Agricultores cearenses e piauienses serão beneficiados com 1,2 milhão de cajueiros-anão (800 mil mudas para o Piauí e 450 mil mudas para o Ceará). A iniciativa busca fomentar o desenvolvimento da cadeia produtiva nos dois Estados por meio da adoção da tecnologia desenvolvida pela Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza-CE).
No Ceará, a ação é coordenada e executada pela Secretaria do Desenvolvimento Agrícola (SDA) com o apoio da Empresa de Assistência Técnica Extensão Rural do Ceará (Ematerce). O projeto Hora de Plantar existe desde 1987 com o intuito de distribuir sementes de culturas de subsistência, como arroz, milho e feijão, por exemplo. No ano de 2007, visando aumentar não só a produção de caju, mas também a renda dos agricultores no Estado, a cajucultura passou a fazer parte do projeto. De início foram distribuídas um milhão de mudas de cajueiro-anão dos clones CCP 76 e CCP 09.
O atendimento teve início com as demandas de mudas dos municípios prioritariamente zoneados, denominados de Pólos da Cajucultura, envolvendo todo o litoral cearense e áreas adjacentes. Em 2007, a área de cajueiro no estado era de aproximadamente 400 mil hectares, em que apenas 38 mil hectares eram de cajueiro-anão. Estimava-se que 40% dos terrenos onde eram plantados o cajueiro comum eram improdutivos e com baixa população de plantas.
Nesse cenário, surgiu o Projeto de Expansão e Recuperação da Cajucultura Cearense, com a função de expandir a distribuição de mudas e recuperar, por meio da substituição de copa, os pomares improdutivos. De acordo com José de Sousa Paz, coordenador do projeto Hora de Plantar, as mudas distribuídas são adquiridas, por meio do edital, com viveiristas cadastrados no Ministério da Agricultura.
“Todos os beneficiários recebem as mudas em seus municípios e pagam o mesmo valor do contrato no quarto ano após o plantio. O valor atual é de R$ 3,10. O público prioritário são produtores de agricultura familiar. Estamos atendendo produtores não familiares por meio da Federação de Agricultura do Estado do Ceará (FAEC)”, explicou o coordenador.
Até o momento, mais de 30 municípios receberam as plantas, totalizando seis milhões de mudas de cajueiro dos clones CCP 76, Embrapa 51, BRS 189 e BRS 265. As plantas são oriundas dos municípios de Barroquinha e Paracuru e cultivadas por viveiristas de Pacajus, Beberibe, Fortim e Cascavel.
Maria Lucilânia Bezerra Almeida, técnica agrícola no município de Potiretama (CE), destaca a importância da iniciativa: “Trata-se de uma ação muito importante para o produtor, haja vista que os pomares estão em fase de implantação por causa da morte dos cajueiros comuns. É um incentivo. E também tem a questão de o pagamento ser realizado somente após quatro anos”.
Anderson Chaves Mourão, agricultor de Tabuleiro do Norte (CE), recebeu do projeto 1.150 mudas dos clones CCP 76, Embrapa 51 e BRS 226. “É uma iniciativa muito importante, porque nem todos os produtores teriam o capital suficiente para adquirir as mudas. Dessa maneira que o governo trabalha fica bom para o produtor, pois só iremos pagar daqui a três anos. Estou satisfeito sim. Agora estou aguardando as chuvas para poder plantar”, explica.
Projeto prevê desenvolvimento da cadeia no Piauí
A Secretaria da Agricultura do Estado do Piauí também desenvolve uma ação semelhante. O material distribuído ao plantio da cultura visa ao desenvolvimento da cadeia produtiva local. Entre os clones distribuídos, destaca-se o Embrapa CCP 76. A princípio, o programa de distribuição de mudas foi realizado através da Cooperativa de Fruticultura da região de Picos (Cofrup). Por ser produzida em uma cooperativa, as mudas tinham custo menor.
Com a reativação da Associação Piauiense dos Produtores de Sementes e Mudas (APSEM), a entidade passou a produzir mudas de cajueiro para o programa. A associação conta com o apoio de produtores de grande parte do estado piauiense. As mudas são destinadas a assentamentos, associações, cooperativas e ONGs, segundo Leontino do Nascimento, diretor comercial da associação. Mais de 100 cidades serão beneficiadas com as mudas de cajueiro, entre elas a região de Picos e de Valenciana, áreas tradicionais de produção de caju.
