O centenário da beletrista Cândida Maria Santiago Galeno

Corria o ano de 1964, quando desapareceu de nosso convívio a filhaesecretária de Juvenal Galeno da Costa e Silva – Henriqueta Galeno. Daí por diante, a Casa de Juvenal Galeno passou a ser dirigida pela neta Cândida Maria Santiago Galeno, que trazia no sangue a herança da poesia e das letras do avô. 

Desde pequena tratada carinhosamente por Nenzinha Galeno, foi a terceira filha de uma geração de onze filhos do magistrado Antônio Galeno da Costa e Silva e de Cândida de Santiago Galeno, ele o filho primogênito de Juvenal. Nenzinha Galeno nasceu em 18 de março de 1918, na Vila de São Bernardo das Russas, para onde seu pai foi, ainda solteiro, exercer a profissão de juiz. Ali vieram à luz mais dois irmãos – Juvenal (falecido antes de completar um ano) e Alberto Galeno. De volta a Fortaleza, nasceram outros filhos: Lúcia, Antonieta, Heloisa (falecida) Maria do Carmo (falecida), Stela e Iolanda. 

 

 

Corria o ano de 1964, quando desapareceu de nosso convívioa filhaesecretária de Juvenal Galeno da Costa e Silva – Henriqueta Galeno. Daí por diante, a Casa deJuvenal Galeno passou a ser dirigida pelaneta Cândida Maria Santiago Galeno, que trazia no sangue a herança da poesia e das letras do avô. 

Desde pequena tratada carinhosamente por Nenzinha Galeno, foi a terceira filha de uma geração de onze filhos do magistradoAntônio Galeno da Costa e Silva e de Cândida de Santiago Galeno, ele o filho primogênito de Juvenal. NenzinhaGaleno nasceu em 18 de março de 1918, na Vila de São Bernardo das Russas, para onde seu pai foi, ainda solteiro, exercer a profissão de juiz. Ali vieram à luz mais dois irmãos – Juvenal (falecido antes de completar um ano) e Alberto Galeno. De volta a Fortaleza, nasceram outros filhos: Lúcia, Antonieta, Heloisa (falecida) Maria do Carmo (falecida), Stela e Iolanda. 

 

Os estudos 

Cândida Galeno fez os primeiros estudos na cidade de Russas e o secundário no ColégioSanta Teresa, no Crato, o normal no Colégio Imaculada Conceição, em Fortaleza, diplomando-se em 1936. Retornando ao interior, passou a lecionar até 1939, quando morreu o Dr. Galeno, seu pai. Em seguida, viaja para o Rio de Janeiro para aprimoramento de seus estudos. Na capital federal, fezcurso de especialização no Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP)Regressando ao Ceará, matricula-se no Instituto Social de Fortaleza, onde formou-se na área de Serviço Social em 1958. Ingressando no serviço público, foi trabalhar na antiga Cadeia Pública de Fortaleza (Casa de Detenção) que ficava na rua Senador Jaguaribe, depois Emcetur.Napenitenciária,elaconheceu, entre outros detentos, José Joaquim Leandro, famoso facínora, alcunhado de Catanã, elemento considerado de alta periculosidade.Dizacrônica: “Aproximou-se dele, tratou-o como pessoa humana, porque mesmonos criminosos, essa pessoa humana não desaparece, assim pensava Nenzinha”. O certo é que Nenzinha adquiriu a confiança de Catanã, ao ponto de haver feito em sua pessoa uma mudança radical.  

 

