogo do repórter – Figura do revisor de provas – Reportagens de impacto – Escaladas em periódicos – Fases do colunista – Misto de jornalista e escritor – “O Dia” que deixou marcas – Jornalistas x ditadura militar – ACI e outras entidades culturais – Prêmios e troféus’’.
Texto: Antônio Matos
Ainda adolescente, o nosso entrevistado começou a mexer na modesta estante de seu pai. No compêndio “Escritores Brasileiros”, encontrou uma página sobre Machado de Assis (biografia e trecho de suas Crônicas Escolhidas). Diz o entrevistado ter-se empolgado com a biografia do escritor que tinha começado como aprendiz de tipógrafo.
A obra “Quincas Borba”, diz Zelito, serviu-lhe de espelho para os primeiros passos na sua arte de escrever.
O primeiro jornal
Nos anos 50, ingressou na Escola Industrial de Fortaleza (Depois Escola Técnica Federal). Empolgado com o aprendiz de tipógrafo Machado de Assis, escolheu as artes gráficas (tipografia) no aprendizado. Tinha como professor Antônio Siqueira Campos, o “Mestre Camarão” como era conhecido. “Certo dia – conta Zelito – descobrindo nos arquivos da oficina uma edição antiga do jornalzinho “Vencer”, propus a possibilidade do mesmo voltar a ser editado”. Como aprendiz de tipógrafo, tomou à frente da composição gráfica (feito com tipos móveis) e em poucos dias saiu mais um número do periódico. Era o periódico órgão do Grêmio Literário Carlos Câmara. Era diretor da Escola o professor Jorge Raupp, que elogiou a equipe de alunos responsáveis pelo trabalho. “Tive a oportunidade de publicar no “Vencer” a minha primeira poesia, inspirado num poema de Casimiro de Abreu” – concluiu Zelito.
Concurso de reportagem
Início do ano de 1957. Como aluno do Colégio Estadual Liceu do Ceará, Zelito Magalhães criou com os colegas de turma Wellington Ayres, Diniz Araújo e Nemésio Dias e colaboração de Adísia Sá, o periódico “Voz Estudantil”, de curta circulação. À época Nemésio, que já era do quadro de revisores do “O Povo”, arranjou uma vaga para o colega Zelito. Depois de alguns meses, este foi indicado pelo “Seu Costa” para assumir provisoriamente o cargo de repórter policial, no lugar do titular Hélio Gois, que convalescia de uma doença. Foi quando ocorreu um crime no Montese em que um operário assassinou a golpes de faca o gerente de um cotonifício. Por ordem de “Seu Costa” Zelito foi fazer a cobertura . Conta o nosso entrevistado esse particular: recebendo as ordens, “se atacou a pé da redação do jornal, que ficava na Rua Senador Pompeu , até o local do crime, porque não tinha dinheiro para pagar o transporte e teve cerimônia de pedir ao patrão”. Tendo feito as devidas anotações sobre a ocorrência, voltou de carona no rabecão do IML Disse ter considerado aquela matéria como o seu batismo de fogo como jornalista.
O jornal resolveu promover um concurso de reportagem para descobrir jovens inclinados ao exercício da profissão. Zelito Magalhães candidatou-se ao certame, sendo um dos aprovados no certame. A reportagem “Carlos Câmara – um Cearense Esquecido” foi publicada na edição de 30 de outubro de 1957. Disse Zelito que muito devia à senhora Diva Pamplona Câmara, viúva de Carlos Câmara, por ter ela colocado à sua disposição o acervo deixado pelo marido. Carlos Câmara era o patrono do Grêmio Literário da Escola Industrial de Fortaleza, do qual tinha sido este membro diretor. “Digo que esta reportagem marcou o meu batismo de fogo como jornalista profissional” – confessou o entrevistado.
