Márcio Catunda: Diplomata, Poeta, Compositor, Folclorista…

Cearense de Fortaleza é um dos maiores e ilustres representantes do folclore no Ceará. Pertence a diversas entidades literárias no Ceará e exterior – Grupo Siriará e a sua atuação como fundador – Farta bagagem como compositor musical – Poemas, ensaios e contos completam o acervo cultural – Sua atuação como Cônsul várias Nações – Catunda não é somente o lírico e o panteísta’’…

 

Texto: Zelito Magalhães
Diríamos que o nosso entrevistado começou a sua carreira literária ainda nos bancos escolares, quando passou a botar no papel os primeiros rabiscos as suas aspirações poéticas. Aos 20 anos editou o seu primeiro livro Poemas de Hoje, em parceria com Natalício Barroso. Daí em diante, nunca mais parou de produzir, porém isto é o que veremos adiante.
Márcio Catunda Ferreira Gomes é seu nome completo. Nascido na capital cearense, logo após bacharelar-se em Ciências Jurídicas Sociais pela Faculdade de Direito da UFC, alçou voo para outras paragens. Aportando na capital da República, ali cursou o Instituto Rio Branco, vindo a diplomar-se para ingresso na carreira diplomática em 1985. Voltando aos bancos, ainda Distrito Federal, cursou a Faculdade de Letras-CEUB (1989).

Carreira Diplomática
Por mérito assumiu a Embaixada do Brasil em Lima (Peru) de 1991 a 1994; secretariou o Consulado do Brasil em Genebra (Suíça) de 1994 a 1997. Foi Cônsul-Adjunto da Embaixada do Brasil em São Domingos, República Dominicana, de 2002 a 2005; Conselheiro Comissionado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Lisboa, em 2005, além de Assessor Cultural.
Regressando à sua terra natal, presidiu o Clube dos Poetas Cearenses, em 1975. No Rio de Janeiro, integrou, em 1982, o círculo denominado Sabadoyle. Na companhia de Carlos Drummond e de outros famosos escritores residentes naquela cidade.

O início
Em entrevista a Selmo Vasconcellos, do Jornal Sem Fronteiras (2015) disse: De repente, não mais que de repente. Acho que na infância, mas a força se apresentou mais intensamente, quando tinha 15 ou 16 anos de idade, num momento de crise existencial.
Seu alicerçamento na cultura literária teve início propriamente dito quando criou em 1978 o Grupo Siriará, que teve como integrantes: Rosemberg Cariry, Airton Monte, Oswald Barroso, Rogaciano Leite Filho, dentre outros. No mesmo ano fez uma parceria com Eugênio Leandro que gerou o Álbum Escrito nas jangadas, disco com músicas de ambos.

Opinião da Crítica
O conceito tradicional do “verso” quase chegou a desaparecer quando se trata de temas extraídos da biografia, da história, do mito e da própria literatura, como acontece no belo livro de Márcio Catunda, A força diegética do tema parece sobredeterminar o sentido do discurso, levando-o na direção da narrativa em prosa, embora a serviço da dicção poética Antônio Miranda – Membro da Academia de Letras do Distrito Federal e Doutor em Ciências da Comunicação. Referindo-se a Eternidade Humana: “O livro de Márcio Catunda faz uma chamada geral dos heróis da humanidade e os reúne – não numa plataforma diacrônica nem em grupos temáticos da religião, da arte ou da literatura –, criando-se a ideia de um ‘caos’ cultural numa leitura apressada, mas trata-se na verdade da ‘cosmovisão’ de um grande leitor e poeta. A obra é uma das mais ricas da atualidade”.

Gilberto Mendonça Teles – Professor, poeta e crítico goiano
A poesia de Márcio Catunda evoluiu dos temas sociais e de protesto, presentes nos seus primeiros livros, notadamente em Incendiário de Mitos, de 1980, para a busca do transcendente, dos mistérios do ser e do enigma das coisas sagradas, cuja expressão se verifica marcadamente nos livros A Quintessência do Enigma, de 1986, Purificações, de 1987, O Encantador de Estrelas, 1988, e Sortilégio Marinho, de 1990. O resultado de suas reflexões sobre o ser e a eternidade se configurou num livro em prosa, A Essência da Espiritualidade, de 1994.