Vida literária 

No ano de 1953, marcou a sua estreia como escritora, lançando o livro de contos “Naipes”. Com o livro “Presenças”, conquistou em 1954 o Prêmio Literário Rodolfo Teófilo no concurso literário promovido pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. Em 1955, lança “Trevo de Quatro Folhas”, que escreveu de parceria com três outras escritoras.Assume em 1956 a Cadeira nº 12 da Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno, tendo como patrona sua avó, esposa de Juvenal Galeno. Foi a terceira mulher a ingressar em 1960 na Academia Cearense de Letras, onde galgou o cargo de secretária.  Sob o pseudônimo de Branca de Castela, marcou presença como colaboradora dos jornais O Nordeste, O Povo, O Estado e Correio do Ceará. Neste último periódico, mantinha a Coluna da Ala, que servia deinformativo das  componentes da agremiação. Figura na Antologia do Folclore Cearense, de FlorivalSeraine, com oprecioso trabalho “Ritos Fúnebres no Interior” (1968). Foi diretora da revista Jangada, que servia de intercâmbio cultural da Ala.Foi uma das coordenadoras da publicação “Mulheres do Brasil” cuja primeira edição data do ano de 1971 e estendeu-se em várias edições. Revelando a veia poética herdada do avô Juvenal Galeno, produziu, dentre outras composições, o soneto que transcrevemos: 

Santa Teresa de Jesus, os sinos    

Levam teu nome aos vales e às montanhas  

E teu nome ressurge das entranhas  

Da terra, após, em lírios peregrinos. 

Que não ouças as súplicas estranhas  

Das novenas e lânguidos violinos: 

 Ouve-me o verso! Falo-te dos hinos  

Que entendeste, tulipas das Espanhas! 

Para adorar-te me prosterno e humilho  

Em vez do incenso, trago-te o tomilho  

E o manto real do sol da Salamanca. 

Venho em nome das almas das guitarras  

Alas que que entoando mil canções bizarras  

Vão pela noite legendária e branca.   

 

O brilhante Cruz Filho disse arespeito de Nenzinha: “A sua prosa, que se distingue pela beleza da forma e delicadeza em que é vazada, excede geralmente pelo brilho e fluência do estilo(…)” 

 

Outros caminhos 

Na sua visão humanística voltada para as letras. Nenzinha instalou em 1964, com Oscar Moreira, a Editora Henriqueta Galeno, através da qual inúmeras ediçõesde livros, revistas e outras publicações saíram do seu prelo. Quando tivemos a ideia de prestaruma homenagem ao Patriarca dos Cantadores  do Nordeste- Cego Aderaldo, pelo 30º dia de morte ocorrida em junho de 1967,  Cândida Galeno abriu-nos  as portas da Casa com a simpatia que lhe era peculiar. A pretensão era fazermos uma simples apresentação (“Noite de Violas” seria o tema), porém, ela alterou para “Noites das Violas”, que passaram a repetir-se por vários anos. Revelando mais uma vez o seu zelo pelas letras e a poesia, criou em 1969 a União Brasileira deTrovadores-UBT, seção de Fortaleza. Recebi o honroso convite de participar da sua diretoria, ao lado de menestréis da estirpe de Vasques Santiago Filho, Carlyle Martins, Adauto Gondim, Rita de Lara, César Coelho, dentre outros. Com o apoio da Casa de Juvenal Galeno e da União dos Trovadores, a poetisa e sócia da Ala Feminina,MarilitaPozzoli, lançou em 1973 o livro “Atire a Primeira Flor”. 

 

Nenzinha fez parte das seguintes instituições: Academia Cearense de Letras, Comissão Cearense de Folclore, Academia Feminina de Letras do Rio Grande do Sul, Associação Brasileira de Assistentes Sociais, Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil (AJEB), União Brasileira de Trovadores-UBT-seção de Fortaleza, Associação Cearense de Imprensa-ACI. Detentora das Medalha da Abolição (pela Casa de Juvenal Galeno) e Medalha da Cidade de Fortaleza, além de outras comendas.  

 