Na mesa de revisores, Zelito teve bons companheiros, como Geraldo Costa (chefe dos revisores e irmão de “Seu Costa”) Raimundo Andrade de Paiva, Faria Guilherme (que editou um “Manual de Revisores”). Raimundo Paiva, que já estava ali por certo tempo, formando-se em Direito, foi exercer a profissão. Faria Guilherme também saiu, indo chefiar o setor de chefia na Imprensa Universitária da UFC. Depois de desempenhar as funções temporárias de repórter policial, Zelito foi integrado oficialmente na redação, que tinha na chefia o competente Fenelon Almeida. Logo se familiarizou com o quadro de redatores – Flávio Ponte, Odalves Lima, Tarcísio Holanda, Inácio de Almeida, Edmundo Vitoriano, os colunistas Eutímio Moreira e Maura Barbosa, Antônio Pontes Tavares no esporte, e tantos outros.
A figura do revisor
Sabemos nós jornalistas e os leitores de matérias impressas, que a revisão tipográfica é fundamental do texto. Avaliem o texto mal revisado ou que não tenha passado pela ótica do profissional. Ouviremos Zelito que começou como revisor de provas tipográficas. “Os grandes jornalistas que conheci começaram na revisão. Era como uma escola em que o aluno aprende as primeiras lições para se tornar um profissional de imprensa. Nossos grandes jornalistas começaram como revisores. Destacamos João Jacques, J. C. Alencar Araripe, Ari Cunha, Blanchard Girão, Temístocles de Castro e Silva, Helder Cordeiro, Francisco Segundo, dentre outros. No ‘O Povo’ Alencar Araripe, já então secretário, confiou a Zelito Magalhães a revisão da série de reportagens que escreveu: Do Sonho de Brasília à realidade do Nordeste. A série mereceu o cobiçado Prêmio Esso de Reportagem, que foi comemorado no começo do ano de 1958 com uma festa de congraçamento no Náutico” – finalizou o nosso entrevistado.
Reportagens de impacto
Disse Zelito Magalhães que, “para melhor exercitar a sua arte de escrever”, além das matérias de redação que produzia, passou a escrever artigos literários. “Dois Escritores” foi um deles. Publicado no dia 14 de setembro de 1959, nesse trabalho o autor comenta sobre “Cem Crônicas Escolhidas” e “A Beata Maria do Egito”, de Rachel de Queiroz. Este último conquistou o maior laurel já conferido a escritor pela Academia Brasileira de Letras; e “Gabriela, Cravo e Canela”, de Jorge Amado, que surpreendeu a literatura nacional. Disse que muito se empolgava com as crônicas de Henrique Pongetti, espécie de cadeira cativa. Era jornalista mineiro que se radicou no Rio de Janeiro, especializado também em escrever peças para teatro. Chegou o revisor a se corresponder com Pongetti em que muito se espelhou nos seus escritos. Dentre outras reportagens assinadas por Zelito Magalhães n’O Povo, destaca como as principais:
“Vencendo a barreira da era do jato
A AERONÁUTICA A CAMINHO DO PROGRESSO SUPERSÔNICO”
Esta publicada em 23 de outubro de 1962
“Como foi há 40 Anos
O Primeiro Concurso de Beleza no Brasil”
Esta outra data do dia 5 de setembro de 1969
“Meio Século de Febre Amarela no Brasil”
Foi publicada em 29 de agosto de 1970.
O escritor
Conta o nosso entrevistado que a sua veia poética fê-lo despontar muito cedo. Um dia, sabedor de que “Seu Costa” tinha amizade com proprietários de empresas do ramo gráfico, resolveu mostrar-lhe os rascunhos com interesse de publicar um livro.
Um simples bilhete dirigido aos irmãos Guilhon, da revista “Monitor Comercial”, foi o suficiente. Assim, ao cabo de alguns dias, 500 exemplares de “Canções de um Menestrel” chegaram à redação do jornal. A Batista Fontenele era outra empresa do mesmo ramo estabelecida vizinho ao “Seu Costa”. Prevalecendo a amizade que já existia entre o repórter-aluno do Liceu do Ceará e um colega de bancos escolares, tudo deu certo para outro livro. O estudante era filho do dono do estabelecimento, o que também facilitou para vir a lume em 1962 o livreto de contos “Poeira”.
