Impacto do safrão O Brasil continua sendo o Pais dos contrastes.

Impacto do safrão

O Brasil continua sendo o Pais dos contrastes.

 

*Antonio Carlos da Silva Rezende

Produção agrícola de grãos espetacular, com estimativa de aproximadamente  228 milhões de toneladas para a safra 2016/2017, atualizada pela CONAB em abril (festejamos 50 milhões em 1998 e 100 milhões de toneladas em 2002, sendo que o principal fator foi aumento de produtividade em aproximadamente 50% a 80% por tipo de grão), devendo injetar R$194 bilhões na economia no período.

Além do clima, o aumento de produtividade se deve ao suporte técnico da Embrapa, aos financiamentos para o plantio e seguros pelos órgãos oficiais e as cooperativas que dão suporte para a comercialização, além do poio técnico e financeiro.

Em relação ao comercio exterior em 2016 os números também são importantes, pois do saldo da balança comercial de U$47,7 bilhões e U$185,2 bilhões de exportação, U$41,3 bilhões (22,30%) correspondem a produtos agrícolas, sendo: 1º lugar: soja em grão com 10,4% (em 2º vem o minério de ferro com 7,2%) seguidos por açúcar, farelo de soja, café em grão, e milho em grão.

As principais fontes são o IBGE e CONAB, porém utilizam diferentes métodos e períodos de análise.

Pois bem, com tantos números positivos, onde estão os contrastes:

Muitos estudos já indicaram que o Brasil tem ótimos indicadores e custos em relação a produtividade agrícola (dentro da porteira), porém em contrapartida temos deficiência em armazenagem, que implica na falta de capacidade de estocar a safra para poder aguardar o melhor momento de comercialização, além dos piores custos de transporte (correspondem a aproximadamente 25% a 30% do valor de venda do produto), quando comparamos com os grandes “players” internacionais.

Em nossa matriz de transportes, o rodoviário de cargas – TRC tem muita relevância (60%), agravado pelo fato que na origem (fazendas) é inevitável a utilização do TRC, mesmo que parte seja posteriormente transferida para os modais ferroviário e hidroviário, com destino aos portos para exportação.

O Brasil é um Pais de dimensões continentais e os caminhões percorrem em média 800km a 1000km (Ageitec/Embrapa) em 62% de estradas consideradas regulares, ruins ou péssimas, além das não pavimentadas, gerando perdas estimadas em R$ 3,8 bilhões por ano, segundo estudo encomendado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), situação agravada pelas filas de espera para descarga, principalmente nos portos.

O Brasil tem um triste histórico relacionado ao investimento em ferrovias (transporte mais barato que o rodoviário), para as quais existe um plano de implantação e privatizações que tem muitas dificuldades em sair do papel, além das dificuldades para utilização do transporte hidroviário (de menor custo em relação ao ferroviário), porém com dificuldades em relação ao calado (profundidade dos rios) e aos aspectos ambientais.

Quanto ao TRC vamos fazer uma simples simulação: se o transporte de grãos é normalmente realizado em carretas e bi-trens  com capacidade média de 40t, serão necessárias absurdos 5 milhões de viagens de média e longa distância, lembrando que uma composição com 60 vagões com capacidade de 40t transporta 2.400t por viagem.

Além do grande número de caminhões, que muitas vezes trafegam com excesso de carga, o que piora ainda mais o estado das estradas brasileiras.

Além dos problemas relacionados aos transportes existe um agravante que é a exportação de produtos primários de baixo valor agregado, que além de diminuir os valores exportados também reduzem o número de postos de trabalho no Brasil, apesar que temos que ser realistas em relação as dificuldades/concorrência para a comercialização de produtos de maior valor agregado no mercado internacional.

Concluindo, fica claro que temos um longo e árduo caminho a percorrer e que a melhoria da logística (armazenagem e transporte) é o ponto que podemos e devemos atuar em médio prazo e que poderá gerar inclusive melhores margens de lucro e maior competitividade no mercado internacional.

 

*Antonio Carlos da Silva Rezende é engenheiro mecânico e de segurança no trabalho, qualificação em mestrado pela Escola Politécnica da Universidade São Paulo e gerente da divisão de logística do IMAM.

 

 

 Só há um rumo

Amadeu Roberto Garrido de Paula

Não somos um povo escravizado em sentido estrito, assim como os hebreus no Egito e tantos outros subjugados pelas guerras passadas. Ninguém pode nos amarrar no tronco e lascar nosso lombo. Contudo, a maioria do povo brasileiro está desbussolada, sem crer no amanhã; amarga um estado de espírito coletivo terrível. Sim, um povo e um País podem acabar, ou entrar numa hibernação insensível de séculos, respondemos aos que não creem no fim.  Se isso ocorrer, as últimas vítimas serão nossos filhos, netos e bisnetos.  Ninguém pode assegurar, neste momento, que, em um século, as maravilhas que ainda colorem partes desenvolvidas do Brasil, não se apresentarão como depressivas ruínas, numa terra inteiramente arrasada.

Não falamos para provocar câimbras em toda a população, mas para sair imediatamente em busca da terra prometida, emergir deste País que, apesar de tudo, teve seus grandes filósofos, juristas, engenheiros cientistas, literatos, belos e grandiosos poetas etc. E ainda os têm, mas devemos seguir em direção a um horizonte aprazível, se quisermos sobreviver.