“As grandes regiões produtoras de caju recebem as mudas. Como resultado, houve um crescimento na região de Picos, onde temos um parque industrial com beneficiamento para suco, castanha e cajuína, que é tida como patrimônio do Estado do Piauí. Isso se deve ao melhoramento genético do caju CCP 76, que dá um sabor adequado à cajuína”, explicou Leontino.
De acordo com o diretor comercial, a cajucultura no Piauí é constituída, em sua maioria, por pequenos produtores. Com o apoio do programa, a cadeia produtiva local se fortalece. Cada agricultor receberá 200 mudas de caju CCP 76 para o plantio. “Essa ação é gratificante, pois o agricultor familiar planta, cuida e vende o pedúnculo e a castanha para a indústria usufruir”, afirma.
Além disso, Leontino do Nascimento apontou alguns aspectos a serem melhorados na indústria de caju. Nos estados do Paraná, São Paulo e Brasília, que costumam adquirir o fruto processado, não há o hábito de aproveitar o pedúnculo do fruto. Por causa disso, o caju de mesa possui um valor alto em razão do pouco consumo.
“A cajucultura ainda não é explorada como deveria. Carece de melhorias em relação à assistência técnica e à inovação. Acredito que precisamos focar no aproveitamento do pedúnculo de mesa. Falta caju em várias capitais. A fruta é comumente encontrada na região Nordeste, mas lá fora não. Temos como exemplo, Paraná, São Paulo e Brasília. Devido a quantidade ser pequena, o preço é exorbitante”, comentou. “A gente tem que colocar o pessoal pra comer caju”, acrescenta, com um sorriso de esperança tendo em vista o novo cenário.
Reinaldo Ferreira, produtor do município de Santo Antônio de Lisboa (PI) e um dos agricultores beneficiados com o programa, comenta que o projeto é importante para os produtores familiares que vivem da cajucultura. “Conseguimos replantar pomares dizimados pela seca e por pragas e doenças que afetaram a cajucultura nos últimos anos. As mudas dos clones CCP 76 e do clone BRS 226 são melhoradas geneticamente e adaptadas à nossa região”, comentou.
Mudas Clonadas são essenciais para a cajucultura
Para Genésio Vasconcelos, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agroindústria Tropical, o uso de mudas clonadas é essencial para que a cajucultura alcance seu potencial de produção, pois elas garantem que o pomar irá apresentar as mesmas características de vigor e robustez que se deseja com os clones.
Atualmente, a Embrapa possui 12 clones comerciais voltados para atender diferentes demandas de produção, características de castanha e pedúnculo, consumo e processamento, além de apresentarem adaptação a variadas condições de solo, clima e relevo.
Genésio Vasconcelos destaca ainda que devem ser evitadas as práticas de plantio ou replantio de novos pomares a partir de sementes, mesmo que sejam sementes de cajueiro clonado. “O plantio por sementes não fornece a garantia de que a nova planta terá as mesmas características da planta de origem. Isso gera perda das principais qualidades do material, o que põe em risco o desempenho do pomar, causando prejuízos ao produtor rural. É uma prática que deve ser extinta”, explica. Por isso, é essencial que só se utilize mudas de materiais clonados e registrados.
Serviço
Para quem desejar aprender mais sobre como produzir mudas clonadas de cajueiro anão por enxertia, a Embrapa Agroindústria Tropical possui um curso on-line, gratuito, voltado para capacitar produtores rurais, extensionistas, estudantes, professores, técnicos e demais interessados sobre o tema.
“Nossa expectativa com o este curso é capacitarmos o maior número de pessoas possível nas técnicas necessárias de produção de mudas clonadas por enxertia, para que possamos ter pomares com excelente base genética, possibilitando elevadas produtividades e padrão de frutos para consumo e processamento”, afirma o chefe de TT da Embrapa Agroindústria Tropical.
Os interessados, podem obter mais informações e realizar suas inscrições no curso através do seguinte link
Para saber mais sobre os clones desenvolvidos pela Embrapa Agroindústria Tropical acesse nosso folder
Ricardo Moura (DRT 1681 JPCE)
Embrapa Agroindústria Tropical