Zelito Magalhães contabiliza o total de 13 títulos de sua autoria: “Canções de um Menestrel” (1959) – “Poeira” (contos 1962), “Os Novos Poetas do Ceará” (parceria – 1970), “Nova História da Associação Cearense de Imprensa” (parceria – 2002), “O Romance Cearense – Origem e Evolução” – Prêmio da Academia Cearense de Letras – (ensaio 2002), “O Liceu do meu Tempo” (parceria – 2005), “O Liceu do meu Tempo – Vol. II – 2007”, “História da Maçonaria no Ceará” (Prêmio de monografia – 2008), “Piedade, Retalhos de Lembranças – Memórias de um bairro” (I edição 2009 e II edição 2010), “ACI: 82 anos de Lutas e Glórias” (2007), “Academia Cearense em Versos” – (2009), “Dois Amigos, um Ideal” Zelito Magalhães/Gastão Weyne – (2013) e “100 Sonetos Cearenses” (antologia – 2013).
Vieram outros jornais
“Amálgama” era um anexo do “O Povo” que saía aos sábados. Dentre os seus colaboradores (especiais) estava o intelectual Carlyle Martins, que era Juiz de Direito. Logo Zelito criou com ele certa amizade. Tomando o revisor conhecimento de que o jornal “O Estado” estava precisando de revisor, o Dr. Carlyle intermediou a apresentação do candidato ao emprego. Em 1959, Zelito Magalhães ingressou no outro jornal, sem perder os vínculos com “O Povo”. Abrimos parêntese para uma passagem contada por Zelito: “Era eu o responsável pela revisão dos artigos dos colaboradores da página “Amálgama”. Certo dia, um senhor de boa altura, fortes lentes, uma pasta apertada ao peito, subiu a escada da redação e falou num bom som: Paulo, mexeram no meu artigo! Era o Dr. Paulo Sarasate. “Quem foi que fez uma coisa dessa, Carlyle?”. Imediatamente o Geraldo Costa, chefe da revisão, foi aos arquivos dos originais e provas emendadas e entregou ao Dr. Paulo. Depois de dar uma conferida nos papéis, olhou para os dois e disse: “Doutor Carlyle, toda vez que trouxer seus artigos, antes de entregar nas oficinas, mostre a este rapaz para dar uma revisada”. Vibrei com a colocação do patrão, que mereceu o apoio do pessoal da redação”.
No jornal “O Estado” Zelito foi um misto de revisor e repórter. Criou a coluna Crônica Curiosa em que escrevia sobre os mais diversos assuntos. Dentre essas produções, ele cita algumas: Machado-Cruz e Sousa e o preconceito racial (série de cunho sociólogo) Miguel Ângelo e a literatura – Desaparecem os círculos… – O castigo pedagógico – História do pseudônimo – Cartas amorosas – Anúncios curiosos – Epitáfio, etc.
Na edição de 9 de outubro de 1960, publicou a matéria intitulada Coelho Neto Poeta, que foi alvo de uma resposta contundente da Academia Brasileira de Letras. O articulista parece ter mexido com os brios do escritor maranhense ao dizer que o conhecido soneto “Ser mãe” não refletia a realidade quanto o autor. Na citada matéria, afirmava Zelito que a composição era de Francisco José Coelho Neto, baiano e vice-almirante da Marinha do Brasil (nome de guerra Coelho Neto). Na relação das obras literárias do maranhense, disse, não consta nenhuma do gênero poético. Até hoje o soneto é divulgado e declamado nos salões literários como sendo da autoria do maranhense de Caxias.
“Ser mãe é desdobrar fibra por fibra/ O coração! Ser mãe é ter no alheio/ Lábios que sugam o pedestal do seio/ Onde a vida, onde o amor cantando vibra.”
“O Dia” que deixou marcas
Zelito ainda atuava no “O Estado”, quando foi convidado a dirigir “O Dia”, periódico independente, propriedade do Dr. Oswaldo Rizatto. Aceitou a proposta, porém sem cessar o vínculo com o primeiro. Deixamos com o entrevistado o ocorrido: “Numa tarde do ano de 1963, chegou à redação do jornal o inspetor de trânsito Agostinho Moreira, então vereador representando a classe, acompanhado de meia dúzia de servidores. Confessou que há tantos dias, o colega Francisco Mendonça tinha sido preso arbitrariamente, encontrando-se recolhido na Delegacia de Furtos e Roubos, ambiente infecto e em promiscuidade com marginais. Disse ainda que o secretário de Segurança Pública havia desrespeitado o Estatuto de sua repartição, pois o preso deveria ter sido encaminhado para a mesma.