A entrevista do Presidente da República em rede de televisão, como de resto, sua conduta reiterada à frente de nosso drama político, tocou magistralmente em pontos que estão sendo abordados pelo governo. O problema é que não são os pontos cardeais para que vençamos a grande travessia. São picuinhas Se a previdência não for alterada, muitos municípios e estados sucumbirão, disse Michel Temer.  Mas não se faz a necessária distinção entre previdência pública e privada. Na previdência pública, que gera um seleto grupo de pessoas que formam uma minoria no País, reside a crise de mais de 80% da Previdência. Esta não é provocada pelos homens de salário mínimo. Para deixar claro: uma vez nomeado por concurso, o servidor é vitalício, quase não pode ser cobrado pelo povão a quem deve prestar serviços, tem estabilidade vitalícia e se aposenta com vencimentos integrais. Introduza-se um único regime jurídico de trabalho no Brasil, sob os princípios do direito do trabalho, rediscutidos em pontos necessários. Porém, como esse fato nos exemplifica,  falta coragem de entrar-se nas causas reais de nossos problemas.

Sem convencer, o Presidente procurou justificar sua sanção ao projeto vindo da Câmara, relativo à terceirização, sem considerar que o empregado que não é companheiro e auxiliar do empregador, por muito tempo e com empatia; prestará os piores serviços, em detrimento de sua realização como pessoa dos objetivos patronais e das expectativas dos consumidores. O Presidente vacilou, disse que não promulgaria o projeto da Câmara, promulgou, depois de ser pressionado por assessores – que são donos de empresa de terceirização…

Michel Temer destacou as virtudes da liberação das contas do FGTS inativas; que só renderam, ao longo de décadas, 3% de juros ao ano, índice inferior aos das cadernetas de poupança.  De todo modo, lembra condutas tópicas da ex-Presidente Dilma, quando,  ocasionalmente, beneficiava alguns segmentos econômicos, tal qual o automobilístico. Era aplaudida, sem nada fazer em defesa de  nossa estrutura. Pode-se dizer o mesmo das esmolas sociais, que um Estado organizado dispensa.

Também, qual o significado estrutural de extinguir-se o imposto sindical, em relação às finanças públicas brasileiras? Tenta-se conter um grande incêndio com doses de uma discutível e inapropriada homeopatia. Extinguir a maioria de impostos, esses sim, que atingem nossos bolsos, nem pensar.

A inflação foi levemente contida, mas continua como uma das maiores do mundo e da América Latina, assim como a taxa de juros. Fórmulas do governo militar, com o PIS, o Prorural e o FGTS, foram medidas mantidas por todos governos que o sucederam – e aplaudidas, inclusive por Temer.  Nada de novo, nada de criativo, no sentido de profundas mudanças nos dois únicos sentidos que podem nos indicar a travessia do Grande Mar: desenvolvimento com liberdade face ao Estado e igualdade em razoável escala entre os seres humanos que habitam esta porção da Terra. Livre iniciativa, progresso e justiça social. Dê-se ao regime a denominação que se queira.

E reforma política verdadeira, nem pensar. Em outras palavras, continuamos caminhando, convencidos da implacabilidade do destino, em nosso féretro.

O governo deposto e o que virá também não serão mais criativos. Algum deles fará com que a administração pública siga o regime trabalhista privado? Algum deles intervirá decisivamente na saúde pública e nos convênios saúde, ambos raladores de nossas chagas abertas quando somos acometidos de algum mal? E por aí se vai, não sabe, neste espaço cinzento, sem  indicar soluções definitivas. Certamente não são as que vemos todos os dias, juntamente com as melancólicas notícias da Lava-Jato, em que só tomamos conhecimento de que fomos roubados, roubados, roubados… Proporão fim das reeleições, executivas e parlamentares?

Juristas de alta envergadura moral, Modesto Carvalhosa, Flávio Bierrenbach e José Carlos Dias, inseridos  num grupo de elevada estatura moral, propuseram uma Assembleia Nacional Constituinte. Delas não participaria nenhum político. Seus membros ficarão impedidos de serem políticos, por um bom prazo. Só estabelecerão os princípios, dentro dos quais as leis serão elaboradas. O STF será ágil e exclusivamente constitucional, inclusive com funções preventivas. As reeleições serão extintas, em todos os níveis e poderes.  Os juízes dos Tribunais Superiores serão eleitos por seus pares, pelo Ministério Público, pela Ordem dos Advogados do Brasil e outras instituições que se destacaram em prol do bem nos últimos anos.

Ao ver do governo atual, do “stabilisment” e dos reformistas de fancaria,  estas ideias – e outras, do mesmo timbre ético – são insólitas. Aventureiras. Salve a mesmice…

Como ponto inicial, propomos que, em todas as novas manifestações de rua, expressemos uma única mensagem: Constituinte Popular ou Constituinte sem Políticos. Propomos a elaboração, ainda que a ponto de estourar os neurônios de quem pode contribuir, sempre com o respeito às divergências e às boas sugestões, de uma nova Carta de Leis. Teremos, pelo menos, cumprido a obrigação política de nossa geração, antes que ela nada mais possa dizer.

 

Amadeu Roberto Garrido de Paula, é Advogado do Escritório Garrido de Paula

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