No dia 30 de outubro é comemorado o Dia Nacional do Ginecologista e Obstetra. A data foi criada em 1959 e marca a fundação da FEBRASGO – Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Segundo a Dra. Karina Tafner, ginecologista e obstetra, especialista em Endocrinologia Ginecológica e Reprodução Humana pela Santa Casa, e especialista em Reprodução Assistida pela FEBRASGO; a ginecologia é uma das poucas especialidades médicas em que a paciente não precisa estar doente para agendar uma consulta, pois os exames ginecológicos devem ser realizados rotineiramente, com objetivo de preservar a saúde da mulher.
“As avaliações ginecológicas devem ser realizadas, no mínimo, uma vez ao ano, a partir da primeira menstruação da menina. Esse número pode aumentar conforme a necessidade da paciente, alterações nos exames de rotina ou em pacientes com fatores de risco para certas patologias ginecológicas”, afirma Karina Tafner.
Infelizmente, a realidade no Brasil é outra. Um levantamento feito pelo Datafolha, a pedido da FEBRASGO, apontou que 4 milhões de brasileiras nunca foram ao ginecologista, cerca de 5% do total. Outras 6,5 milhões de brasileiras, 8% do total, não costumam ir ao ginecologista. A pesquisa, realizada em dezembro de 2018, é alarmante quando nos deparamos com o aumento de doenças, principalmente o câncer de mama. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 2018 encerrou com cerca de 59.700 novos casos de câncer de mama no Brasil. O mesmo número é esperado para 2019. A incidência cresce progressivamente, especialmente após os 50 anos.
De acordo com a Dra. Karina, o grande número de mulheres que não realizam consultas e exames de rotina se deve, basicamente, à falta de informação sobre a necessidade da avaliação ginecológica regular e sobre o impacto disso na saúde da mulher. Segundo ela, há desinformação sobre a função de exames laboratoriais e de imagem que são cruciais, como o Papanicolau (exame de citologia cervical realizado como prevenção ao câncer de colo do útero) e a mamografia (exame de rastreio por imagem, que tem como finalidade estudar o tecido mamário, podendo detectar um nódulo, mesmo que este ainda não seja palpável).
“O difícil acesso ao atendimento médico público, o número escasso de serviços que prestam atenção ginecológica e a falta de equipamentos necessários também levam a uma menor taxa de mulheres que conseguem agendar uma consulta ginecológica e realizar os exames de rotina necessários, levando à desistência da procura”, lamenta a ginecologista e obstetra. Além disso, Karina afirma que muitas mulheres só procuram o especialista quando identificam problemas incômodos, como presença de leucorréia (corrimento vaginal), alterações menstruais e dores pélvicas.
Confira algumas das principais dúvidas das mulheres, respondidas pela Dra. Karina Tafner:
Quando agendar a primeira consulta
Após a primeira relação sexual, a mulher deve realizar a coleta de Papanicolau, no mínimo, uma vez ao ano, pois é o único exame capaz de prevenir o câncer de colo do útero e suas lesões precursoras.
Com que frequência se deve ir ao ginecologista
O exame clínico ginecológico, incluindo a inspeção vulvar, avaliação especular, exame de toque vaginal e palpação mamária, deve ser realizado, no mínimo, a cada um ano, pois podem diagnosticar diversas patologias ginecológicas, não devendo ser substituídos, e sim complementados, por exames adicionais.
Quando realizar a mamografia
Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia, tem indicação de ser realizada anualmente, a partir dos 40 anos ou antes, caso haja fator de risco familiar, para diagnóstico precoce do câncer de mama.
Quais outros exames são importantes
Outros exames devem ser solicitados conforme o ginecologista julgue necessário, como ultrassom transvaginal (identifica imagens dos órgãos internos, como útero, trompas de falópio, ovários, colo do útero e vagina. É possível diagnosticar problemas da região pélvica, como cistos, infecções, gravidez ectópica, câncer ou até confirmar uma possível gravidez), ultrassom das mamas (analisa alterações mamárias, como as que podem ser sentidas, mas não visualizadas na mamografia, ou variações em mulheres com tecido mamário denso. Também pode ser usado para observar alterações que foram vistas na mamografia. O ultrassom pode distinguir a diferença entre os cistos com líquido e massas sólidas), exames laboratoriais gerais, avaliações hormonais, colposcopia (faz parte do rastreamento do câncer de colo do útero, juntamente com teste de Papanicolau e/ou testes específicos para detecção do HPV – Papiloma Vírus Humano), vulvoscopia (exame da vulva, que consiste em avaliar as estruturas, pele e mucosas do órgão genital externo feminino. Quando aliada a uma biópsia, ela otimiza o diagnóstico das lesões HPV-induzidas, do líquen escleroso e de problemas mais graves, como o câncer na vulva).
O que é densitometria óssea e quando realizar
É o exame mais eficiente para verificar o teor de cálcio e de outros minerais nos ossos. Segundo o HCor, é um exame indolor e seguro, que possibilita o diagnóstico por imagens, semelhante as do raio-X. É por meio da densitometria óssea que os médicos chegam aos diagnósticos de osteoporose e de osteopenia. Essas doenças são mais frequentes em mulheres e consistem na descalcificação dos ossos, que se tornam mais porosos e quebradiços. Os ossos enfraquecidos favorecem fraturas, especialmente nos quadris, o que gera expressivas limitações funcionais, além de favorecer doenças cognitivas e depressão em idosos. A indicação mais comum da densitometria óssea é entre as fases pré-menopausa e pós-menopausa.
O que o ginecologista precisa orientar
Segundo a Dra. Karina Tafner, o ginecologista tem o dever de orientar as pacientes sobre as doenças ginecológicas mais frequentes, o modo de prevenção dessas doenças e o diagnóstico das mesmas. Ela afirma que caso haja alterações na avaliação de rotina, é necessária uma consulta com um especialista da área, por exemplo, uma alteração grave na mamografia deve ser encaminhada ao mastologista.
“As mulheres devem ter esclarecimento sobre a importância da realização e periodicidade da avaliação e dos exames ginecológicos, assim como orientações sobre as doenças ginecológicas mais prevalentes. Isso deve ser realizado pelo ginecologista e por meio de campanhas públicas. Igualmente essencial é o acesso ao atendimento médico adequado. Caso contrário, as mulheres não terão oportunidade de serem atendidas e avaliadas, correndo o risco de não tratar alguma doença logo no início”, alerta a ginecologista Karina Tafner.