Acrescentou Agostinho que já tinha ido a vários órgãos da imprensa citadina e nada tinham resolvido”. Ao deixarem a redação – continua Zelito – Odalves Lima, que era o chefe, disse que o jornal não poderia publicar a ocorrência, por isso e por aquilo. Compreendi. “O jornal era subvencionado pelo governo do Estado e o agressor era filho de um deputado, primo do secretário de polícia”. Sentindo Zelito Magalhães a impossibilidade da matéria sair no “O Estado” , telefonou para o dono do “O Dia”, que era o Dr. Osvaldo Rizato. O linotipista Cordeiro foi autorizado a tornar sem efeito a manchete de primeira página, que já estava pronta , sendo colocada outra em letras garrafais:
GUARDA DE TRÂNSITO PRESO ARBITRARIAMENTE PELO SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA
No subtítulo a informação de que a autoridade havia descumprido o Estatuto da repartição. Zelito foi censurado por alguns dos colegas que integravam o Birô de Imprensa, criado no governo de Virgílio Távora e comandado por Nertan Macedo.
Jornalistas x ditadura militar
Entrevista concedida pelo jornalista e advogado Paulo Bonavides a Sebastião Rogério Ponte/Simone Sousa para a História & Memória do Jornalismo Cearense (2004).
História & Memória – Como a imprensa se colocou em relação à Revolução de 1964?
Paulo Bonavides – “Revolução em não diria que fora, mas movimento armado, golpe de Estado. A ditadura se vestiu, se cobriu de vestes constitucionais, fez uma Constituição em 1967(…). Realmente, nós, jornalistas, fomos as maiores vítimas desse aparelho de censura que, no Ceará, emudeceu a voz da imprensa livre, porque quem destoasse da linha, da orientação estabelecida, era imediatamente inquinado de subversivo”.
No ano de 1963, Zelito Magalhães inscreveu-se num concurso público e no ano seguinte assumiu o cargo como datiloscopista na Secretaria de Polícia e Segurança Pública. Progredindo na profissão, três anos depois se matriculava no curso de Perito Criminal, instituído pela Escola de Polícia Civil (EPC). A palavra é do Zelito: “Concluiria no ano seguinte referido curso. Certa tarde, o chefe da repartição foi até ao meu setor de trabalho: o secretário queria falar urgente comigo. Ao adentrar o seu gabinete, deparei-me com um jornal sobre a mesa. Era “O Dia”, justamente a edição de 1963, que trazia em letras garrafais a denúncia sobre ele, o secretário. Fuzilando-me com um olhar sisudo, indagou: “Então, foi o senhor que escreveu a matéria contra o seu secretário”? Mal tive tempo de explicar que a matéria era de 1963, e estávamos em 1966… O segurança pediu a minha identidade funcional e me levou direto para um dos xadrezes”.
Conta Zelito que foram 28 dias de cárcere e tinha certeza de que não sairia dali com vida, a exemplo do ferroviário José Nobre Parente. José Nobre havia chegado à sua cela numa manhã, escoltado por um oficial do Exército e um agente de polícia. Por volta das 22h o levaram. Dias depois, soube pela imprensa que o homem havia se enforcado…
(No Atestado de Óbito fornecido pelo Cartório Cysne, com data de 20.5.1966, constava morte por asfixia mecânica por contrição do pescoço, enforcamento). No dia seguinte, por volta do meio dia, o delegado Venelouis Xavier Pereira, disfarçado, chegou ao xadrez por volta do meio-dia e disse baixinho que o cadeado estava aberto; trancasse ao sair e que fosse pela porta da frente do prédio. Devo dizer que Venelouis foi o meu salvador. Tínhamos selado uma amizade por conta das informações que lhe havia passado sobre a arte de fazer jornal. Ele tinha adquirido os direitos de propriedade do “O Estado” fazia alguns meses. Esta história consta em um dos capítulos do meu “Memórias de um Repórter”, que seria lançado no ano vindouro.