Ala Feminina 

Nos idos de 1936, a beletrista Henriqueta Galeno resolve romper as barreiras e os grilhões, segundo ela,“que encarceravam o “pensamento feminino”, criando uma instituição à qual denominou de “Falange Feminina”. Em 1942, um novo alento revitalizou a semente literária e as “falangistas”, organizando-se em definitivo, numa reunião dominical do dia 8 de novembro, aprovaram o nome “Ala Feminina”. Um estatuto foi elaborado, sendo a diretoria eleita a cada dois anos.  Com o desaparecimento da Dra. Henriqueta Galeno, no ano de 1964, Nenzinha assumiu a direção da Casa, bem como da Ala Feminina, tornando-se   sua 2ª presidente. Até então, nove escritoras estiveram à frente da Ala, a saber: Henriqueta Galeno, Cândida Galeno, Risette Cabral, Jandira Carvalho, Alayde de Souza, Neide Freire e a atual Matusahila Santiago. Nenzinha Galeno, na qualidade de presidente, criou o jornal  “O Cearense” de curta duração. Veio o segundo órgão, batizado de ALA, que circulou entre 1984 e 1985. Também naquele ano de 1984, a escritora MaryseWeyne Cunha compôs a letra e música do Hino da Ala Feminina, com arranjo de Francisco Jardilino que começa com a estrofe: Nós somos da “Ala Feminina” Senhoras somos de ideias mil Da Casa de Juvenal Galeno  

 

Um dos maiores poetas do Brasil  

No ano de 1989, com o aval das acadêmicas, Nenzinha elevou de 40 para 60 o número de Cadeiras da agremiação. O Dr. João Otávio Lobo assim define a entidade: “Ala Feminina – essa revoada de inteligência e graça – é florão de garantia neste cenáculo em que douradas abelhas de nossa “elite” trabalham uma colmeia de espiritualidade e arte” 

 

Revista Jangada 

No ano de 1949, sob a direção de Nenzinha Galeno e Maria de Lourdes Vasconcelos Pinto, é criada a Revista Jangada cujo primeiro número veio à lume no dia 25 de  dezembro. Tinha como finalidade precípua divulgar e promover a literatura feminina . A acadêmica e jornalista Geraldina Amaral, uma de suas fundadoras, disse em depoimento: “A Jangada foi a primeira revista literária essencialmente feminina no país. A Ala Feminina da Casa de Juvenal e sua revista se reúnem e se completam e trabalham juntas, como criadora e criatura, no sentido de abrirem caminhos cearenses das letras, ciências e artes para a consecução de mais um período produtivo. Mas a revista Jangada, como qualquer outro empreendimento, sofreu crises existenciais, as de origem financeira, e ancorou por vinte e seis anos nos “alvos areais das praias de Alencar”. Em 1972, a Ala Feminina, com o apoio de Nenzinha Galeno, escolhia um nome para um jornal periódico mensal que foi “O Cearense”, de curta duração. Outro jornal veio batizado de ALA, que circulou em 1984 e 1985. No auspicioso ano de 1994, sem a presença de Nenzinha, a Jangadavoltou a circular com nova roupagem sob a orientação da escritora Raimunda Neide Moreira Freire (Neide Freire), então Presidente da Ala Feminina. Contou com um Conselho Editorial comprometido com o “fazer literatura de qualidade”, trazendo nomes como o de Giselda Medeiros, Leda Costa Lima, Geraldina Amaral, sob o respaldo valoroso da diretoria, que tem à frente a escritora Matusahila Santiago.  

 

Preito de Gratidão 

Uma das homenagens de que foi alvo Cândida Maria Santiago Galeno, destaca-se o soneto “À Nenzinha”, da lavra de Maria Zênith Feitosa, quetranscrevemos: “És um belo momento de idealismo/ De Deus… E no transcurso da existência/ Plasmada em nobres gestos de altruísmo/ És generosidade  em quintessência! – Tua alma é Arte; o coração Lirismo…/ E em torno de ti asparzes refulgência!/ Trazes no próprio nome simbolismo/ De singular e rara transcendência! “Cândida”, sim! Teu nome é singeleza/ Relicário de Paz e de Beleza/ Que esbanjas com grandeza espiritual!/ Inteligências apascentas… Banhas/ De luz e em luz de proporções tamanhas/ – Fulge a obra de Henriqueta e Juvenal! No ano de 1987 é colocada na Casa uma Placa com os dizeres: “Homenagem à escritora Cândida Maria Santiago Galeno pela relevante contribuição à comunidade cearense. No mesmo ano, a 27 de setembro, ocorre o lançamento da 2ª edição de TROVADORES CEARENSES. A saudosa beletrista fechou os olhos ao mundo num sábado do dia 22 de julho do ano de 1989. Sunt etiam sua praemialaudi. 

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