Entrevista com Cival Einsten (cartunista)

“O mundo está em transição com um falso  

populismo de direita, que quer acabar  

com os direitos trabalhistas”. 

 

Por Carlos Emanuel (repórter JCC) 


A TV era o veiculo de comunicação que ligava muita gente ao mundo imaginário, antes do advento da internet. Einsten, nome de cientista, que foi escolhido porque seu pai gostava de matemática, era um garotinho de quatro anos, que acompanhava os super heróis, na sessão de desenho animada pelas manhãs. Foi assim que ao usar o lápis de cor, ele desenhou o super-homem. “eu nunca vi ele salvar nada, mas foi meu primeiro desenho”. Cival Einsten, 35 anos, profissão artista, que nos idos de 1999, começou a levar a sério o que era apenas um passatempo e a única coisa que sabia fazer e gostava, então surgiram os primeiros quadros, foi atrás de referências e encontrou, os pintores Almeida Leite e Descartes Gadelhas, que lhe ajudaram com dicas e apoio. 

 

Ainda não havia a visão critica em relação à sociedade, mas apenas as caricaturas que retratavam os aspectos engraçados dos personagens desenhados, foi ai que veio às artes de Bin Laden, Jimi Hendrix, Aldemir Martins, Fagner. Nesse início não existia ninguém era apenas o artista em seu isolamento social, na biblioteca de economia da UFC, Sesc, Dolor Barreira. As dúvidas vinham. Ele não sabia para onde ir, ainda surgiam trabalhos isolados para revistas, alguns quadros vendidos. 

 

Então como seguir, sem saber para onde ir? Como dizia na música do Raul Seixas. Foi ai que veio a oportunidade de internacionalizar seu trabalho, com a internet. Foram quatro longos anos tentando de forma continua ser reconhecido, enquanto fazia seus lances profissionais de forma paralela para sobreviver. Vieram as premiações, primeiro, em 2005, uma exposição do seu trabalho no Sesc, com caricaturas dos humoristas locais: “Exposição Sesc de Humor”, organizada por Luciano Lopez (Luana do Crato). Em 2006, na Romênia tirou menção honrosa no Ion Luca Caragiale Competition Caricature, depois veio prêmios na Argentina, foi jurado no 19h International Cartoon Contest – Haifa 2013 (Israel), prêmio especial Macedônia (2014-2015-2018), prêmio especial Armênia (2015), Trofeu Skal 2017. O principal segundo o cartunista foi ganho recentemente, Honorable Mention, the 14th Internacional cartoon contest Syria 2018: “Essa menção é dedicada ao povo Syrio que tem autenticidade cultural e uma resistência em promover o humor ao redor do mundo para o bem do povo Sírio e o fim do imperialismo norte-americano”. Talvez o mais importante tenha sido a sua participação na Bienal Internacional de Caricatura (2013-2014), onde conseguiu expor seu trabalho e de seus colegas de profissão de Forta 

 

Jornal do Comércio: No quadro “persistência da memória”, o pintor Catalão Salvador Dali, mostra uma paisagem com vários relógios se desmanchando, o que ele quis dizer ele com esse quadro? 

Cival Einsten: O tempo sempre está numa contagem regressiva, temos que aproveitar o tempo, sempre se remodelar, se reciclar.  

 

JCC: Salvador Dali era do movimento do cubismo, que utilizava formas geométricas para retratar a natureza. Já depois temos o dadaísmo, que rompe com os modelos tradicionais e clássicos. Como isso influenciou a pintura, as artes do século XX e lhe influenciou de alguma forma? 

Cival Einsten: sempre fui fã do trabalho dele. Ele começou sua amizade com Garcia Lorca que enfrentou a Guerra Civil Espanhola, lamentavelmente morreu no pelotão. Salvador Dali foi egocêntrico, surrealista ele criou um personagem a sua volta. Ele passou muito tempo retratando sua esposa. Apesar de não ser surrealista, admirava seu trabalho. 

 

JCC: Como foi encontrar sua identidade artística? 

Cival Einsten: Sempre desenhei, fiz muitos desenhos de super heróis, mas buscando minha identidade própria. Às vezes eu me perguntava, será que eu sou artista mesmo?Encontrei o Almeida Leite e o Descartes Gadelhas que viram meu trabalho e me deram as evidências de que eu estava no caminho certo. Admirava o Aldemir Martins que desenhava a mulher rendeira, retratava gatos, retratava o pessoal do Nordeste em geral. Gosto da mensagem que ele passava no seu trabalho. Eu tinha o desejo de encontrar o Aldemir Martins e estive no Teatro José de Alencar, quando entreguei um retrato que fiz dele, em um show do Belchior, um dos últimos shows, inclusive você estava presente. 