Vem a Gazeta de Notícias
Zelito Magalhães tornou-se sócio da Associação Cearense de Imprensa (ACI) ainda quando aluno do Liceu do Ceará. Era Darcy Costa membro do Clube de Cinema de Fortaleza (CCF) que ocupava um dos andares da ACI. Os dois travaram amizade. Conta Zelito: “Quando perdi o emprego público, percebi que não tinha mais condições de voltar a atuar nos jornais por onde tinha passado. Os patrões, naturalmente, temiam represália dos altos comandos militares. Principalmente O Estado, sob o comando de Themístocles de Castro e Silva, que tinha “virado a casaca”. Abro um parêntese para dizer que, antes da chamada Revolução de 64, o jornalista, como secretário e escudeiro fiel do governador Parsifal Barroso, proclamou-se contra os ministros militares que não aceitaram a posse de João Goulart como vice de Jânio Quadros, que havia renunciado à presidência da República. Para agradar Parsifal, Themístocles veiculou pelo O Estado, edição de 3 de setembro, o artigão Posse, pura e simples, e temos conversado”.
“Lembrando-me da amizade com Darcy Costa, agora diretor da Gazeta de Notícias, fui até ele, era o ano de 1968. Um tanto receoso, contei a minha história. No mesmo dia estava empregado”.
Zelito Magalhães disse ter começado com o pé direito no novo emprego. Sentia-se feliz em ter ido trabalhar ao lado de Rogaciano Leite e Adísia Sá. Passou a conhecer J. Arabá Matos (chefe do esporte) Auto Filho, Sabino Henrique, Frota Neto, Leda Maria, Ivonete Maia (estas duas demoraram pouco) Augusto Costa (filho do Darcy) além de outros da redação. Era secretário Durval Ayres que já o conhecia desde os anos 50, quando teve seu primeiro emprego como entregador de assinaturas do jornal “O Democrata”. Na Gazeta ocupou inicialmente uma vaga de revisor, ao lado de Nemésio Silva (colega no “O Povo”) e João Araújo. Criando-se a Coluna dos Interiores, Zelito foi indicado para dirigi-la. Segundo ele, o colunista deveria controlar as matérias enviadas pelos correspondentes e que passavam por um crivo, que muitas vezes tendo que ser refeitas ou reduzido o tamanho dos textos. Francisco autoassinava a página dominical Letras & Artes da qual Zelito passou a ser colaborador.
No ano de 1968, o comando da Base Aérea de Fortaleza instituiu um prêmio de reportagem alusivo à Semana da Asa que se avizinhava. Inscreveram-se jornalistas de vários jornais. Zelito Magalhães tirou o primeiro lugar com a reportagem sobre o CAN – (Correio Aéreo Nacional) intitulada Correio de Arco e flecha conta história de 37 anos ficando José Mário Pinto, do “O Povo”, em segundo lugar. A matéria do repórter da “Gazeta de Notícias” foi publicada na edição de 21 de outubro daquele ano de 1968.
Fundado o matutino no ano de 1927 pelo pernambucano Antônio Luis de Drummond Miranda foram os direitos adquiridos pelo “O Povo” em 1972, que transformou em semanário, que teve curta duração.
Prêmio Ministério da Aeronáutica publicado na Gazeta de Notícias edição de 1978
Correio do Ceará
Depois de alguns meses Zelito Magalhães estar empregado, foi convidado pelo diretor Eduardo Campos, a pertencer ao Grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Assim, dividia os horários: trabalhava na Gazeta à noite e no Correio na parte da tarde. A redação compunha-se dos jornalistas: Stênio Azevedo, que estava à frente dos concursos de miss cearenses, Lustosa da Costa que também era o apresentador de noticiário de TV, José Rangel, Francisco Monteiro, Milano Lopes, redator político. Carlos Cavalcante assinava a famosa Crônica do Caio Cid. Crônica da Ala era redigida por Cândida Galeno, presidente da Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno. Diz Zelito que Adauto Gondim, também daquele quadro de jornalistas, ao lado do cronista César Coelho (também colega na Gazeta de Notícias) eram frequentadores da referida casa de cultura. Os três foram convidados por Cândida Galeno a participarem de uma reunião de poetas trovadores, naquele sodalício, que ocorreria no dia 11 de novembro de 1969. Tratava-se da fundação da União Brasileira de Trovadores. Os três jornalistas compareceram e eleitos membros da diretoria eleita.