Panteísta sempre o foi, cantando a terra natal, as aves, o céu, as matas, os rios, os mares, as serras alcandoradas e acentiladas, as estrelas, o sol, a luz e a beleza das praias. Como todo bom cearense, não se esquece dela em diversos poemas. Tem rasgos de patriotismo aqui e ali, combatendo a miséria e louvando o trabalho e os trabalhadores em geral, sejam da cidade, sejam do campo, cantando igualmente, o movimento febricitante das pequenas e das grandes cidades, enquanto vezes outras viaja pelas constelações ou pousa no brilho do sol, no espelho das águas.
Márcio Catunda, no entanto, não é somente o lírico e o panteísta, quanto é místico; sobrevoa o estoicismo e paira sobre as catedrais dos altos ventos. Incursiona pelos aforismos, filosofando intensamente. O único espaço existe é o interior, o único lugar visível, o agora. O único tempo disponível é já – A conquista é a calma – Todos os caminhos conduzem ao Eu, Vasque Filho, 1º presidente da União Brasileira de Trovadores – Seção do Ceará.
Márcio Catunda por onde andou em várias embaixadas, por muitos países, deixou um plantio de poemas. Poeta místico, com temas introspectivos, desde o início da década de 1970, vem estreitando relações literárias com os poetas alternativos. Há momentos em que Márcio é um eremita recluso nas suas meditações, Batista de Lima, escritor, poeta, folclorista, membro da Academia Cearense de Letras.

Sociedades literárias
Márcio Catunda integrou várias entidades de cunho literário do Ceará, Rio de Janeiro, Brasília, além outros países como Suíça, Peru, República Dominicana, etc. Presidiu em Fortaleza o Clube dos Poetas Cearenses (1975), integrou no Rio de Janeiro o círculo de reuniões denominado Sabadoyle, tendo Carlos Drummond de Andrade como um dos companheiros; ingressou em 1984 na Associação Nacional de Escritores, em Brasília, quando passou a estabelecer intercâmbio com escritores de todas as regiões brasileiras. Fundou em Fortaleza o Grupo Siriará em 1985; com os poetas peruanos Eduardo Raga, Regina Flores e Eli Martin o grupo REME, na organização de recitais, etc., publicando livros, no período de 1992 a 1994. Participou em Genebra (Suíça) da Associação de Escritores Genebrinos (1966/67); Na República Dominicana (São Domingos) participou de uma associação de poetas dedicados ao estudo da metapoesia. Colaborou em diversas revistas e jornais brasileiros e estrangeiros. Colaborou com a Revista da Academia Cearense de Letras e Revista Terapia; entre os jornais: Correio Braziliense, Jornal do Comércio (RJ), Jornal de Brasília Suplemento Literário de Minas Gerais (BH), O Povo, Tribuna do Ceará e Jornal da Associação Nacional de Escritores de Brasília (capital). Periódicos eletrônicos, como o Jornal de Poesia e Poesia Viva (RJ).

Livros editados
Estreou no mundo livresco em 1977 com Poemas de Hoje, em parceria com Natalício Barroso. 1980: Incendiário de Mitos (poesia); Navio Espacial (poesia) – 1981; Estórias do Destino (contos) e Pérfida Perfeição (poesia) – 1982; em 1988 veio Incendiário de Mitos (poesia). “O Evangelho da Iluminação (poesia) – 1983. A Quintessência do Enigma (poesia) em 1986. Purificações (poesia) 1987; O Encantador de Estrelas (poesia) de 1989-RJ; Antologia Poética – I e II volumes – 1988/89 Sortilégio Marítimo (poesia) 1991; Los Pilares del Esplendor (poesia) 1992 – editado em Lima (Peru); Llave Maestra (poesia) – 1994. Com os poetas peruanos Eduardo Rada, Regina Flores e Eli Martin, fundou em 1992 o grupo REME, destinado a organizar recitais e publicar livros, que funcionou de 1992 a 1994. “A Essência da Espiritualidade” (ensaio) 1994, idem Lima (Peru). Poèmes Ecologiques – Bellegarde (França) – 1996; Rosas de Fogo e Água Lustral, poesias, 1998-RJ; Estância Cearense (antologia poética) Fortaleza – 1999. À Sombra das Horas (antologia poética) produzida para o idioma búlgaro, Sofia (Bulgária) 1999; Na Trilha dos Eleitos (ensaios) 1999-RJ; No Chão do Destino (poesia) Vitória-ES, 1999; Crescente (poemas musicados), Sofia (Bulgária) 1999; Verbo Imaginário (antologia); London Gardens And Other Journeys (poesia) 2000 – Sofia (Bulgária) 2000; Rios (antologia) poemas de quatro autores, com os poetas cariocas Ricardo Alfaya, Thereza Christina Motta, Elaine Pauvolid e Tanussi Cardoso – RJ, 2003; Sintaxe do Tempo, Fortaleza, 2004; Plenitude Visionária (poesia) 2007 – Lisboa; Palavras Singulares (ensaio) Lisboa – 2008; Luiz sobre La Historia (poesia) Sevilha (Espanha) – 2011; Escombros e Reconstruções (poesias) – 2012; Viagens Introspectivas (poesia) Fortaleza – 2013; Terra de Demônios (romance) – RJ, 2013; Todos os dias são difíceis na Barbúria (romance) RJ – 2016; Eternidade Humana (poesia) Brasília – 2017.