 

JCC: E os períodos iniciais foram realmente difíceis? 

Cival Einsten: Eu sempre fui inquieto, tinha uma mente perturbadora, tive que participar de um isolamento social e nas bibliotecas foi onde tomei do livro (vinho), que me fortaleceu muito como pessoa. A sociedade é padronizada, as pessoas sempre perguntam “meu filho o que você quer ser quando crescer?” “Artista”, “faça isso não, vá para a polícia federal”, mas foi assim que começou sabendo o que eu queria. Muita resistência, uma mistura de sentimentos, de amor, tristeza, alegria eu não tive uma vida fácil, artista no Brasil pena, é um processo meio que tartaruga. Para eu vender as minhas obras eram vendas isoladas. Nunca se chega à casa da namorada apertando a campainha, o pai dele vai dizer o que isso rapaz, mal chegou já quer arma a rede? 

 

JCC: Como foi que seu trabalho ficou reconhecido? 

Cival Einsten: Passei quatro anos sem resposta tentando e além de enviar meu trabalho eu me sensibilizava com as causas sociais, os menos favorecidos, negro, homossexual, com as minorias, o separatismo mundial, genocídio da Armênia, esses assuntos sempre mexeram comigo, eu sempre quis expor esse assunto nos meus cartuns. A soberania de todos os países, sempre tento enfatizar a paz, mas para isso temos que ter um ciclo social, político e econômico em funcionamento. O mundo está em transição com um falso populismo de direita, que quer acaba com os direitos trabalhistas. Nem tudo é trabalho às vezes também é coração e essas causas sensibilizam a gente.  

 

JCC: E esse prêmio da Síria de 2018, qual a importância? E os refugiados? 

Cival Einsten: atualmente esse prêmio tem uma relevância. Um povo que está lutando pela soberania nacional. Os EUA na pessoa do Donald Trump, são os promotores da guerra e da violência e sempre buscam interesses como o petróleo e eu dedico ao povo Sírio essa homenagem que recebi, enchem meu coração de sentimento e de lágrimas. Em relação aos refugiados, a imigração é uma situação complexa, existe o colonialismo do passado os franceses dominaram a África, ai quando um africano vai para a França, você vai condenar eles? E no passado? Existem países que não são reconhecidos pela Onu, que passa miséria. É uma causa humanitária e todos os países deveriam criar políticas públicas para o refugiado e não maltratados. Eles são como filhos abandonados, sem a mãe e sem o pai, é muito fácil é criticar difícil é dá de “mamar” a eles. São problemas, sociais, etnológicos, econômico e de identidade. 

 

JCC: Como artista consegue sobreviver em meio à crise? 

Cival Einsten: sobreviver no Brasil é uma mistura de privações, limites, mas o nosso povo sorrir e tem a molecagem, samba, se vira nos 30. Não existe mercado, existe uma ilha e você tem que fazer o que você gosta e sempre alguém vai apreciar sua arte. Para muitos tem outra atividade, a parte.  

 

JCC: O cartum surgiu em 1840 na Revista Punch fazendo paródia sobre os estudos dos afrescos do Palácio Westminster. Qual seria o papel do cartunista? É ironizar as coisas sérias do nosso dia-a-dia? 

Cival Einsten: o cartunista tem uma visão critica satírica e reflexiva e no meu ponto de vista tem de ter uma visão social. É importante ter uma atuação histórica, fazendo a leitura do país, mas existe uma diferença, a charge é atual e o cartum é atemporal, por exemplo, posso fazer sobre a Grécia antiga. O papel do cartunista é importante porque ele é um intelectual, que tem uma visão social, política e satírica e criativa. 

 

JCC: Laerte, Henfil, Angeli, Carlos Latuf, Jaguar, Glauco, Chico Caruso, Millor Fernandes, são nomes que fizeram história no cartum. Você se identifica com alguns deles? Fale-me sobre suas influências. 

Cival Einsten: Eu admiro todos eles, você só listou craques. Mas minha lista é ampla, tenho referências na Eslôvenia como Milan Alasevic, que reconheceu meu talento, publicou na ex-Iugoslávia, Sérvia, Kosovo. Gosto também do Mino, Klevisson Viana, entre outros. 

 

JCC: O que é preciso para ser cartunista? 

Cival Einsten: primeira coisa leitura, atualidades. A leitura na fonte sadia verdadeira, sem ser fake news. Sempre é bom pesquisar, ouvir um professor de história. O material que eu uso é tinta acrílica, a óleo, pastel, aquarela, nanquim, depende do trabalho que vou fazer. 

 

JCC: Qual a importância da classe artística, no movimento político brasileiro? Suas últimas charges são bem assíduas contra o governo Temer, contra atitudes distorcidas do juiz Sérgio Moro.  