O Correio do Ceará tinha como gerente Antônio Carlos Campos de Oliveira, que mereceu de Zelito a referência: “Foi o doutor Antônio Carlos que assinou a minha carteira de trabalho”. O decano do jornalismo cearense faleceu no dia 13 do corrente mês de julho.
Jornalismo: morte e agressões
O jornalista Zelito Magalhães disse estar concluindo “Memórias de um Repórter”, que pretende lançar no próximo ano. Constará do livro um capítulo em que narra os principais acontecimentos (pilhagem, perseguições, mortes…) relacionados a ilustres homens, que somam à história da imprensa cearense.
1– 1824: a 1º de abril circulou o primeiro jornal impresso no Ceará – o Diário do Governo do Ceará. Teve como redator e maior articulista Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Melo (Padre Mororó). Em pouco tempo a folha transformou-se numa trincheira de sonhos acalentados pelos ideais de um Brasil republicano. Mororó foi fuzilado aos 51 anos, no dia 30 de abril de 1825. É o patrono da nossa imprensa.
2– Rodolfo Teófilo, em seu livro Libertação do Ceará, lastima a atitude do jornal A República, editado sob os auspícios do governo Nogueira Acioly. “Fui muitas vezes insultado por essa imprensa venal, e como documento deixo nas páginas de meu livro Varíola e Vacinação no Ceará transcritos os torpes insultos a mim dirigidos”.
3– A oficialidade da Polícia Militar, tendo à frente o tenente coronel Carneiro da Cunha e o capitão Marcondes Ferraz, era discriminada pela sociedade que não a poupava pela violência e a força do autoritarismo que praticava. Hermenegildo Firmeza, companheiro de João Brígido no Unitário, escreveu um artigo que mexeu com os brios de Carneiro da Cunha. Gustavo Barroso descreve o episódio: “Uma tarde, achava-se no Café Java, na Praça do Ferreira, conversando com o negro Chico, gerente do estabelecimento, quando este penetrou de roldão com um grupo de oficiais da Polícia, fardados e armados. Arrastaram Hermenegildo, lívido e trêmulo”.
O capitão Marcondes apresentou ao jornalista a mão cheia de pílulas feitas com pedacinhos de seu artigo e disse-lhe: “Ou engole ou morre”. “Depois pediu ao negro Chico que lhe desse um copo de água”.
4– A. C. Mendes (Álvaro da Cunha Mendes) diretor do Correio do Ceará, foi processado e condenado à prisão pela publicação do editorial “A escapatória dos malandros”, edição de 18 de abril de 1925.
5– O jornalista Antônio Drummond, diretor da Gazeta de Notícias, foi assassinado com sete tiros de revólver na noite de 11 de junho de 1930, em sua mesa e trabalho pelo juiz municipal Virgílio Gomes de Oliveira, por motivos políticos.
6– Demócrito Rocha ainda não havia fundado O Povo, porém já era conhecido pelos ousados artigos que escrevia no O Ceará, de Júlio de Matos Ibiapina. Dias depois, foi vítima de um atentado em plena Praça do Ferreira, quando uma dúzia de oficiais da Polícia Militar cercou o jornalista e o atacaram com socos e pontapés.
7– No ano de 1946, a imprensa denunciou mais um ato de violência policial, desta vez tendo como vítima o cronista esportivo Aliatar Bezerra.
8– Fundado em 1947 o Diário do Povo, de Jáder de Carvalho, alta madrugada a folha foi invadida e depedrada pela polícia, a mando do secretário de Educação, Valmick Albuquerque, filho do então governador do Estado Faustino de Albuquerque.
9– O jornalista Jaime Calado, do O Democrata, é assassinado no dia 9 de julho de 1949, com um tiro no abdômen pelo policial Lamberto Sales. Calado ainda tentou refugiar-se no vestíbulo do Theatro José de Alencar.
10– Em outubro de 1954, o comentarista político Carlos Costa, do O Estado, foi agredido pelo deputado Péricles Moreira da Rocha.
