Discurso do presidente Bolsonaro fecha porta nas relações internacionais

Infelizmente o presidente Bolsonaro perdeu uma grande oportunidade de se redimir diante da comunidade internacional das suas atitudes antidiplomáticas, que vinham maculando a sua imagem desde a sua posse. Invasão de terras indígenas, a falta de reconhecimento de dados do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que constatavam queimadas criminosas na Amazônia, e a sua parcimônia com os latifundiários que instituíram o “dia do fogo” para aumentar o pasto e a agricultura, tudo comprovado com prisões de empresários e apreensões do maquinário usado para cometer os delitos.

O seu discurso, no último dia 24 de setembro, na Assembleia Geral Organização das Nações Unidas – ONU, conforme análise dos principais jornais e cientistas políticos mundiais, foi agressivo, ideológico, político, além de criticar o programa Mais Médicos, mandou indiretas para França e Alemanha, deslegitimou a representatividade dos povos indígenas, levando uma índia que não representava o conjunto das etnias dos povos indígenas e, finalmente, não soube informar corretamente sobre o percentual da área preservada.

O que tem a ver o Fórum de São Paulo com a ONU? Falou como se fosse um líder regional conservador. Ninguém vai imaginar que o Brasil é liderança regional, principalmente com esse tipo de política praticada atualmente. Numa reunião desse porte, o fundamental seria a agenda econômica que não foi privilegiada em seu discurso: o crescimento econômico, o risco para investir no país, vez que os investidores internacionais não gostam de instabilidade política. Cumpriu ali sua missão política, que certamente só agradou aos seus, mas, do ponto de vista econômico, fracassou.

Falando como que para seus eleitores no período eleitoral, um discurso eivado de factoides, pois tudo o que ele disse, se formos procurar uma fonte sequer não encontramos porque as suas fontes são fakenews, haja vista os processos imputados a sua campanha no TSE – Tribunal Superior Eleitoral que ainda não foram julgados. Qual filósofo de esquerda em suas obras atenta contra crianças?

Como um chefe de estado pode ter tido a coragem de mentir tanto, proferir que a Amazônia não está em chamas, colocar a culpa das queimadas na cultura? Foi um grande vexame!

Imaginávamos que, ao invés de um discurso despropositado, fora de época e agressivo, o presidente brasileiro adotasse um tom conciliatório e amistoso. Na verdade, Bolsonaro não apresenta nenhum conhecimento. Ele decepciona, ignora o conhecimento, mesmo estando explícito o fato de não ter formação, capacidade e nem estrutura para compreender e participar da diplomacia mundial.

Percebe-se o seu desconhecimento e de seus assessores que elaboraram o seu discurso, quando falou abertamente que os profissionais médicos cubanos não estavam habilitados para exercer a profissão. Ao contrário, esses profissionais fazem parte de importante projeto da ONU (OPAS/OMS), implantado mundialmente, hoje em atuação em vários países do mundo. Esse projeto conta com a participação da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e se integra ao Escritório Regional para as Américas da Organização Mundial da Sáude (OMS) e, mais ainda, faz parte dos sistemas da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Organização das Nações Unidas (ONU). Em que fonte ele pesquisou para fazer essa afirmação?

Um discurso regado de informações equivocadas, como se estivesse nos grupos de WHATSAP na época da campanha. E não é só isso: representa muito mal o Brasil e os brasileiros de modo geral, fazendo crer aos estrangeiros que o país está sem liderança, sem governo, sem metas e sem rumo. Um discurso ultrapassado em todos os sentidos e retrógrado, como também pouco destacado diante dos pronunciamentos de outros presidentes presentes na Assembleia da ONU de 2019. O Chanceler cubano rebateu as declarações dizendo que Bolsonaro falou como se ainda estivesse na Guerra Fria. Postura de quem não tem conhecimento desse jogo da diplomacia mundial. A ONU não é o Congresso brasileiro.

Aqui somos obrigados a assistir deputados em suas falas divinizar os processos em pleno plenário, bancadas fundamentalistas com a cabeça ainda nos tempos inquisitóriosda Idade Média. É como se, depois de eleitos, não tivessem o dever de legislar para todos independentemente dequalquer crença. A “bancada da bala”, por exemplo, que usa métodos antigos e conservadores para tentar aprovar seus projetos em desfavor do social.

A ideologia de ultradireita adotada por Bolsonaro e seus assessores contamina o crescimento do Brasil, tanto no aspecto social, como nas questões econômicas. Para termos uma ideia, nem o IBOVESPA, índice do mercado de ações, reagiu a sua débil e assustada presença na ONU. Quem ainda tinha dúvida da incapacidade e da ausência de traquejo diplomático do presidente brasileiro em conduzir as relações internacionais, agora é incrédulo. É mais uma porta que se fecha nas relações internacionais.

O país que tinha um histórico bonito na diplomacia internacional está rumando ao isolamento no cenário internacional.

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