Cival Einsten: Quem vive numa ilha tomando suco de limão gelado, com uma mulher bonita não vai reclamar de nada, se eu morasse na Suécia economicamente bem eu não falaria nada. Resolveram tirar o fósforo da caixa e tocar fogo e o povo começa a gritar. Aconteceu comigo, não quis fazer a negação da política, a primeira coisa que eu quis fazer foi impulsionar as informações da política. O Sérgio Moro eu não quero tomar partido pelo Lula, quem tiver seus crimes que pague, mas eu acho que o Sérgio Moro é um agente da CIA com interesse político, que esta combatendo um governo social, é tanto que ele está preocupado com o auxílio moradia dele do que os outros corruptos, que ele deixou para lá o caso Banestado, um desvio de 123 bilhões de reais nas conhecidas contas CC5 em 1996, quem pagou essa conta foi o povo. O povo vive aquele estado velho com o saco de feijão e as costas carregando no sol quente, se pegar dois ovos para comer é chibata nas costas, o povo está dormindo. O povo está no “boa noite” cinderela, só vendo Globo. Política é igual a trânsito você dirige para os outros, mas a elite escravocrata criou o MBL grupo fascista, “Mamãe falei”, é coisa de menino mimado, são grupos fascistas com a mentalidade de 40.  

 

JCC: E a onda de violência? 

Cival Einsten: É uma palhaçada, está havendo um bipolarismo paranóico e total perca de valores. Eu sou um cartunista e tenho opinião pessoal gosto da paz, e possamos chegar às eleições tranquilos, não sou obrigado a pensar igual a você, mas tenho que respeitar. Não posso praticar violência, minha solidariedade aos professores que estão sofrendo uma coisa que é Escola sem Partido, isso não existe, porque o pessoal de certo candidato, não vou falar o nome dele e escreve as frases deles. Como é Escola sem Partido, se eles entram na escola filmam os professores para complicar a vida deles? Olha a violência que estão praticando, o professor é um sofredor. Trabalha de manhã, tarde e noite. O ódio não resolve nada, o que resolve é a razão é o amor. Lei marcial não resolve. Acho que o Brasil deve repensar suas atitudes, com uma nova juventude, temos que para com essa de coxinha e mortadela. O ônibus do ex-presidente Lula levou tiro e não houve resposta e o caso Mariele não houve solução e quando jogam tinta no prédio da Carmem Lúcia logo vem às respostas, já sabem quem pintou. A tintura é presa, mas a bala está solta. 

 

JCC: Se não fosse artista o que você seria? 

Cival Einsten: Não tenho a mínima idéia talvez professor de história. O mundo está globalizado, eu sou um privilegiado, eu faço o que gosto. Cada um tem suas escolhas. Se você for pensar em dinheiro, paciência. Culturalmente somos atrasados. Ainda vem o STF querendo anular a carteira de artista, querem tirar a humanas, para termos a cabeça engessada. Não gosto de julgar ninguém. Eu estou falando o que eu acompanho não vi nada diferente. 

8 thoughts on “Entrevista com Cival Einsten (cartunista)

  • 1 de maio de 2018 em 15:42
    Permalink

    Conheço Cival Einstein muito antes de ser um grande cartunista. Sempre calado, tímido, estudioso, sempre buscando conhecimento. Rapaz esforçado e guerreiro. Fico muito feliz em ver que a cada dia vence. Você merece! !!!!

    Resposta
  • 1 de maio de 2018 em 15:43
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    Parabéns Cival Einsten por essa conquista.

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  • 1 de maio de 2018 em 16:00
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    Parabéns!!!! Reflito sempre com seu trabalho

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  • 1 de maio de 2018 em 16:11
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    Ótima entrevista com o artista Cival Einsten. Maravilhoso ver os reconhecimentos alcançados e merecidos. Destacando que sua inteligência e visão política colaboram para seu crescimento profissional. Fico feliz que apesar da realidade brasileira (que muitas vezes ñ valoriza a arte), Cival consiga importantes destaques dentro e fora do país. ☺

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  • 1 de maio de 2018 em 18:21
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    otima entrevista com um bom cartunista

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  • 3 de novembro de 2018 em 03:41
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    engraçado, após Corinthians x Chelsea ninguém escreveu nada aqui nesse espaço..
    PS: Antônio Conte pode usar peruca, mas Cuca é ridículo com cabelo implantado. Belo corporativismo. Objetividade passa longe aqui.

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  • 14 de abril de 2019 em 14:01
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    Excelente post, Parabéns! Até me inscrevi aqui, pra continuar recebendo seus artigos. Aproveita também e dá uma olhada no meu artigo sobre o tema, tem novidades atualizadas e muito boas por lá! Aguardo sua visita, não vai se arrepender. Abraço.

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