11– Manchete da Gazeta de Notícias, edição de 25 de outubro de 1955: Requintes de Covardia e Molecagem – Agressão de Carlos Jereissati ao Jornalista Luís Campos.
A classe estudantil solidarizou-se com a imprensa, pedindo justiça. “Voz Estudantil”, jornal dirigido pelos liceístas Wellington Ayres de Medeiros, Diniz Alencar Araújo e Zelito Magalhães. No 2º número, publica matéria assinada pela estudante Adísia Sá, então secretária da Associação Cearense de Imprensa Estudantil: Jornalista Luís Campos é agredido pelas mãos de deputado analfabeto.
12– O repórter policial Geraldo de Castro, do O Estado, é agredido na Praça do Ferreira, domingo, 7 de fevereiro de 1960, pelo agente de polícia José França Cabral. Na tarde do ano seguinte, dia 27 de maio, no bairro de Porangabussu, voltou a ser espancado brutalmente pelo ex-agente e desordeiro Eudes Pinheiro, o “coice de mula”. Internado no Instituto José Frota, Geraldo veio a falecer dias depois. Zelito que também era repórter do mesmo jornal, sugeriu ao linotipista Palácio: compor a matéria colocando de cabeça para baixo o nome do agressor em negrito.
13– O jornalista Edmundo Maia foi espancado no gabinete do delegado da Polinter João Alencar Monteiro. Edmundo teria dito saber de um escândalo ocorrido no organismo policial, e que não publicaria por temer ser assassinado. Edmundo veio a falecer em 17 de fevereiro de 1993.
14 – Repercutiu na imprensa local e do Sul o sequestro e espancamento do jornalista Venelouis Xavier Pereira, diretor do O Estado, por ter criticado pelas páginas do jornal o comportamento do comando da Polícia Militar. O Jornal do Brasil publicou na edição de
14 de novembro de 1972 a matéria: Jornalista espancado vai a exame no Instituto Médico Legal.
15– O articulista Cláudio Pereira foi preso injustamente, no ano de 1966, acusado de ter quebrado com outros comparsas a vitrine da Loja Milano, na Praça do Ferreira, que tinha montada uma exposição de fotos com realizações das Forças Armadas (Cláudio Pereira compôs a diretoria da Associação Cearense de Imprensa (ACI), na presidência de Zelito Magalhães – 2004/2007).
Zelito no Jornal do Comércio do Ceará
Tem sido intensa a atuação do companheiro Zelito Magalhães, que dirige em nosso periódico o Departamento de Cultura. Seu primeiro trabalho em 2013, foi a cobertura de um evento literário – lançamento do livro intitulado “Dois Amigos, um Ideal” teve a melhor aceitação nas esferas da cultura. Vieram a seguir outros trabalhos de sentido histórico, destacando-se: A Primeira Corrida Automobilística no Brasil – O sesquicentenário de “Iracema” – Maçonaria no Ceará, Instituição milenar que despontou no século XVIII – História da Revolução de 1817 pela República Brasileira – História do Passeio Público. Na área biográfica: O Centenário da beletrista Cândida Maria Santiago Galeno – Mário Behring, o criador das Grandes Lojas Maçônicas do Brasil – Chico da Silva, o Pintor da Praia – No âmbito educacional, o modelar Colégio da Imaculada Conceição – Genealogia: As Famílias Almeida–Braga e Alves – Cultura musical: História do Samba Popular no Brasil (série I, II e III) – Luiz Gonzaga maçom – Rei do Baião – Reportagem sobre Dias Branco, o maior complexo panificador do Brasil – Entrevista com imortal eleito para a Academia Cearense de Letras – Mário Gomes, o poeta da Praça – Eduardo Campo, polímata da cultura, e – Márcio Catunda, Diplomata, poeta, compositor, folclorista. Um conjunto de mais de trinta matérias completa o ciclo elaborado ao longo de oito anos, período de 2013 até este agosto de 2020. Brindando os nossos leitores com a presente reportagem. Proximamente a II reportagem que focará o escritor e poeta com mais de uma dúzia de obras editadas, destacando-se o ensaio “O Romance Cearense – Origem e Evolução, prêmio Osmundo Pontes de Literatura da Academia Cearense de Letras”.