Gravações em CDs
Através de CDs, gravou uma série de seus poemas musicados, como Anima Lírica l997 – Genebra (Suíça); Noites Claras, poemas musicados – Sofia (Bulgária) – 2000; Mística Beleza, poemas musicados, Brasília, 2003; Água de Flores, poemas musicados – 2009 – Madri (Espanha); O Jardineiro da Vida, poemas musicados – Madri (Espanha) 2009; Emoção Atlântica, idem, 2012.

O amigo Mário Gomes
Reputamos Márcio Catunda como um dos melhores amigos do poeta Mário Gomes.
Acompanhamos de perto uma amizade que perdurou durante entre ambos mais de 30 anos. Catunda publicou no jornal Diário do Nordeste, edição de 06.09.98, um Depoimento sobre o amigo, que Mário transcreveu para seu livro Uma Violenta Orgia Universal (Multigraf Editora, 1999). Neste depoimento, o amigo ratifica, nestes termos, a amizade de que falamos: Mário Gomes é um exemplo desse tipo de indivíduo que, se não fosse a poesia, não teria a mínima possibilidade de comunicar-se de maneira lógica ou mesmo de sobreviver. Com sua excentricidade, seu apreço pelos amigos e seu caráter bonachão, este poeta encanta a todos quanto se identifiquem com sua sensibilidade. Debruçando-se, de um modo mais profundo, na vida íntima de Mário Ferreira Gomes, o amigo editou o ensaio biográfico Mário Gomes: poeta, santo e bandido (Multigraf – 2000). O propósito do autor era mostrar aos literatos e outros representantes da nossa cultura o quilate de um poeta descomunal. Seria uma forma de documentar para outras gerações o legado histórico de um perdulário, de um sonhador, de um poeta, santo e bandido. Mário e Márcio já haviam dado as mãos para a produção de Devaneios e Lamentações, cuja obra veio a lume pela Editora Scortecci (SP) 1991. Voltando a palmilhar pelos caminhos poéticos, desta vez foram três a mostrarem os seus talentos em Terno de Poesia – Mário Gomes, Márcio Catunda e José Alcides Pinto (Ed. Oficina) Fortaleza – 1995. Ninguém melhor do que os três para representar a poesia contemporânea cearense. Juntos desbravamos mistérios da palavra e colhem da vida a essência que anima o poema, como bem disse Aluísio Gurgel do Amaral Júnior.

Balanço geral
Márcio Catunda Ferreira Gomes, ao longo de sua vida literária, produziu mais de 70 obras nos gêneros da poesia, do conto e do romance. Em gravações de discos e CDs foram 30 lançamentos. Sua última produção em livro foi Todos os dias são difíceis na Barbúria, RDS Editora, lançado em 2008 no Theatro José de Alencar.

Como aluno do Instituto Rio Branco, culminou com a carreira de embaixador, andou em vários países representando o Brasil. Como poeta é dono de uma bagagem que tem espalhado por vários recantos, inclusive nações estrangeiras. Como bem falou Vasques Filho, o nosso enfocado não é somente o lírico que sobrevoa o estoicismo.

Diremos que sobrevoa a favor dos ventos que sopram nos quatro pontos cardeais do hemisfério em busca do inusitado.

One thought on “Márcio Catunda: Diplomata, Poeta, Compositor, Folclorista…

  • 23 de abril de 2023 em 13:28
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    Excelente artigo. Gostaria de saber sobre o último livro do Sr. Marcio Catunda escrito na França recentemente lançado.

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